Para Fernando…

Fernando

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“A Desalambrar

Daniel Viglietti

 

Yo pregunto a los presentes

Si no se han puesto a pensar

Que esta tierra es de nosotros

Y no del que tenga más

 

Yo pregunto si en la tierra

Nunca habrá pensado usted

Que si las manos son nuestras

Es nuestro lo que nos den

 

A desalambrar, a desalambrar

Que la tierra es nuestra, es tuya y de aquel

De Pedro y María, de Juan y José”

 

—xxx—

Tudo passa rápido, e de repente tudo é história…

Há muito tempo atrás, ainda estava fazendo meu mestrado, não sei bem como, caiu em minhas mãos um boletim dedicado a discutir “ocio, recreación y tiempo libre” produzido por uns colegas colombianos. Naqueles tempos anteriores à internet, escrevi uma carta ao editor a fim de me apresentar e manifestar o desejo de manter contato.

Meses depois, recebo a resposta e um pacote com todos os números do boletim. A troca foi intensa e generosa, mas ao fim, não conseguimos manter o contato. Tudo era mais difícil naqueles tempos.

Anos depois, fui a Bogotá, convidado por Esperanza e Carlos Osorio para fazer uma conferência sobre lazer. Ao final de minha fala, chegou até mim um colega e se apresentou: “Olá, sou Victor Molina, mantivemos contato por carta há alguns anos atrás”.

Aquela trama do destino me encantou e de pronto conversamos muito. Meses depois, ele me convidou para uma conferência em Medellin. Quem me buscou no aeroporto foram dois outros colegas, Saul Franco, com seu carro apelidado de “El Gran Colorado”, e José Fernando Tabares. Não podia imaginar que dali sairiam milhões de projetos e uma amizade preciosa. Para ser sincero, comecei a desconfiar pela noite, quando rimos muito, conversamos muito, compartilhamos muitas ideias e tomamos muitas cervejas, muitas “Club Colômbia”. Parecia que nos conhecíamos há décadas!

Havia um fermento forte a nos unir: a ideia de que precisamos combater os privilégios para construir um mundo mais justo e menos desigual; e isso passava por uma América Latina livre, soberana e fraterna.

Não era um sonho original. É um sonho de gerações. Mas só se propaga porque há elos da corrente. E assim nos pensando, como elos da corrente, fizemos muitas coisas juntos, muitos projetos, sonhamos e realizamos juntos, e nos divertimos, confraternizamos. Muita gente mais se envolveu nessa história que começa com uma ocasionalidade do destino.

Hoje, recebi a notícia da morte de Fernando. Fazia tempo que não nos víamos e nem nos falávamos. Coisas da vida. As lágrimas não cabem no meu peito, não param de brotar dos meus olhos. Lágrimas de tristeza, sim, mas também de felicidade por tudo que vivemos juntos. Tive o privilégio de desfrutar do companheirismo e das reflexões de um dos líderes dos debates sobre o lazer na Colômbia e na América Latina. Tive o privilégio de compartilhar momentos lindos com esse cara bem-humorado, amoroso, terno, mas também duro no debate e firme nas reflexões. Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás…

Irmão querido, descansa em paz. Obrigado por tudo. Sua missão foi cumprida. Nós seguiremos na missão até o dia de nos reencontrarmos em outro plano. Até lá, saiba que você permanecerá em nossas lembranças e corações.

Victor Melo

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