Por Valeria Guimarães
Salve, salve! A semana começou mais triste com a notícia da passagem do mito Mohammad Ali, uma figura inestimável para o esporte mundial, tanto pelos seus feitos no boxe quanto fora do ringue. De sua vida marcante, o que mais me tocou foi a sua recusa em participar da Guerra do Vietnã, o que lhe custaria um alto preço. Foi-se um grande nome do século XX, protagonista da história, notabilizado pelo seu desempenho no esporte, pela sua personalidade irreverente e pelas suas posturas políticas. Um grande esportista e cidadão, sem dúvida…
No post desta semana quero falar sobre uma experiência recente que vivi andando pela Praça Saens Peña, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. Andando não, correndo, porque estava atrasada para uma consulta médica. O logradouro não me é familiar. Não tenho o costume de frequentá-lo tanto por ser distante de meu circuito casa-trabalho-lazer quanto por querer evitar a tumultuada Rua Conde de Bonfim quando preciso fazer algo por aquelas imediações.
Mas há poucos dias fui parar numa clínica próxima à Praça Saens Peña para a realização de uns exames. Somente ali encontrei prazos decentes para meu atendimento. Valia a pena o deslocamento. Por causa disso, correndo no meio da Praça à saída do metrô, avistei com o faro de flaneur que não sai do historiador nem quando se está com toda pressa do mundo, um monumento que me chamou muita atenção. Uns minutinhos de apreciação não iriam me fazer perder a viagem, mas perder o exame, talvez.
Lá estava o meu personagem, acolhendo quem saía do metrô e todos os passantes.

Fonte: Wikipédia
Fiquei ali parada observando aquele monumento e vendo os transeuntes e frequentadores da praça admirando a minha admiração. Mas o que era aquilo? Uma escultura de um esportista? Lembro-me de ter visto poucas esculturas de esportistas em logradouros públicos no Rio de Janeiro, a cidade que esmera-se em ser reconhecida como uma cidade esportiva, haja vista os esforços realizados acima de qualquer racionalidade para os megaeventos esportivos que vem sediando nesta década.
O mais notável, sem dúvida era o Bellini, na entrada do Maracanã, lá posicionado desde 1960. Mas e aquele esportista ali? De quem se trata? O personagem deve ser velho conhecido dos tijucanos (talvez nem seja mais notado, de tão familiar), mas para mim era um verdadeiro mistério.
Uma voltinha em torno do pedestal e já estava parcialmente esclarecido: tratava-se de um monumento em homenagem ao rádio-ginasta e a seu mestre, Oswaldo Diniz Magalhães. Inaugurado em 1957, o monumento é composto por um pedestal de granito, encimado por um atleta em tamanho natural empunhando um bastão, o rádio-ginasta. Na face principal do pedestal lê-se “O pioneiro da ginástica pelo rádio”, com um perfil em bronze do mestre homenageado, conforme se vê na foto abaixo, provavelmente tirada no dia de sua inauguração.

Fonte: Blog O rádio faz história
A internet ajudou a desvendar o restante do mistério que se colocou para uma leiga como eu e fiquei com vontade de ir aos livros, saber mais: Oswaldo Diniz Magalhães foi um professor de Educação Física, nascido na Tijuca, que muito contribuiu para disseminar a ginástica, de forma pioneira, através de um programa de rádio. O atleta desconhecido representa os alunos, fãs de Oswaldo que, por gratidão e organizados sob a Associação de Rádio-Ginastas, ofereceram à cidade do Rio de Janeiro a homenagem pela passagem dos 25 anos do programa de rádio sob o comando do seu professor, num tempo em que não havia muitos recursos para a formação do profissional de Educação Física (ele próprio formou-se no Uruguai) e para a popularização do esporte.
O programa de rádio do Professor Oswaldo, com o nome de “Hora da Ginástica”, foi transmitido de 1932 a 1936, às 6 da manhã, pela Rádio Educadora Paulista. Com o grande sucesso, passou a ser transmitido pela Rádio Nacional, no Rio de Janeiro, cumprindo um importante papel social em todo o território brasileiro, com aulas de ginástica, cidadania e boa conduta. Sua filosofia relacionava os princípios do higienismo e do civismo que se coadunavam com o ideário estadonovista de formação do corpo sadio da nação.
O programa foi um sucesso e teve grande longevidade, tendo passado pela Rádio Mec e pela Rádio Globo, ficando no ar até 1983, por ininterruptos 51 anos! A idealizada família brasileira, branca, saudável e atlética, poderia se exercitar reunida, portando cada pessoa um bastão e seguindo as orientações do professor pelo rádio e por um mapa de exercícios comprado na banca de jornal. Na Praia de Copacabana, por exemplo, um grupo de rádio-ginastas exercitava-se sob as orientações de seu mestre, com o ouvido atento na latinha para seguir seus exercícios e aconselhamentos sobre o ideal de felicidade. Para além da ginástica, o programa estimulava a realização de atividades filantrópicas e propagava dicas de bem estar e harmonia com o corpo, a mente e a coletividade.
Oswaldo Diniz Magalhães é reconhecido como uma referência no desenvolvimento da Educação Física no país e quase atropelar na minha pressa o monumento que o homenageia e a seus seguidores , naquele dia tão corrido, em plena agitação da Praça Saeñs Pena, foi uma grata lição.
Até o próximo post!
Referências:
Acervo escultórico do Rio de Janeiro. Monumento a Oswaldo Diniz Magalhães. Disponível em: http://www.brasilcult.pro.br/rio_antigo2/esculturas/esculturas12.htm
O rádio faz história. Hora da Ginástica, com Oswaldo Diniz Magalhães. Disponível em: http://radionahistoria.blogspot.com.br/2015/01/hora-da-ginastica-com-oswaldo-diniz.html
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