SKATE, HISTÓRIAS PLURAIS

Leonardo Brandão – leohst@hotmail.com

            Chimamanda Adichie é uma mulher negra, escritora nigeriana e feminista. Numa palestra cujo o título é “The danger of a single story” – ou “O perigo de uma história única” – ela nos alerta para a armadilha, quase sempre presente, de cairmos numa explicação simplista dos acontecimentos. Ela fala, evidentemente, da África, continente que teve sua história contada pelo colonizador europeu. Entretanto, pondera a escritora: tantas outras vozes são possíveis de se escutar sobre a África! Nós podemos partir, por exemplo, do ponto-de-vista dos próprios africanos (e lembrando que os africanos são diversos, logo, teremos histórias também diversas!).

            Para ela, é impossível falarmos de uma história única; se ela existe, é preciso questioná-la, problematizá-la e pesquisar para se escrever outras histórias, com outros olhares, personagens, regiões etc. Em suas palavras, ela reitera que “quando rejeitamos a história única, quando nos apercebemos de que nunca há uma história única sobre nenhum lugar, reconquistamos uma espécie de paraíso”.

            Acerca da História do Skate, poderíamos perguntar: Que espécie de paraíso poderíamos recuperar ao negarmos uma história única do skate? Ao questionarmos, por exemplo, a verdade de uma versão que se quer oficial, e que por repetição, nos faz acreditar que o skate teria uma história que iria de sua origem como brincadeira de criança e chegaria, na maturidade, a ser um esporte Olímpico? Por que haveria, necessariamente, essa linha evolutiva na história do skate? A quem interessa contar esse tipo de história? Pois todo mundo já ouviu – pelo menos nos veículos da mídia hegemônica – histórias como: “O skate veio do surfe”, ou ainda: “era uma brincadeira que virou esporte”, ou aquela famosa frase: “o skate se tornou um esporte radical”.

            Tais ideias e conceitos, de tanto aparecer e se repetir, podem até mesmo ganhar a aparência de naturalidade, de obviedade. Mas cabe aos historiadores, entretanto, estranhar aquilo que nos fazem querer crer, neste caso, a própria ideia de um desenvolvimento linear da prática do skate. Pois se o skate é (e sempre foi) uma ideia, essa ideia guarda em si outras formas de interpretação e significados. A título de exemplo, podemos aqui recuperar o que disse Ian MacKaye, vocalista da banda Fugazi, sobre o início de seu envolvimento com o skate nos Estados Unidos:

Como sempre nada estava acontecendo e eu resolvi me tornar um skatista. Skateboard não é um hobby, não é um esporte. Skateboard é uma maneira de aprender a redefinir o mundo a sua volta. O jeito de como sair de sua casa, se conectar com outras pessoas, e olhar o mundo através de um ponto de vista diferente!

            No skate, as histórias são múltiplas, seus agentes são complexos, suas tramas se desenvolvem por caminhos diversos e, não raras vezes, conflitantes. A história de sua organização como um esporte não apaga outras tantas histórias que, ao lado dos eventos oficiais, dos calendários e das competições, imprimem à prática um sabor especial.

Para saber mais:

BRANDÃO, Leonardo. Para além do esporte: uma história do skate no Brasil. Blumenau: Edifurb, 2014.

BRANDÃO, Leonardo. A cidade e a tribo skatista: juventude, cotidiano e práticas corporais na História Cultural. Dourados: Ed. UFGD, 2011.

 

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