Por Rafael Fortes (raffortes@hotmail.com)
Esta semana, discutimos no Laboratório Sport o capítulo “Industrialization and Sport”, de Wray Vamplew, professor emérito de Estudos do Esporte na University of Stirling. O texto integra o volume The Oxford Handbook of Sports History, organizado por Robert Edelman (University of California, San Diego) e Wayne Wilson (LA84 Foundation) e publicado em 2017. Trata-se de um ensaio que realiza um balanço bibliográfico da produção acadêmica em inglês sobre os temas mencionados no título, com ênfase nos EUA e na Grã-Bretanha.
Como destacou Luiz Carlos Sant’ana, o texto relativiza algumas relações que costumam ser tomadas como dadas nos estudos (históricos) do esporte. Por exemplo, as imbricações entre: a) esporte moderno e industrialização; b) disseminação do esporte e o espraiamento do império britânico no mundo. O fato de o autor ser um historiador econômico lhe permite lançar um olhar muito interessante e ainda pouco presente na maioria dos trabalhos de história do esporte – que, no Brasil, tem muito mais influência das histórias cultural e social (mais da primeira do que da segunda), conforme ressaltou Victor Melo.
A julgar por este capítulo, seria muito bom que o volume fosse logo traduzido e publicado no Brasil.
De minha parte, o que motivou estas breves notas foi considerar que o ensaio de Vamplew traz ao menos cinco contribuições para questionar/problematizar certos discursos e pressupostos sobre o esporte que persistem em alguns trabalhos sobre o tema na área de Comunicação – mas não só nela. O olhar de historiador econômico lhe dá elementos (e dados/conhecimento) para trabalhar por fora de categorias que são tomadas como dadas/estruturais quando, como alguns na Comunicação, se observa o plano das representações midiáticas como algo autônomo ou descolado em relação à vida concreta dos indivíduos, grupos, classes sociais e sociedades.
Eis as cinco contribuições:
1) As diferenças que existem entre um time, clube e/ou empresa esportiva e uma empresa comum.
2) A relação simbiótica de natureza diversificada – inclusive comercial – entre mídia e esporte desde, pelo menos, o finzinho do século XVIII (o texto fala de uma revista especializada publicada desde 1792!). Naquele momento, isto se restringia aos impressos (não custa lembrar: rádio, televisão e outros são invenções posteriores).
3) A fabricação de equipamentos para algumas modalidades atingiu graus de industrialização e comercialização em massa já no século XIX.
4) Dos pontos de vista comercial, econômico e profissional, há diferenças entre o modelo de organização em torno de clubes (Grã-Bretanha) e de franquias com proprietários (Estados Unidos).
5) Houve atletas recebendo para competir e obtendo recursos oriundos de fontes diversas antes mesmo da industrialização. A dicotomia amadorismo versus profissionalismo, muito presente nas primeiras décadas do século XX, dá conta de apenas uma parte das múltiplas e complexas relações entre esporte, mercado de entretenimento, lucro, trabalho e circulação de dinheiro.