Por Victor Andrade de Melo
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Previsto originalmente para 2019, a fim de comemorar o bicentenário do surgimento da Vila Real da Praia Grande (1819), localidade que, em 1834, seria elevada à condição de cidade, capital da Província do Rio de Janeiro e ganharia o nome atual, em 2020 foi lançado o livro “A Vida Sportiva de Nichteroy”, uma edição da Niterói Livros/Fundação de Arte de Niterói.
O intuito do livro é apresentar, ao grande público, os resultados de uma investigação sobre as pioneiras experiências com o esporte estruturadas na antiga capital fluminense – também chamada de Cidade Sorriso, por sua hospitalidade, e Cidade Invicta, por sua importante participação na Revolta da Armada.
A crise pandêmica impediu que pudéssemos lançar e dar maior visibilidade ao livro. Assim sendo, estou disponibilizando a versão em pdf para que os interessados possam o acessar.
Logo abaixo, pode-se baixar o livro. Mais abaixo, a apresentação da obra.
Meus agradecimentos aos que tornaram possível a publicação desse livro.
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* Apresentação do livro
É bem possível que muita gente de Niterói, e mesmo de outras cidades, conheça ou ao menos tenha ouvido falar do Grupo de Regatas Gragoatá e do Clube de Regatas Icaraí. Mas quantos sabem que o Barreto teve uma notável agremiação de remo, o Clube de Regatas Fluminense? Os mais antigos, a propósito, vão lembrar das agremiações de futebol desse bairro, o Byron e o Barreto Futebol Clube, times que disputaram ferrenhas partidas. Mas quem saberia que a primeira sociedade esportiva da região foi dedicada ao atletismo, o Clube Atlético Brasileiro?
É possível que alguns saibam da importância do Rio Cricket para a cidade e para o desenvolvimento do futebol em nosso Estado, mas saberia alguém que ali nas suas redondezas esteve instalado um clube de rinhas de galo? E que Niterói teve uma agremiação dedicada às corridas de pombo? E que muitas arenas de touradas se espalharam pelo Centro, Barreto e São Francisco?
Saberia você, estimado(a) leitor(a), que antes dos notáveis resultados obtidos pelos atletas de iatismo, que tornaram Niterói a cidade com maior número de medalhas olímpicas do País nesta modalidade, alguns remadores já tinham deixado suas marcas vitoriosas, notadamente aqueles que ganharam o primeiro campeonato melhor organizado desse esporte, disputado em 1898? Que a embarcação vitoriosa nessa contenda, a Alpha, existe até os dias de hoje, preservada no Grupo de Regatas Gragoatá? Que a antiga capital fluminense tem quase uma dezena de clubes esportivos centenários?
Essas são algumas informações que queremos apresentar neste livro, um dos produtos do projeto “A vida sportiva de Nictheroy”, que tem por intuito investigar, no século XIX e nas décadas iniciais do século XX, as experiências com o esporte estruturadas na antiga capital fluminense – também chamada de Cidade Sorriso, por sua hospitalidade, e Cidade Invicta, por sua importante participação na Revolta da Armada.
Esse recorte temporal tem em conta discutir as pioneiras iniciativas esportivas, entabuladas de forma articulada com a estruturação de um mercado de entretenimentos na cidade. 1919 é o ano utilizado como referência final por uma questão simbólica: marcar os 100 anos da elevação da antiga Bandas D’ Além à condição de Vila Real da Praia Grande.
O projeto tem duas faces. Uma delas é de natureza acadêmica, a comunicação dos resultados assumindo a perspectiva de uma pesquisa histórica stricto sensu, isso é, desenvolvida à luz dos conhecimentos da disciplina História. Os produtos que espero lançar são artigos a serem publicados em periódicos científicos, como é o caso de dois
já aprovados: “Forjando a capital: as experiências dos primeiros clubes de turfe e remo de Niterói (décadas de 1870 – 1880)” (aceito pela revista Tempo, do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense) e “O espetáculo que educa o corpo: clubes atléticos na cidade de Niterói dos anos 1880” (aprovado pela Cadernos de História da Educação, da Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação).
A outra face é de divulgação científica. O intuito é entabular iniciativas no sentido de apresentar para um público ampliado os mais notáveis fatos do esporte, buscando dar uma contribuição à construção da memória de Niterói. Além deste livro, pretende-se organizar uma exposição, bem como produzir material audiovisual. Tenho em conta que a mobilização e a preservação da memória têm mesmo uma função política, na linha do que sugere Costa (2014) ao discutir a importância que pode ter lançar um olhar sobre o centro histórico da cidade: “Ao provocar a reflexão dos cidadãos quanto a seu espaço de vida, de rotina, e resgatar a memória social e a autoestima, acaba-se de alguma forma favorecendo a reapropriação do espaço urbano e de seu tecido mais antigo. Além disso, promovem-se a investigação dos bens patrimoniais e sua repercussão no imaginário local, contribuindo para a criação de imagens, identidades e espaços de existência e felicidade para a cidade e seus cidadãos” (p. 11).
Em comum nas duas faces do projeto há um pressuposto: o estudo do papel desempenhado pelo esporte na história de Niterói é tema de interesse em função de a cidade ter passado por importantes processos de urbanização e de assunção de uma condição de capitalidade. Os fatos, personagens, conquistas, fracassos, realizações esportivas foram usualmente mobilizados no sentido de forjar uma identidade local, não poucas vezes representados como indicadores do valor dos habitantes e do sucesso de determinados projetos políticos.
Tendo em conta que se trata de um livro de difusão destinado a um público amplo, foram adotadas características que fogem das de um trabalho científico stricto sensu. Não foram utilizadas notas de rodapé. As referências no corpo do texto somente foram inseridas no caso de citações literais; a bibliografia indica o vasto material consultado.
A ideia é apresentar uma informação direta, à moda de um inventário (ainda que com alguma tinta de análise/interpretação), sustentada em evidências coletadas em jornais e livros, apresentada com o suporte de ilustrações e mapas.
A trajetória do esporte em Niterói não é tema desconhecido. Ele foi tratado ocasionalmente nas obras de importantes historiadores e memorialistas da cidade, tais como Emmanuel de Macedo Soares, José Mattoso Maia Forte, Carlos Wehrs e Everardo Backheuser. Foi também abordado no que tange a experiências específicas na magnífica produção de Vitor Iorio e Patrícia Iorio (“Rio Cricket e Associação Atlética: mais de um século de paixão pelo esporte”), Maria Cristina de Azevedo Mitidieri (“100 anos do Rio Yacht Club: um olhar museológico sobre a construção de um patrimônio”), Emmanuel de Soares Macedo (“Cem anos de regatas: álbum comemorativo do centenário do Clube de Regatas Icaraí”) e Brian Higgin, Claudia Swan, Cristina Mitidieri e Patrícia Ferreira (“100 anos do Rio Yacht Club Sailing”). Além disso, de forma mais genérica, foi descortinado no verbete de Mário Cantarino Filho (“Clubes Esportivos e Recreativos em Niterói”) e no livro organizado por Alfredo Gomes de Faria Junior e Eduardo Vilela (“Atlas histórico e geográfico do esporte e lazer de Niterói”). Vale citar ainda o trabalho de Orlindo Gomes de Farias no resgate de informações sobre o futebol, disponibilizadas na rede social “Retratos do Futebol Fluminense”.
A propósito, muitas imagens neste livro utilizadas foram encontradas em redes sociais dedicadas à história de Niterói: Centro de Memória Fluminense/UFF (no qual trabalhei também no esplêndido acervo), Olhar Nictheroy, História de Niterói, Nikity das Antigas.
Este livro, contudo, tem alguns diferenciais: a) trata com mais profundidade os primeiros momentos do esporte na cidade; b) aborda as mais distintas experiências de modalidades e clubes, inclusive alguns fatos pouco conhecidos ou práticas não stricto sensu consideradas esportivas, mas que com o fenômeno dialogaram; c) se insere num conjunto mais ambicioso de ações. Ao dizer isso, obviamente, não acho que esta obra substitua as outras. Muito pelo contrário, procura a elas se somar, reconhecendo seu valor e sua importância.
A propósito, devo de pronto assumir que, até mesmo pelas próprias características do livro, são superficiais algumas abordagens no trato de certos temas. Parte desses limites espero serem sanados na produção de caráter acadêmico. Devo, de toda forma, de antemão, pedir desculpas por qualquer imprecisão. Espero que se tenha em conta que sou um recém-convertido a Niterói.
Carioca convicto, daqueles que se derramam de amor por sua cidade, estudioso do Rio de Janeiro há mais de 20 anos, sempre leal, jamais fui fiel a minha terra. Já declamei e registrei minha paixão por duas outras localidades que também investiguei e bem conheço, Lisboa – a capital de Portugal, e Mindelo – a capital da Ilha de São Vicente, Cabo Verde. Agora, faço o mesmo com Niterói.
Curiosamente, sempre estive perto dessa cidade e nunca a tinha olhado com mais cuidado, mesmo que nos meus estudos frequentemente surgisse algo a respeito dela, como se a chamar a atenção do pesquisador obtuso que não consegue ver o óbvio. Uma série de coincidências acabou por me mostrar o óbvio: a beleza e a trajetória incomum da terra de Arariboia.
Ao olhar com maior acuidade para esse lado da Baía de Guanabara, passei também a encarar distintamente a história do Rio de Janeiro, a entendendo como parte de uma experiência compartilhada, uma “experiência guanabarina”, a experiência de duas cidades-irmãs que jamais vão se separar porque celebram diferenças e similitudes, especificidades sim – claras e óbvias – mas também um passado em comum.
O processo de investigação que conduziu a este livro me deixou ainda mais encantado por Niterói, de tal maneira que o produzido é tanto a manifestação de uma nova paixão por uma cidade quanto do desejo de contribuir, de alguma forma, para que não se esqueça o passado dessa terra, dessa gente, desse povo. Desejo muito que cada niteroiense se veja um pouco nessa obra, e que os de fora sintam mesmo alguma inveja e curiosidade sobre a Cidade Sorriso.
Devo agradecer aos que mais ajudaram a tornar realidade este livro. Juliana Carneiro é uma nova amiga de décadas. Com ela divido a aventura de uma tese de doutorado e o risco de pensar num mundo melhor. Ela me abriu as portas da cidade e foi estímulo constante. André Diniz foi entusiasta desde o primeiro momento, compreendendo essa iniciativa como parte de seus compromissos com a cultura. Sua generosidade a todo momento enterneceu meu coração. Sílvia Borges foi companheira fundamental para viabilizar com carinho esta obra. José Antônio, do Centro de Memória Fluminense/Universidade Federal Fluminense, foi parceiro atento e entusiasta. A O Fluminense e à Biblioteca Nacional agradeço pela cessão das imagens, bem como a Leonardo Bertolossi pela pesquisa de imagens. Aos antigos pesquisadores de Niterói, da história da cidade e da história do esporte, devo muito pelas lições que me permitiram trilhar um caminho mais seguro. À Fundação de Arte e à Prefeitura de Niterói, agradeço pelo apoio para execução do projeto. Espero que faça jus ao que merece a cidade. Nenhum deles é, obviamente, responsável pelos deslizes e equívocos que podem ter essa obra.
A você, leitor(a), agradeço desde já a companhia. Sentir-me-ei pleno se você, ao ler este livro, tiver ao menos 50% do prazer que tive ao escrevê-lo.
VICTOR MELO
Niterói/Rio
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