As vésperas da Copa do Mundo de 1982 realizada na Espanha a cobertura da seleção argentina campeã do mundo que realizaria o jogo de abertura contra a Bélgica estava ofuscada por uma guerra real, batalhas militares e não metafóricas disputas futebolísticas, a defesa de uma nação com armas e não poeticamente com gols.
Diferentemente do que ocorreu durante o mundial anterior com o torneio realizado no país, o grande mecanismo operador de nacionalidade naquela conjuntura era a luta pela afirmação da soberania nas ilhas Malvinas.
Segundo a antropóloga Rosana Guber (2012), as mobilizações populares em torno da guerra contra os ingleses pelo domínio das ilhas se assemelharam as manifestações nacionalistas ocorridas durante a realização do torneio na Argentina em 1978.
“Obviamente diferia del cuadro del 30 de marzo y se asemejaba, más bien, a los festejos de la coronacíon argentina en el Mundial de Fútbol de 1978. Los asistentes se reunían espontaneamente o marchaban desde las cercanias asitios públicos, monumentos y demás lugares simbólicos, transeuntes, famílias, compañeros de trabajo, gruposs de amigos y estudiantes (Clarín, 3/4/82; La Nacíon, 8/05/82) blandían banderitas argentinas de plástico que vendían los “cuentrapropistas” sector que habia crescido en esos años. Los acompañaban automovilistas y tocando bocinas y cantando “Argentina! A diferencia de otros tiempos, a celebracíon promovida por el gobierno denotaba la falta de peligro, vigilância y confrontacíon. No había enemigos a la vista”entre nosotros”. (2012, p.47)
A guerra declarada pela ditadura militar comandada por Leopoldo Galtieri teria sido um elemento de unificação nacional durante os 74 dias sendo considerada em um primeiro momento segundo Guber uma “guerra justa” por grande parte da população. Entretanto com a humilhante derrota e a morte de cerca de 750 jovens soldados após o conflito a guerra passou a ser vista como absurda por boa parte dos argentinos.
No caso das reportagens sobre o conflito bélico teria ocorrido a manipulação constante de informações e estratégias de deturpação dos próprios fatos históricos a partir de duvidosas fontes. Segundo Urlanovsky (2011):
“El 2 de abril de 1982 los argentinos tuvieron la triste oportunidad de leer en sus diarios unos titulares increíbles: “ Tropas argentinas desembarcan en Malvinas” informaba, por ejemplo, Clarín. Lo que sucedío a partir de esa instancia – que no concluye con la finalizacíon de las acciones bélicas- se corresponde com uno de los momentos más horrorosos del país y del periodismo local durante el siglo”. (2011, p.130)
Pode-se perceber que mesmo na Revista El Gráfico, dedicada exclusivamente aos esportes e com uma cobertura direcionada para o Mundial da Espanha além de outras modalidades, a preocupação com a guerra das Malvinas está presente de forma implícita. O editorial do N.3270 por exemplo que possui o seguinte lema “Cada un en lo suyo defendiendo lo nuestro” apresenta a equipe de jornalistas da seguinte forma:
Algo más que un slogan.
Una tomada de conciencia. Un compromiso. La responsabilidad de dar lo mejor de nosotros mismo en el trabajo cotidiano.Allí donde el deber lo imponga. Y con las armas de todos los dias. Porque una herramienta también es un fusil. Como lo puede llegar a ser la raqueta de Vilas debatiéndose en Roland Garros frente a la juventud de un fenómeno que surge o un volante girando a todo vértigo en el Grande Premio “Islas Malvinas” que supimos compartir con dez solidários pilotos de Latinoamérica. Un arma también es una máquina de escribir, una cámara fotográfica, un grabador, una línea de telex y la opinión comprometida de una revista deportiva. Por eso EL GRÁFICO asumió el compromiso de estar allí, donde la nota lo requiere y los lectores lo esperan. En la habitación de Miami donde Palma ve los guantes esperando su próxima pelea para defender su condición de monarca del mundo. En las canchas de Ferro y Quilmes, donde se jugaron las vibrantes alternativas de los primeros partidos por las semifinales del Campeonato Nacional. Y especialmente en España 82 con el 12 Campeonato Mundial de fútbol para estar junto al selecionado argentino que espera el momento de inaugurarlo. Hasta allí llegamos con nuestro equipo dispuesto también a jugarse el Mundial. (EL GRÁFICO, N.3270 – 08/06/1982, P.3)
As diversas alusões à metáforas bélicas como “uma ferramenta também é um fuzil” ou “uma arma também é uma máquina de escrever, um gravador, uma câmara fotográfica, etc” denotam o a atmosfera pesada da guerra e o envolvimento que os jornalistas da revista e o próprio país estavam com o conflito armado.
A ideia de defesa da pátria nos gramados desta vez se limita a esfera esportiva antes do início da Copa, visto que a realidade se materializava de forma concreta com os confrontos e as mortes de jovens argentinos no pacífico sul. As corriqueiras metáforas do futebol como guerra ou espelho da nação sucumbem à brutalidade da batalha real, mas continuam tendo certa ressonância no discurso apresentado pela revista.
Porém apesar do editorial da edição supracitada proliferar referências à luta armada, paradoxalmente a mensagem direcionada a seleção nacional “de todos los hinchas argentinos” contidos na últma página do mesmo número remete a honra, orgulho dos argentinos e a paz:
– Para que recuerden a cada instante, que ustedes son Argentina, a cada instante, siempre en la cancha y fuera de ella.
– Para que comprendan que el privilegio de vestir esta camisa exige responsabilidad, disciplina, respeto por los compañeros, por los rivales y por lo público.
– Para que el sentimiento de orgullo, amor próprio y verguenza no desaparezca en ningún caso de sus almas.
– Para que sepan que miliones de niños están viendo en ustedes un modelo a seguir.
– Para que los ojos del mundo que los observan sepan que son hijos de un pueblo que ama la paz.
– Para que la habilidad y el talento sigan siendo los fundamentos del êxito.
– Para que mucho más allá del superprofesionalismo impere en ustedes la lealtad y el juego limpio.
– Para que haya un solo perdedor: la violencia.
– Para que llegue hasta vuestros oídos aquel sonido incomparable dde aliento que llenó las inovidables jornadas de Rosário Central y River Plate.
– Para que ganen aun perdiendo.
– Para que sígan siendo campeones mundiales y en regreso encuentren un cielo en paz (EL GRÁFICO: N. 3270 -08/06/1982, P.9
A preocupação com a conduta da equipe, o comportamento civilizado e o “fair play” parecem remeter a imagem do país no exterior através da seleção de futebol. O fato do conflito nas Malvinas estar se encaminhando para o seu desfecho talvez tenha influenciado também o teor desta mensagem que termina clamando por um retorno vitorioso de uma equipe em uma Argentina que não esteja mais em guerra.
A ideia de que os argentinos não devem perder seu orgulho próprio em nenhuma circunstância, que são pacíficos e que a violência deve ser a grande perdedora, pode ser interpretada como uma mensagem pacífica, mas que também tem um conteúdo nacionalista dentro do contexto político em que se encontrava o país.
A seleção argentina estreou sendo derrotada no Estádio Camp Nou pela Bélgica no dia 13 de junho, porém a mais dolorosa derrota para o povo argentino que abalaria definitivamente as estruturas do Processo foi a rendição das tropas um dia depois que provocaria também a saída do ditador argentino com a população aos berros “ Leopoldo borracho, mataste los muchachos”.
Referências:
Guber, Rosana. Por qué Malvinas: de la causa nacional a la guerra absurda. Buenos Aires: Fondo de Cultura Econômoca, 2012.
Urlanovsky, Carlos. Paren las rotativas 1970-2000. 2.Ed. Buenos Aires: Emece,2011.