André Alexandre Guimarães Couto
Olá, caras (os) leitores:
Hoje, foram celebrados 70 anos de Fórmula 1, no lendário e clássico Autódromo de Silverstone (Inglaterra). Na primeira colocação terminou justamente um dos pilotos mais talentosos da sua geração: o holandês Max Verstappen da RBR, também conhecida como a Red Bull Racing (a mesma que foi tetracampeã com o alemão Sebastian Vettel, entre 2010 e 2013).
Além de mostrar força diante da favorita e quase hegemônica Mercedes (de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas), a Red Bull ganha hoje aquilo que mais investe: na sua marca empresarial.[1]
Criada pelo empresário tailandês Chaleo Yoovidhya, a bebida, um energético a base de taurina, deu origem a uma mega empresa de energy drink que atua em vários campos do esporte (principal ação de marketing e de aumento do valor da empresa). De futebol a esportes de velocidade (como a já bem experiência bem sucedida na Fórmula 1, além da motovelocidade, corrida de aviões e equipe na NASCAR), passando por outras modalidades como salto em altura, hóquei no gelo, base jumping, esportes na neve e tantas outras.
Boa parte deste sucesso deve-se-se ao marketeiro austríaco Dietrich Mateschitz que fez uma parceria com o criador da bebida em 1987. De acordo com os indicadores da Bloomberg, o austríaco é o homem mais rico da Áustria com um patrimônio acumulado em aproximadamente 12,4 bilhões de dólares.
Só no Brasil, em 2019, ainda com a economia nacional patinando na tentativa de recuperação, o crescimento da venda do energético acumulou uma alta de 30%, de acordo com o site de economia e investimento 6 Minutos.
E falando de nosso país, a empresa entrou de vez no campo esportivo nacional ao assumir o Departamento de Futebol do Bragantino, time do interior paulista e que a partir daí, tornou-se o campeão brasileiro da Série B, já no primeiro ano da parceria .
No Campeonato Paulista de 2020, o time fez a melhor campanha na primeira fase, mas caiu nas quartas de final para o Corinthians.[2] Agora na Série A do Brasileiro, o time e a empresa terão ainda mais visibilidade, mesmo em um momento de afastamento das torcidas por causa da pandemia do COVID-19, que já ceifou mais de 100 mil vidas por aqui.
Interessante é que a maior parte das empresas de comunicação se refere ao time apenas como Bragantino e não como seu nome oficial Red Bull Bragantino, evitando propaganda gratuita em seus respectivos veículos jornalísticos.[3] Cabe lembrar que o modus operandi na cobertura esportiva brasileira para outras modalidades como vôlei e basquete não impedia até agora de tratar as equipes pelos nomes das empresas patrocinadoras / proprietárias. No futebol, talvez falte ainda o aumento destas experiências. A saber.
Com investimento de 45 milhões de reais em 2019, a previsão de gastos para 2020 é de 200 milhões de reais, um orçamento raro mesmo na Série A do Brasileiro.
A ideia da empresa é repetir o sucesso alcançado pela Red Bull em outros países como a própria sede na Áustria (quando comprou o Salzburg, tornando-se RB Salzburg desde 2005); Alemanha (adquirido em 2009 por meio do clube SSV Markranstädt e tornando-se o atual RB Leipzig) e Estados Unidos (trajetória criada em 2006 ao controlar o MetroStars e o renomeando para New York Red Bulls).
Cabe lembrar que o RB Leipzig é um dos 8 clubes europeus a ainda participar do atual e maior campeonato de clubes (pelo menos do ponto vista econômico) do planeta: a UEFA Champions League. Nesta semana, no dia 13/08, a equipe vai enfrentar o Atlético de Madrid nas quartas de final em jogo único.[4] O time se classificou para esta etapa depois de ter ficado na primeira colocação na fase de grupos (a frente de Lyon, Benfica e Zenit) e eliminado nas oitavas de final o Tottenham (nada menos do que o vice campeão da Champions em 2019).
O marketing da empresa, que re(investe) entre 30 a 35% de todo o seu faturamento na expansão da marca explica porque as cores e escudos das equipes de futebol são praticamente os mesmos. A identidade empresarial por meio da sua comunicação visual tem sido ao longo dos anos uma caraterística forte da Red Bull.

Figura 1: Escudo atual do Red Bull Bragantino.
Fonte: https://www.lance.com.br/futebol-nacional/oficial-red-bull-bragantino-lanca-novo-escudo-uniforme-para-2020.html
Para além do futebol, mas ainda no campo esportivo, a Red Bull reforça sua marca com práticas esportivas voltadas principalmente para a velocidade, propondo apresentações de bicicletas, motos, carros e aviões de corridas em muitos lugares do mundo, desde aquele com pouca representação no cenário esportivo mundial.
Outro viés da empresa é a promoção de eventos esportivos que lançam desafios importantes e que estão relacionados com uma geografia local, sejam modalidades motorizadas ou não. Espaços públicos urbanos ou naturais que podem se associar com a proposta da empresa: o alcance de um público jovem, comprometido com energia e de vencer desafios. Não por acaso a empresa tem uma linha de moda (camisetas, agasalhos, acessórios) voltada para um público mais jovem e que reforça as características da marca. O interessante é que a linha segue a identidade de cada evento ou equipe patrocinada pela Red Bull.[5]
Desta forma, reforço da marca, energia (lembremos que a empresa é de energéticos líquidos), velocidade, juventude, desafios e uma dose de perigo transitam na lógica empresarial da Red Bull, tendo o campo esportivo como o espaço adequado para os seus investimentos.
Poderíamos citar vários exemplos em diversos países ao longo dos últimos anos, mas fiquemos com o Líbano, palco de uma grande tragédia nesta semana.
Em 2016 a empresa realizou uma apresentação na área portuária de Beirute, o mesmo local de explosão por conta de armazenamento de nitrato de amônia, uma área de grade importância econômica e social da cidade.

Figura 2: Red Bull no Líbano
Fonte: Rodrigo Berton/Grande Prêmio e Red Bull Content Poll / Grande Prêmio. Disponível em: https://www.terra.com.br/esportes/automobilismo/formula1/showrun-da-red-bull-e-projeto-para-gp-do-libano-a-f1-na-area-atingida-por-explosao,0edc5baf074112420f3e043d5efc56bbp65syrbr.html
O vídeo da apresentação na área portuária pode ser visualizado aqui:
Em 2019, a Red Bull levou uma das etapas do campeonato mundial de saltos em penhasco justamente para o Líbano, tanto na modalidade masculina como na feminina, como podemos observar abaixo:
https://www.redbull.com/br-pt/videos/red-bull-cliff-diving-melhor-salto-feminino-libano
Tornar-se cada vez mais global inspira a empresa a investir em países diversos, mesmo aqueles que passam por graves crises políticas, econômicas e sociais, como no caso do palco da tragédia recente.
A identidade da marca atravessa continentes como toda boa multi e transnacional, mas desafia o próprio campo esportivo em sua inventividade e imaginação na criação de eventos e práticas esportivas. Alguém saberia dizer que tipo de esporte estamos vendo na imagem abaixo?

Figura 3: Evento Red Bull. Fonte: http://www.estudioroxo.com.br/wp-content/uploads/post-blog-estudio-roxo-red-bull-3.jpg
Quais são os limites desta relação de mega empresas do meio esportivo nas relações políticas com determinados países? Como os veículos de comunicação podem ser impactados com a cobertura midiática de determinados eventos esportivos? E há caminhos abertos para uma hegemonização de equipes patrocinadas/controladas por estas empresas? Outra: o campo esportivo, por meio da proposição/recriação de novos eventos irá transformar-se de forma orgânica mais rapidamente com estas empresas?
Questões macro que não ousamos in responder neste brevíssimo post, mas que nos colocam na ordem do dia para o estudo dos esportes. A relação empresarial não pode sobremaneira ser ignorada.
Forte abraço e toda solidariedade ao povo libanês.
P.S.: Para quem não identificou do que se trata na Figura 3, aí vai: é uma etapa da National Red Bull Flugtag, realizada em várias cidades norte-americanas. Basicamente, é uma competição de “máquinas voadoras” temáticas, estilizadas e sem motor, e que devem ficar o maior tempo possível no ar. Loucura? Não se tiver asas da Red Bull.
Notas:
[1] Cabe lembrar que a Red Bull também é proprietária Scuderia Toro Rosso (derivada da Minardi, comprada em 2005). Em 2020, uma equipe foi renomeada para a Scuderia AlphaTauri.
[2] Como prêmio de consolação, ao ganhar o Troféu do Interior, torneio paralelo disputado pelas equipes do interior e que não avançaram para os semifinais do Paulista.
[3] Apenas como exemplo, basta pesquisar a página do time no site GE (antigo nome do Globo Esporte).
[4] Após a reformulação do calendário e local pela UEFA por conta da pandemia de COVID-19.
[5] Para maiores informações, navegar pelo site https://www.redbullshop.com/en-de/.
Referências:
BRASIL puxa crescimento global da Red Bull com alta de 30% nas vendas em 2019. Disponível em: https://6minutos.com.br/negocios/brasil-puxa-crescimento-global-da-red-bull-com-alta- de-30-nas-vendas-em-2019 / . Acesso em: 09/08/2020.
CASTRO, Luiz Felipe. Red Bull Bragantino: clube-empresa promete voar em 2020. Disponível em: https://veja.abril.com.br/especiais/red-bull-bragantino-clube-empresa-promete-voar-em-2020/ . Acesso em: 09/08/2020.
COMO a Red Bull levou o marketing esportivo ao extremo. Disponível em: https://www.estudioroxo.com.br/agencia-branding/como-a-red-bull-levou-o-marketing-esportivo-ao-extremo/ . Acesso em: 09/08/2020.
GOMES, Ricardo. Com a ascensão do Red Bull Bragantino, todos os times jogam na elite de seus países . Disponível em: https://www.redbull.com/br-pt/times-red-bull-pelo-mundo . Acesso em: 09/08/2020.
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