No post de hoje, vamos falar um pouquinho sobre a Copa do Nordeste, que também é conhecida como Campeonato do Nordeste, Nordestão ou “Lampions League” (este nome em evidente alusão à bilionária e europeia Champions League).
Oficialmente, fora criada em 1994, mas retornaria posteriormente a ser disputada entre 1997 e 2003. Nesse período foi organizada pela CBF, que enxergava na competição uma forma de obter apoio político da região (numerosa em federações de futebol). Porém, só em 2010 teríamos uma nova competição e, a partir de 2013, a continuidade seguiu sem mais interrupções.
Abaixo, seguem imagens do jogo final da edição de 1994.
Durante várias edições, a CBF garantia vagas para os vencedores nas competições sulamericanas como a extinta Copa Conmebol e a atual Copa Sul-Americana. Hoje, a entidade nacional do futebol garante apenas vaga nas fases mais adiantadas da Copa do Brasil.
Cabe lembrar que o torneio atual, versão mais inchada da competição, tem duas fases preliminares antecipando a fase de grupos.
Outra observação importante é de que outros torneios regionais não seguiram adiante, principalmente pela falta de interesse das federações das regiões Sul e Sudeste (como exemplos, a Copa Sul-Minas, Copa Norte, Copa Centro-Oeste e o Torneio Rio-São Paulo, por sua vez, foram disputadas pela última vez em 2002). Há que se pensar que estas federações temiam (e ainda temem) que estas competições pudessem tirar público, patrocínio e interesse dos campeonatos realizados por elas, ou seja, os estaduais.
Exceção é a criação da Copa Verde, criada em 2014 e existente até os dias atuais (neste caso, participam times das regiões Norte, Centro-Oeste e do estado do Espírito Santo).
Apesar da criação do Nordestão em 1994, é importante saber que vários torneios entre equipes nordestinas foram disputados desde pelo menos os anos 1920. O Troféu Nordeste (1923), disputado em Alagoas, foi um dos pioneiros com este objetivo. Outros torneios foram realizados nas décadas seguintes, inclusive, nos anos 1970, um dos mais famosos e bem sucedidos foi o Torneio José Américo de Almeida Filho, disputado na Paraíba. O nome do torneio era homônimo ao estádio em João Pessoa, onde os jogos foram disputados. Todavia, apesar de importantes em suas respectivas épocas, estes torneios tinham muita dificuldade em agregar todos os estados da região, o que se viu também nas primeiras edições da Copa do Nordeste.
Ao longo da história das transmissões televisivas, a Copa do Nordeste não teve muito sucesso nas emissoras abertas. A Esporte Interativo comprou a ideia nos anos 2000 e fez uma campanha publicitária eficiente e lucrativa para ambos os parceiros envolvidos (a própria emissora, clubes e patrocinadores). Na edição atual, os jogos serão transmitidos pelo SBT e ESPN Brasil. Além disso, foi criado um canal de televisão específico: Nosso Futebol, que terá o apoio das operadoras Sky e Claro e serviços de streaming.
Interessante perceber que a Copa do Nordeste foi estendida à categoria sub20, criada em 2001 e assumida pela CBF a partir de 2015, visando uma representatividade diante das principais competições nacionais e, principalmente, fortalecendo a marca principal do torneio.
Acima podemos perceber que a materialidade da taça, em design original é único, tem também a ideia e intenção de revigorar a marca da competição. Não por acaso as “orelhas” da taça também se basearam no principal troféu do futebol europeu, o da Champions League.
Finalmente, apenas para pensarmos algumas questões que podem ser esmiuçadas por pesquisas sobre este tema: 1) Os torneios regionais movimentam quanto dinheiro em patrocínio direto e indireto para os clubes envolvidos? Para o ano de 2022, por exemplo, a projeção era de aproximadamente 31 milhões de reais de arrecadação. 2) É possível aumentar o grau de rivalidade interclubes a partir das disputas destes torneios? 3) Como é a relação dos veículos de comunicação (dentro e fora da região nordeste) com a competição? 4) E a recepção das transmissões televisivas (dentro e fora também)? 5) A Copa do Nordeste é de fato um produto “vendável” para fora do nordeste?
Enfim, questões relevantes de um futebol regional que ganha força em âmbito nacional, principalmente pensando fora do eixo Sul-Sudeste.
Um abraço e até a próxima.
Obs.: Neste 09/01/2023, não poderíamos deixar de pensar nas homenagens que Roberto Dinamite recebeu por conta de seu falecimento no dia de ontem. Não tive a menor pretensão de criar um post sobre o assunto. Porém, segue uma singela lembrança ao ídolo, não só do Vasco, mas daqueles que gostam de gols.
No último dia 13/09, Sílvio Eduardo Lancellotti, mais conhecido como Sílvio Lancellotti, faleceu em São Paulo, vítima de complicações cardíacas aos 78 anos. O jornalista e arquiteto dedicou a carreira à gastronomia, tanto em programas televisivos e colunas impressas sobre este tema como na redação de livros de sua autoria.
Todavia, o que mais nos interessa neste post foi a sua participação como comentarista esportivo na emissora de televisão Band (na época ainda chamada de Bandeirantes). Nos 1980, sem os chamados canais fechados, a emissora inovava em cobrir um dos principais campeonatos nacionais de futebol daquele período: o italiano. Cabe lembrar que não era comum a existência de transmissões do futebol europeu na televisão brasileira. A Rede Globo, durante um período nos anos 1980, transmitia as finais da Liga dos Campeões da Europa, da Copa da UEFA e da Recopa Europeia. A emissora também transmitiu a temporada 1984/1985 do Italiano, mas desistiu da continuidade da cobertura. Segue a chamada da emissora para um jogo importante daquele ano.
A década de 1980 e o início dos anos 1990 foi considerado um dos períodos áureos do campeonato italiano (também conhecido como Série A), capaz de financiar contratações milionárias pelos clubes e transformando a liga local em um show de estrelas deste esporte, captados nos demais centros (europeus e fora deste). O Brasil, por exemplo, cedeu vários jogadores de destaque para a Itália (como Sócrates, Falcão, Zico, Casagrande, Careca, Edinho, Júnior, Cerezo e Alemão), sem falar em outros atletas de menor importância e talento. Era um momento de reorganização do futebol italiano,
Apesar da economia italiana ainda não ter atingido índices globais satisfatórios neste período, não só pelos fatores internos, mas também pela grave crise do petróleo a partir do final dos anos 1970 e início dos 80, a liga italiana (de forma direta ou por meio dos clubes) contou com o patrocínio de muitas empresas multinacionais como a Parmalat, Danone, Colussi (fábrica de alimentos que inclui a marca Misura), Fininvest (proprietária da operadora de investimentos Mediolanum, Barilla, Mars, Opel, ERG, Mita e tantas outras. Cabe lembrar que a própria máfia italiana investia em determinados clubes. Já o governo italiano passara a investir mais no futebol, em especial a partir do final dos anos 80 com a preparação dos estádios para a Copa do Mundo FIFA de 1990.
Ao longo da década de 1980 o futebol neste país tentava superar os escândalos da máfia de resultados que atingira a carreira de craques como Paolo Rossi, por exemplo. E aproveitava esta reestruturação no momento em que outros centros europeus estavam em crise, seja por falta de investimentos vultosos como na Espanha e na Alemanha ou, ainda, pela crise ocasionada pela atuação dos hooligans na Inglaterra.
Desta forma, o produto “campeonato italiano” tornou-se atrativo para parte do mundo interessado em futebol. Negociada pela RAI, empresa estatal italiana, os direitos de transmissão colaboravam para ampliar o alcance do futebol italiano pelo mundo. No Brasil, casava com a intenção da rede de televisão com sede em São Paulo de transmitir uma programação repleta de práticas esportivas no domingo. Era o programa “guarda chuva” Show do Esporte (criado pela parceria de Luciano do Valle com José Francisco Leal), que geralmente ia das 10h às 20h e trazia dois apresentadores (sendo os mais longevos, os jornalistas Elia Júnior, Elys Marina e Simone Melo, dentre outras(os)). A Série A, então, era uma das primeiras atrações e a cobertura do italiano contou com vários narradores e comentaristas ao longo dos anos. Abaixo, segue uma chamada para um jogo da temporada de 1989:
Porém, uma das coberturas mais marcantes foi originada pela dupla “Sílvio” a partir de 1987: o narrador Sílvio Luiz e o comentarista Sílvio Lancellotti. Este último trazia um rol de informações não apenas sobre o campeonato, os clubes, os clássicos nacionais e regionais e os jogadores, mas também sobre a cultura e a gastronomia italiana. Por conta disso, durante um período, a dupla contava com a presença de Giovanni Bruno, chef italiano e proprietário de restaurante radicado em São Paulo (falecido em 2014).
Na hora do almoço de domingo, tinha-se então futebol de boa qualidade técnica, dicas gastronômicas e culturais e muito humor despejado pela forma de narrar de Sílvio Luiz. No final dos anos 1980 e início dos anos 90, as partidas transmitidas uma única vez por semana, sempre neste mesmo horário, transformaram o horário em um momento nobre da programação de domingo, competindo com a líder de audiência, Rede Globo. Abaixo, um trecho da narração de Sílvio Luiz em um jogo de 1992, clássico entre Torino e Juventus, com destaque para os gols de Casagrande:
Aliado a esta cobertura televisiva, jornais impressos passaram a ampliar a cobertura dos jogos, principalmente no que dizia respeito à atuação dos atletas brasileiros. O Jornal dos Sports, por exemplo, cobria atentamente os jogos do final de semana. No início dos anos 1990, álbum e figurinhas da Série A já chegavam ao Brasil em alguns centros urbanos pela empresa Panini, porém ainda de forma importada.
Aliás, as fontes impressas colaboraram diretamente no trabalho de Lancellotti. De acordo com uma entrevista concedida por ele mesmo em 2009 à L&PM Editores, a aproximação com o campeonato italiano só ocorreu por conta de uma pesquisa informal sobre clubes e jogadores no jornal Gazzetta dello Sport. O motivo? Incrementar o jogo de botão de seu filho com dados técnicos e reais dos atletas e equipes italianas. Atitude banal, mas que lhe permitiu que chegasse à bancada da Band com muita informação numa transmissão televisiva, rendendo um contrato de comentarista por alguns anos. Num período sem internet, casualidade, projeção de investimentos e apostas em determinados nomes no jornalismo esportivo televisivos deram à Band um produto que entrava para a história das transmissões do futebol internacional no Brasil.
O post de hoje trata de um feito ocorrido no último sábado, 28/05/2022: o retorno, após 23 anos, do Nottingham Forest à primeira divisão do Campeonato Inglês de futebol masculino, mundialmente conhecida como Premier League desde 1992, após vencer o Huddersfield Town, por 1 x 0.
Um dos clubes mais antigos da Inglaterra, fundado em 1865, o clube retorna à elite com muita festa não apenas por seus tradicionais torcedores, mas por vários apaixonados por futebol ao redor do mundo, muito provavelmente pela memória de um time vencedor a partir do final dos anos 1970. O Forest fora campeão europeu duas vezes seguidos em 1979 e 1980, tornando o técnico Brian Clough uma das pessoas mais importantes na cidade, praticamente uma lenda. Este período dourado ainda coroou o clube com um Campeonato Inglês (1978) e duas Copas da Liga Inglesa (1978 e 1979). Até esta fase, dentre as taças significativas, o Forest havia conquistado duas Copas da Inglaterra: em 1898 e 1959. Após a fase mais importante, ganharia mais duas Copas da Liga: em 1989 e 1990. É curioso lembrar que o time estava em 1977 na segunda divisão inglesa e teve uma ascensão meteórica nos anos imediatamente seguintes, mesmo mantendo uma infra estrutura relativamente mais simples do que os clubes mais ricos do país.
O retorno atual do Forest à elite justificou, exatamente por conta de seu passado glorioso e nostálgico, uma cobertura atenta da mídia esportiva mundial, inclusive brasileira. A título de exemplos, temos algumas notícias publicadas ontem por sites de periódicos esportivos como o brasileiro GE, o grego Gazzetta, o italiano Gazzetta Dello Sport e o português A Bola, como podemos verificar nos links abaixo.
Pouca atenção foi dada para os acessos de Fulham e Bournemouth para a temporada de 2022/2023, não apenas por não terem uma história de conquistas como o time de Nottingham, mas porque na verdade participam da Premier League com muito mais regularidade do que o dono de City Ground (estádio do Forest).
Cabe ressaltar que a EFL Championship (Liga da Segunda Divisão Inglesa) tem se tornado nos últimos anos um dos produtos de grande popularidade do futebol inglês e mundial, com transmissões ao vivo por canais de televisão (no Brasil, a ESPN tem os atuais direitos), públicos pagantes que lotam os estádios e patrocínios específicos para a liga. Do ponto de vista da competição esportiva e da qualidade técnica, tornou-se um dos principais campeonatos no continente europeu. Acrescente-se também à fórmula de acesso, que mescla o sistema de pontos corridos com 24 equipes, de onde se classificam 2 diretamente e uma eliminatória final (entre os quatro melhores que terminaram entre a terceira e a sexta colocação). A final? Não poderia ser diferente do Estádio Wembley, palco mítico do futebol internacional. Reparem na imagem abaixo, a informação sobre o público presente nesta “final”:
Voltando ao Forest, e levando em conta a cobertura da mídia internacional supracitada, além da obra memorialística de Guarnieri (2021), a palavra nostalgia é utilizada mais de uma vez na imprensa esportiva ao retratar este novíssimo trunfo do Forest. A fase áurea do clube é revivida mais uma vez, demonstrando um fenômeno narrativo duplo: a valorização de uma memória de clube vencedor e que deixou uma marca na história do futebol europeu e, ao mesmo tempo, um aprisionamento contínuo a um mundo que dificilmente será revivido. Mas, convenhamos, os torcedores não fazem isso o tempo todo? Pois é, a imprensa esportiva também.
Cabe acompanhar agora qual será o futuro do Forest: um Robin Hood (que é na verdade o mascote do clube) da Premier League, roubando pontos dos maiores times ingleses e se mantendo com regularidade na principal e rica liga inglesa, ou vestirá o uniforme do Xerife de Nottingham, iludido e enganado pelas memórias e nostalgias que ganham vida nas florestas de Sherwood. De qualquer forma, vamos acompanhar.
Referências:
GUARNIERI, Lorenzo. El Nottingham Forest de Brian Clough: de la Segunda División a Bicampeón de Europa En 1000 Días. Librofutbol.com, 2021.
Comentários desativados em Robin Hood de Volta: o Nottingham Forest na Premier League! | História do Esporte | Link permanente Escrito por André Couto
Ontem, 06/02/2022, a Copa Africana de Nações, que reúne as seleções de futebol masculino do continente africano terminou com a grande final em Olembé (Camarões). A partida foi disputada entre Senegal e Egito e foi decidida nas penalidades após 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação, tendo o time senegalês saído vitorioso por 4 a 2. Festa nacional pelo primeiro título e destaque na imprensa de todo o planeta, inclusive em função do duelo entre duas estrelas do Liverpool, Sadio Mané (Senegal) e Mohammed Salah (Egito).
No Brasil, os principais veículos de comunicação (impressos e sites, por exemplo) deram destaque para a competição, apesar dos jogos terem sido transmitidos apenas na Band (canal aberto).
Porém, nem sempre a cobertura da Copa Africana de Nações (também chamada de Campeonato Africano das Nações, como em Angola ou Taça das Nações Africanas, em Portugal) nem sempre mereceu destaque por parte da imprensa esportiva brasileira. Para tanto, baseamos nossa análise no jornal carioca O Globo, fundado em 1925 e que se tornou um dos principais periódicos do país, mantendo esta posição nos dias atuais.
O referido jornal só apresentaria uma referência ao torneio em 1962 (terceira edição da Copa), na página 4 da edição esportiva (22/01/1962), numa nota muito curta: “Etiópia, Campeã da África: Presente o imperador Hailé Sellasié, a Etiópia derrotou hoje o Egito por 4×2, conquistando o campeonato de seleções da África.” (O GLOBO, 22/01/1962, p. 4). Informação, inclusive, apresentada pela Associated Press (AP), agência norte-americana de notícias fundada em 1846. A nota é apresentada em um canto inferior direito da página, em um espaço pouco nobre do jornal e uma curiosidade: a primeira das duas frases da nota está de cabeça para baixo. Um erro gráfico, mas o único de toda a extensa parte esportiva daquela edição.
Cabe lembrar que o Imperador Hailé Sellasié já tinha visitado o Brasil em 1960 e justamente nesta viagem, a Etiópia sofreu uma tentativa de golpe de Estado, fazendo com o que o governante etíope tivesse que retornar às pressas ao seu país de origem.
Nem por curiosidade esportiva ou pelo destaque dado às relações internacionais do Brasil com outros países africanos, este fato é explorado na cobertura do torneio de futebol de 1962.
Posteriormente, em 1963, O Globo apresentaria mais uma nota, um pouco mais robusta (“A Quarta Taça da África”) na coluna “Placar de O Globo” sobre a quarta edição desta competição, vencida pela seleção de Gana por 3 x 0 e que jogara em casa na final contra o Sudão:
“Encerrou-se domingo o quarto magno certame que reuniu as seleções principais do continente africano. Nesta competição as finais foram realizadas em Gana nas cidades de Acra e Kumasra. A seleção de Gana alcançou o troféu ao vencer a representação do Sudão na finalíssima por 4×0. Haviam ficado classificadas às finais: Gana (patrocinadora), Etiópia (detentora do título) e Tunísia na chave A. Na chave B – Egito, Sudão e Nigéria. O novo campeão passou às finais vencendo a Tunísia e Etiópia. O Sudão foi finalista abatendo o Egito e a Nigéria. Os torneios anteriores apresentaram os seguintes vencedores: 1960 e 1961 (Egito), 1962 (Etiópia). A desclassificação do Marrocos pela Tunísia e a queda da Etiópia nas quartas-de-final foram as grandes surpresas. A seleção do Egito chegou às finais sem disputar as eliminatórias com a seleção de Uganda, pois esta representação foi eliminada de saída, já que o Governo havia proibido sua exibição no Cairo” (O GLOBO, 04/12/1963, p. 15).
Nesta nota, da qual não sabemos se é uma informação compartilhada por uma agência internacional de notícias, o texto procura não só apontar o resultado final do torneio, mas também traçar um panorama geral sobre a competição, tendo em vista que não houve uma cobertura ao longo da mesma. Um detalhe: o resultado da final, 4×0, diverge dos diversos sites atuais de resultados sobre torneios de futebol (nestes, temos o 3×0). Outra questão: o jornal ignora as datas corretas dos primeiros torneios, ou seja, em 1957 e 1959 (e não 1960 e 1961, como é publicada na nota). Apresenta ainda a opinião de que as seleções de Marrocos e Etiópia tinham mais qualidade para conseguirem melhores resultados. Se no caso da Etiópia parece óbvio (pois era até então, a campeã, justamente no ano anterior), não há qualquer explicação sobre o favoritismo da seleção marroquina. Por fim, há a informação, mas sem explicação, do impacto das relações diplomáticas entre Uganda e Egito na partida não disputada entre estas equipes.
Interessante perceber o quanto as aproximações diplomáticas entre o Brasil e os países do continente africano aumentaram a partir dos anos 1960, principalmente do ponto de vista do reconhecimento das identidades culturais mútuas e também das possibilidades de novos investimentos comerciais e econômicos, não impactaram necessariamente por um grande interesse da imprensa esportiva, tanto na cobertura do campeonato africano de seleções, como de outras notícias esportivas deste continente, muito menos ainda em relacionar informações do esporte com o mundo político e internacional. Todavia, não podemos negar que ao menos existia um esforço mínimo de não ignorar os resultados esportivos vindos de lá.
A década de 1960, com os governos de Jânio Quadros e João Goulart, inaugurou para o Brasil uma nova política externa que procurava ser independente da influência norte-americana. A aproximação com o continente africano, reconhecendo inclusive a auto determinação dos povos e a emancipação política dos africanos, refletia um estreitamento, ainda tímido, mas interessante, das relações diplomáticas entre estas duas regiões. De acordo com Ferreira (2013, p.7),
“(…) Nesse sentido, como Cervo e Bueno (2008) destacam, a ênfase na política externa brasileira para a África nesse início de década de 1960 aparecia em acordos culturais, no programa de bolsas para estudantes, na criação de um sistema de consultas firmado com a Organização Interafricana de Café, visando à defesa do seu preço no mercado internacional, além da criação de embaixadas unto aos governos de Gana, da Nigéria e do Senegal e a abertura de consulados.”
O autor destaca ainda a vinda de estudantes de vários países africanos em programas oficiais de governo para as universidades brasileiras por meio do então criado IBEAA (Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos) (FERREIRA, 2013, p.7).
Esta aproximação teve reflexo em outros campos como o esporte. Não por acaso, clubes de futebol passam a incluir o continente africano em suas excursões internacionais, como no caso do Fluminense em 1961 em excursão pelo Egito; do Vasco da Gama, que esteve na Costa do Marfim, Gana, Sudão e Nigéria em 1963; do Santos, na Nigéria, em 1969 (neste caso em plena Guerra da Biafra, naquela ocasião um território separatista) e do Palmeiras em 1969 (disputando jogos no Congo, Gana e Nigéria).
Na quinta edição do torneio (em 1965), mais um vez O Globo apresentava uma pequena nota, cujo título era “Copa da África” e seguia brevemente informando que: “A equipe de futebol do Congo Leopoldville foi eliminada da luta pela V Copa da África, cuja fase final está sendo disputada em Túnis.” (O GLOBO, 15/11/1965, p. 7). A seguir informava os resultados do torneio até ali. Cabe ressaltar que, neste caso, a agência era a France Press.
Figura 3: O Globo, 15/11/1965. Fonte: Acervo O Globo. Acesso em: 07/02/2022.
Como podemos perceber na imagem acima, a pequena nota está localizada no canto da página 7 do Caderno de Esportes, abaixo da notícia (na verdade, outra nota) sobre o campeonato de futebol na cidade de Nova Friburgo, e sendo “ofuscada” pela grande propaganda dos pneus Dunlop, que avança em quase toda a página. A nota sobre o torneio africano “vence” em importância a micro propaganda das batidas Trianon, que vem logo abaixo.
Dois dias depois, na coluna “Placar de O Globo” (17/11/1965, p.16), uma nota nomeada de “África” apresentava pontualmente mais resultados do torneio sediado na Tunísia. Antes, porém, informava os resultados sobre o campeonato egípcio (nacional) de futebol. Finalmente, em 22/11/1965 (p. 4), na nota “Gana Campeã da África”, o jornal informava que Gana havia vencido a Tunísia pelo placar de 3×2, sendo necessária a prorrogação, pois no tempo normal as seleções se igualaram em 2×2. Na página 16, em nota “África”, na coluna “Placar de O Globo”, a mesma informação era apresentada.
Posteriormente, no torneio seguinte, em 1968, disputado na Etiópia (fase final), o jornal aumentava o tamanho da nota que representava a cobertura do evento esportivo, com um aumento pequeno no destaque, ao apresentar uma chamada diferenciada, informações e centralidade na página em que a notícia foi publicada, conforme podemos observar abaixo.
Figura 4: Cobertura da Copa Africana de Nações em 1968. Fonte: Acervo O Globo (18/01/1968, p. 12).
Cabe informar que não fora publicada nenhuma imagem nas coberturas sobre a competição ao longo desta década de 1960. As imagens deste post foram pesquisadas em sites e blogs de cunho memorialístico, conforme indicamos nas respectivas legendas.
Enfim, a partir de uma rápida viagem pelo O Globo ao longo dos anos 1960, podemos observar que a cobertura da principal competição esportiva do continente africano se não foi totalmente ignorada, estava longe de dar alguma importância para o tema. Levando em conta o tratamento dado ao futebol com farta publicação de matérias, suplementos, imagens e crônicas a outras competições, inclusive internacionais, a Copa Africana de Nações (denominada por outros nomes não oficiais pelo próprio jornal) ficou relegada a poucas notas, sem direito a publicação de imagens ou matérias mais profundas e completas.
Para avançarmos no estudo do tema, investigações acadêmicas poderiam tentar responder algumas questões como, por exemplo: 1) qual é o grau de atenção e dedicação da imprensa esportiva brasileira aos eventos internacionais, em especial aos do continente africano, ao longo do século XX? 2) O que existe de aproximações e distanciamentos entre os diversos periódicos que minimamente cobriam o futebol africano em determinado período histórico? 3) Quais são as relações do processo pós II-Guerra pela independência de países africanos com o seu principal torneio de futebol, inclusive do ponto de vista da conjuntura de Guerra Fria? 4) A cobertura esportiva apresenta, em algum momento, uma discussão de política internacional ou de relações diplomáticas ao retratar eventos na África? 5) A política externa brasileira com os países do continente africana impacta em um olhar diferenciado da imprensa esportiva para os eventos e competições esportivas por lá? Enfim, um campo amplo de pesquisas para compreendermos um pouco mais nossa relação com África sob os olhares da imprensa esportiva.
FERREIRA, Walace. Revisitando a África na Política Externa Brasileira: distanciamentos e aproximações da “Independência” à “década de 1980”. In: Universitas Relações Internacionais, Brasília, v. 11, n. 1, p. 57-71, jan./jun. 2013. Disponível em: <file:///C:/Users/55219/Downloads/2296-11650-1-PB.pdf>. Acesso em: 07/02/2022.
Neste breve blog de hoje, vamos fazer uma singela homenagem ao cartunista Nani, falecido no último dia 8 de outubro aos 70 anos de idade, e contabilizando mais uma vítima fatal da pandemia de Covid-19.
Mineiro de Esmeraldas, cidade da grande Belo Horizonte, Ernani Luiz Lucas, o Nani, apesar de ser mais conhecido como cartunista, também era escritor e roteirista. Trabalhou em vários jornais da cidade do Rio de Janeiro, como O Globo, Última Hora, Diário de Notícias, Tribuna da Imprensa, Jornal dos Sports e, principalmente, O Dia.
Sua carreira, porém, tinha iniciado no jornal O Diário, de BH. Poucos anos depois, partia para o Rio de Janeiro, colaborando com o emblemático periódico O Pasquim. Neste jornal, Nani desenvolveu ainda mais sua verve crítica sobre a conjuntura política no país, em plena ditadura militar no início dos anos 1970. E sempre com muito humor, aliás bastante humor, não só pela exigência da linha editorial do jornal em que passara a atuar, mas também por ser uma das suas características principais como artista. Inclusive, nesta arte, foi influenciado por nomes importantes como Millôr Fernandes, Henfil, Carlos Estêvão e Jaguar.
Criaria, junto com outros artistas, o jornal O Pingente e atuaria também na versão brasileira da revista Mad. Seu talento o levou para a televisão, assumindo charges no Jornal da Globo e trabalhando como roteirista em vários programas humorísticos da Rede Globo, como shows do Chico Anysio (Chico Total e Escolinha do Professor Raimundo), Casseta & Planeta, Sai de Baixo e Zorra Total.
Escreveu vários livros que continham charges, cartuns e textos humorísticos diversos, criticando não apenas a conjuntura política e social brasileira, mas também o politicamente correto, os valores morais e conservadores, a religião e o sexo, enfim, todo tipo de miséria humana que pudesse ser explorada. Desta forma, podemos citar, dentre tantos títulos, Batom na Cueca, Humor Barra Pesada, Humor do Miserê, Humor Politicamente Incorreto e Orai pornô.
Nos esportes, Nani, atuou no Jornal dos Sports (com a tirinha De Letra), e revelara em entrevista dada à revista Bravo! em 2017 que ia pouco aos estádios e que produzia de acordo com o que lia nos jornais ou ouvia no rádio sobre os jogos de futebol. Inclusive, nesta entrevista, informara que: (…) Cismava com os nomes, por exemplo: cheguei a desenhar um cara velho e o cara era novo, um de cabelo longo e o jogador era careca (…).
Foi justamente por uma charge esportiva, que Nani se desentendeu com Ota, cartunista e editor da revista Mad (falecido no mês de setembro deste ano). Ao fazer um trabalho sobre expressões do futebol, desenhara dois jogadores se agarrando com o título Cruzando na área. Ota se preocupara com a proibição da censura, mas as máquinas já tinham rodado milhares de exemplares, o que custou a saída de Nani da revista. Sexo e irreverência tornara-se uma das marcas principais de seu trabalho.
Nas últimas décadas, tornou-se um dos principais cartunistas de O Dia, um jornal popular e que abria um leque de opções de cobertura do cotidiano local e urbano, sem perder de vista as grandes questões nacionais. Os esportes também estavam na mira das atenções deste artista contemporâneo. como podemos observar abaixo, seja no olhar ácido e crítico aos Jogos Olímpicos de 2016, ou utilizando o esporte como metáfora para atingir determinado tema.
Finalmente, cabe nos para além da homenagem ao artista, chamar a atenção para os usos de fontes como cartuns, charges e tirinhas em quadrinhos no ofício de historiador, seja pela diversidade imagética que os traços possam nos oferecer, seja pelo conteúdo crítico e humorístico sobre determinada questão, local ou nacional, moral e/ou social, individual ou coletiva, dentre outras possibilidades. Como todo tipo de fonte, merece um detalhamento metodológico, que leve em conta a suas respectivas condições de produção, assim como as (inter)subjetividades dos autores em questão. Teríamos, portanto, um arsenal criativo de fontes para ser analisado, aguardando pesquisas mais contemporâneas sobre diversos temas, inclusive nos esportes.
Neste breve post vamos tratar da nova onda de transmissões que inunda as redes sociais e canais de comunicação no Brasil e no mundo.
Obviamente, trata-se de um fenômeno de base tecnológica que abrange não apenas a transmissão de esportes mas também e, principalmente, qualquer material de entretenimento como filmes, séries, novelas, músicas, games e tantas outras possibilidades. O streaming tornou-se uma nova realidade para este universo de acesso rápido a material de lazer, esportes, cultura e informação, criando relação menos convencional entre expectador e os meios de comunicação. Cabe refletir, todavia, que parte significativa da população não tem acesso à internet, situação do nosso país, por exemplo. De acordo com o Comitê Gestor da Internet, em 2019, 47 milhões de pessoas ficaram excluídos do acesso digital, representando cerca de 26% da população brasileira.
Em relação às transmissões de esportes, mega empresas têm investido cada vez mais no aperfeiçoamento e desenvolvimento tecnológico de suas respectivas plataformas de transmissão. Um exemplo disso é a parceria entre a milionária NFL (Liga de Futebol Norte Americano) e a Amazon Prime Video por 11 temporadas, negócio envolvendo cerca de 1 bilhão de dólares por ano. Resultado: exclusividade nos jogos transmitidos às quintas feiras por 11 anos e modificando diretamente o valor de mercado nestes horários televisivos naquele país.
Uma das primeiras empresas bem sucedidas neste mercado é a inglesa DAZN Group, que pertence à Access Industries e que possibilitou ao acesso de um plataforma exclusiva de esportes. No momento, ela tem o foco para competições nos continentes europeu e asiático e é considerada a “Netflix dos Esportes”. Não por acaso, a Access Industries tem investimentos vinculados à Deezer e a Warner Music Group (plataforma e mega empresa na área de música, respectivamente).
Nem as redes sociais ficaram de fora desta nova onda: o Facebook conseguiu um público de 4,2 milhões de expectadores em parceria com a TNT Sports (Ex-Esporte Interativo) na transmissão da final da Champions League em 2020, disputada entre Paris Saint German (PSG) e o Bayer Munique. Tal público chamou a atenção de outras plataformas e emissoras de televisão como o SBT para as futuras transmissões deste importante torneio europeu de clubes.
Esta discussão passa também pela capacidade dos clubes conseguirem também vender os seus respectivos serviços de transmissão, seja em parcerias com plataformas poderosas já existentes, seja pela criação das suas próprias, caminhos que parecem não ter mais volta.
Há uma forte tendência de ampliação dos serviços dos canais de TV dos clubes brasileiros para vender os seus jogos diretamente aos seus torcedores, em especial no momento em que o público presente nos estádios e ambientes esportivos está proibido no país por causa da pandemia de COVID-19 e da incapacidade do Estado brasileiro em lidar com este grave problema de saúde pública.
Em relação às entidades esportivas, um dos grandes exemplos é a criação pela CONMEBOL de um canal exclusivo (no caso brasileiro, acessível pelos clientes das empresas Claro e Sky), para que o público expectador pague um determinado valor para acesso ilimitado aos jogos organizados por esta instituição (Copa Libertadores da América, Sul-Americana e Recopa, por exemplos). Esta Confederação percebeu que a criação desta plataforma seria uma forma lucrativa de vender as suas competições, apesar dos choques de interesses com os canais pagos que já transmitiam ou transmitem parte destas competições.
Já a CBF iniciou tratativas de ampliar a divulgação de uma série de competições organizadas por esta entidade em uma plataforma digital. Para tanto, firmou contrato com a empresa My Cujoo (em breve seu nome mudará para Eleven Sports) e já transmite, via internet, os torneios brasileiros femininos (Séries A1 e A2) e das categoria de base (Campeonato Brasileiro Sub17 e Copa do Brasil Sub20, por exemplos).
A transmissão desta plataforma geralmente tenta dar um ar de jovialidade e descontração, com muitas piadas e tentativas de criação de intimidade com o expectador, estratégias cada vez mais utilizadas pelos canais tradicionais de televisão (pagos ou abertos). A princípio, trata-se de uma modus operandi para facilitar a comunicação com um público mais jovem (já acostumado com plataformas de outros temas, como de vídeos, músicas e séries) e vinculado ao torcedor (aquele que busca mais informações sobre os seus respectivos clubes, como as categorias de base e a equipe feminina, que ainda têm pouca visibilidade nos canais convencionais).
Interessante é perceber que além das competições da CBF, uma quantidade muito grande de outras federações e ligas também são transmitidas por esta plataforma. É possível ver ao vivo, por exemplo, um jogo da segunda divisão da Suíça, por exemplo. Criada pelos portugueses João e Pedro Presa, a empresa surgiu como startup e já tem 72 funcionários em todo o mundo, responsáveis pelas transmissões na plataforma.
De acordo com o site da empresa, “(…) Estamos fazendo isso mediante o desenvolvimento de uma tecnologia revolucionária de streaming e oferecendo-a aos menores custos possíveis para os setores menos desenvolvidos do esporte: ligas secundárias, futebol feminino, futebol juvenil, futsal, futebol amador.” A visibilidade desta nova frente de cobertura de ligas e campeonatos pouco ou nada vistos até então, possibilita, de acordo com a proposta de empresa, outro objetivo valioso: “(…) Contribuímos para o desenvolvimento do esporte melhorando a experiência dos jogadores, a quem damos a chance de se mostrarem aos torcedores, receberem mais apoio e possivelmente incrementarem o seu valor.” Ou seja, uma chance dos atletas de serem acompanhados pelos torcedores, ou possivelmente, por outros clubes interessados e até mesmo em possíveis patrocinadores.
A atuação da My Cujoo no mercado de transmissões traz algumas questões importantes para a nossa reflexão, em especial na relação entre esportes e comunicação: 1) a nova onda de streaming no mundo esportivo abrirá espaços para novos empreendimentos de startups com estes mesmos objetivos? 2) A longa trajetória de monopolização da cobertura esportiva no Brasil mudará apenas de formato ou o streaming abrirá espaços para novas formas de consumo para o público expectador? 3) Como fica a relação das emissoras de televisão e seus respectivos patrocinadores nas transmissões esportivas? 4) É possível termos estudos de recepção para estas novas plataformas de transmissão? 5) Ou ainda, as narrações e comentários por streaming estabelecem um novo padrão discursivo?
Questões bem difíceis para respondermos para além da especulação, mas que já nos traz a ideia de que assistir esportes tornou-se também uma tarefa diferente da dependência exclusiva da programação das emissoras de televisão. De toda forma, ainda estamos longe de concluirmos que o uso de plataformas via streaming se tornou uma via ampla e democrática ao acesso às transmissões esportivas.
Referências:
CASTRO, Luiz Felipe. Transmissões esportivas sofrem concorrência de serviços de streaming. Disponível em:<Leihttps://veja.abril.com.br/esporte/transmissoes-esportivas-sofrem-concorrencia-de-servicos-de-streaming/>.
Comentários desativados em Qual? Como? Onde? A nova forma de assistir esportes em plataformas digitais | História do Esporte | Link permanente Escrito por André Couto
Hoje, foram celebrados 70 anos de Fórmula 1, no lendário e clássico Autódromo de Silverstone (Inglaterra). Na primeira colocação terminou justamente um dos pilotos mais talentosos da sua geração: o holandês Max Verstappen da RBR, também conhecida como a Red Bull Racing (a mesma que foi tetracampeã com o alemão Sebastian Vettel, entre 2010 e 2013).
Além de mostrar força diante da favorita e quase hegemônica Mercedes (de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas), a Red Bull ganha hoje aquilo que mais investe: na sua marca empresarial.[1]
Criada pelo empresário tailandês Chaleo Yoovidhya, a bebida, um energético a base de taurina, deu origem a uma mega empresa de energy drink que atua em vários campos do esporte (principal ação de marketing e de aumento do valor da empresa). De futebol a esportes de velocidade (como a já bem experiência bem sucedida na Fórmula 1, além da motovelocidade, corrida de aviões e equipe na NASCAR), passando por outras modalidades como salto em altura, hóquei no gelo, base jumping, esportes na neve e tantas outras.
Boa parte deste sucesso deve-se-se ao marketeiro austríaco Dietrich Mateschitz que fez uma parceria com o criador da bebida em 1987. De acordo com os indicadores da Bloomberg, o austríaco é o homem mais rico da Áustria com um patrimônio acumulado em aproximadamente 12,4 bilhões de dólares.
Só no Brasil, em 2019, ainda com a economia nacional patinando na tentativa de recuperação, o crescimento da venda do energético acumulou uma alta de 30%, de acordo com o site de economia e investimento 6 Minutos.
E falando de nosso país, a empresa entrou de vez no campo esportivo nacional ao assumir o Departamento de Futebol do Bragantino, time do interior paulista e que a partir daí, tornou-se o campeão brasileiro da Série B, já no primeiro ano da parceria .
No Campeonato Paulista de 2020, o time fez a melhor campanha na primeira fase, mas caiu nas quartas de final para o Corinthians.[2] Agora na Série A do Brasileiro, o time e a empresa terão ainda mais visibilidade, mesmo em um momento de afastamento das torcidas por causa da pandemia do COVID-19, que já ceifou mais de 100 mil vidas por aqui.
Interessante é que a maior parte das empresas de comunicação se refere ao time apenas como Bragantino e não como seu nome oficial Red Bull Bragantino, evitando propaganda gratuita em seus respectivos veículos jornalísticos.[3] Cabe lembrar que o modus operandi na cobertura esportiva brasileira para outras modalidades como vôlei e basquete não impedia até agora de tratar as equipes pelos nomes das empresas patrocinadoras / proprietárias. No futebol, talvez falte ainda o aumento destas experiências. A saber.
Com investimento de 45 milhões de reais em 2019, a previsão de gastos para 2020 é de 200 milhões de reais, um orçamento raro mesmo na Série A do Brasileiro.
A ideia da empresa é repetir o sucesso alcançado pela Red Bull em outros países como a própria sede na Áustria (quando comprou o Salzburg, tornando-se RB Salzburg desde 2005); Alemanha (adquirido em 2009 por meio do clube SSV Markranstädt e tornando-se o atual RB Leipzig) e Estados Unidos (trajetória criada em 2006 ao controlar o MetroStars e o renomeando para New York Red Bulls).
Cabe lembrar que o RB Leipzig é um dos 8 clubes europeus a ainda participar do atual e maior campeonato de clubes (pelo menos do ponto vista econômico) do planeta: a UEFA Champions League. Nesta semana, no dia 13/08, a equipe vai enfrentar o Atlético de Madrid nas quartas de final em jogo único.[4] O time se classificou para esta etapa depois de ter ficado na primeira colocação na fase de grupos (a frente de Lyon, Benfica e Zenit) e eliminado nas oitavas de final o Tottenham (nada menos do que o vice campeão da Champions em 2019).
O marketing da empresa, que re(investe) entre 30 a 35% de todo o seu faturamento na expansão da marca explica porque as cores e escudos das equipes de futebol são praticamente os mesmos. A identidade empresarial por meio da sua comunicação visual tem sido ao longo dos anos uma caraterística forte da Red Bull.
Para além do futebol, mas ainda no campo esportivo, a Red Bull reforça sua marca com práticas esportivas voltadas principalmente para a velocidade, propondo apresentações de bicicletas, motos, carros e aviões de corridas em muitos lugares do mundo, desde aquele com pouca representação no cenário esportivo mundial.
Outro viés da empresa é a promoção de eventos esportivos que lançam desafios importantes e que estão relacionados com uma geografia local, sejam modalidades motorizadas ou não. Espaços públicos urbanos ou naturais que podem se associar com a proposta da empresa: o alcance de um público jovem, comprometido com energia e de vencer desafios. Não por acaso a empresa tem uma linha de moda (camisetas, agasalhos, acessórios) voltada para um público mais jovem e que reforça as características da marca. O interessante é que a linha segue a identidade de cada evento ou equipe patrocinada pela Red Bull.[5]
Desta forma, reforço da marca, energia (lembremos que a empresa é de energéticos líquidos), velocidade, juventude, desafios e uma dose de perigo transitam na lógica empresarial da Red Bull, tendo o campo esportivo como o espaço adequado para os seus investimentos.
Poderíamos citar vários exemplos em diversos países ao longo dos últimos anos, mas fiquemos com o Líbano, palco de uma grande tragédia nesta semana.
Em 2016 a empresa realizou uma apresentação na área portuária de Beirute, o mesmo local de explosão por conta de armazenamento de nitrato de amônia, uma área de grade importância econômica e social da cidade.
Em 2019, a Red Bull levou uma das etapas do campeonato mundial de saltos em penhasco justamente para o Líbano, tanto na modalidade masculina como na feminina, como podemos observar abaixo:
Tornar-se cada vez mais global inspira a empresa a investir em países diversos, mesmo aqueles que passam por graves crises políticas, econômicas e sociais, como no caso do palco da tragédia recente.
A identidade da marca atravessa continentes como toda boa multi e transnacional, mas desafia o próprio campo esportivo em sua inventividade e imaginação na criação de eventos e práticas esportivas. Alguém saberia dizer que tipo de esporte estamos vendo na imagem abaixo?
Quais são os limites desta relação de mega empresas do meio esportivo nas relações políticas com determinados países? Como os veículos de comunicação podem ser impactados com a cobertura midiática de determinados eventos esportivos? E há caminhos abertos para uma hegemonização de equipes patrocinadas/controladas por estas empresas? Outra: o campo esportivo, por meio da proposição/recriação de novos eventos irá transformar-se de forma orgânica mais rapidamente com estas empresas?
Questões macro que não ousamos in responder neste brevíssimo post, mas que nos colocam na ordem do dia para o estudo dos esportes. A relação empresarial não pode sobremaneira ser ignorada.
Forte abraço e toda solidariedade ao povo libanês.
P.S.: Para quem não identificou do que se trata na Figura 3, aí vai: é uma etapa da National Red Bull Flugtag, realizada em várias cidades norte-americanas. Basicamente, é uma competição de “máquinas voadoras” temáticas, estilizadas e sem motor, e que devem ficar o maior tempo possível no ar. Loucura? Não se tiver asas da Red Bull.
Notas:
[1] Cabe lembrar que a Red Bull também é proprietária Scuderia Toro Rosso (derivada da Minardi, comprada em 2005). Em 2020, uma equipe foi renomeada para a Scuderia AlphaTauri.
[2] Como prêmio de consolação, ao ganhar o Troféu do Interior, torneio paralelo disputado pelas equipes do interior e que não avançaram para os semifinais do Paulista.
[3] Apenas como exemplo, basta pesquisar a página do time no site GE (antigo nome do Globo Esporte).
[4] Após a reformulação do calendário e local pela UEFA por conta da pandemia de COVID-19.
Neste breve post, chamamos a atenção para o momento atual do Equador, e também da própria América Latina.
Este país, neste exato momento, passa por uma crise política e institucional por conta da decretação da situação de Estado de exceção pelo presidente Lenín Moreno, causada por manifestações contra as medidas impopulares do governo equatoriano.
O estado de exceção foi resultante de diversos protestos de movimentos sociais e de categorias profissionais diversas, inclusive de caminhoneiros, paralisando parte da produção e dos serviços no país, assim como as ruas e estradas.
Lenín, que já participara de governo anterior (foi Vice-Presidente do país no governo socialista Rafael Correa no período de 2007-2013), tem um histórico de diálogo com os movimentos indígenas e se destacou em sua carreira política pela luta das pessoas com deficiência (ele mesmo é um cadeirante por ter sido baleado em uma tentativa de assalto em 1998). Por conta disso, foi nomeado pelo então Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon, como enviado especial do Secretário Geral da ONU sobre Discapacidade e Acessibilidade. Ou seja, Lenín não era necessariamente um político com propostas autoritárias e excludentes. Inclusive, em várias ocasiões criticara as atitudes autoritárias de seu antecessor.
Todavia, ao assumir o o governo pelas eleições em 2017, pelo movimento pró-governo Alianza PAIS, passou a adotar uma pauta neoliberal tendo, dentre outras medidas a flexibilização da legislação trabalhista, redução de custos e de investimentos no setor público e admissão de empréstimos no FMI. Cabe lembrar que a crise interna do Alianza PAIS, com o rompimento da relação entre Correa e Lenín, atingiu outros partidos do país, afastando a participação de outros partidos de esquerda da atual gestão.
Uma das medidas mais impopulares e considerada o estopim para os conflitos sociais atuais foi o fim do subsídio para os combustíveis, afetando diretamente os setores e trabalhadores da área do transporte.
Cabe lembrar que o estado de exceção imposto pelo governo já tinha ocorrido no governo anterior, de Rafael Correa, em setembro de 2010, por conta de protestos da categoria de policiais. A Asembleia Nacional (poder legislativo) fora fechado por 5 dias naquela ocasião.
Porém, por agora, Lenín Moreno é acusado pelos setores da esquerda de trair a proposta de continuidade do governo de Rafael Correa e de acordo com parte da imprensa equatoriana, a outorga do estado de exceção é um elemento forte neste quebra cabeça da crise deste país.
Enquanto isso, o país e as práticas esportivas paralisaram por completo. De acordo com o jornal Ultimas Noticias, a FEF (Federación Ecuatoriana de Fútbol) tomou a iniciativa de suspender a principal partida de futebol na última sexta-feira (04/10) entre LDU e Emelec (dois dos maiores clubes do país) pela Copa Ecuador (similar à nossa Copa do Brasil). O jogo seria realizado em Quito. O caos urbano e social causado pelos protestos e a repressão violenta do governo são os principais receios das federações esportivas no país. Evitar o público torcedor nas ruas tem sido a saída destas agremiações, com pedido oficial ou não do Estado equatoriano.
Após a decisão pela suspensão do principal jogo de futebol no Equador, várias outras práticas esportivas foram interrompidas como, por exemplo, os Juegos Nacionales Menores (Jogos esportivos infantis), o ciclismo, tenis de mesa e tantas outras modalidades.
Os apreciadores de boxe também tiveram que tirar da sua agenda o evento “Fuego contra fuego”, que seria realizado em 05/10 com cinco combates, sendo o principal disputado pelo local Alexander ‘Diamante Espinoza e o colombiano José Luis Prieto.
A Copa Libertadores da América Feminina que tem sede única durante todo o torneio seria disputada pela primeira vez no Equador. Seria. Porque de acordo com o jornal equatoriano El Comercio, não há previsão de início do principal torneio sul-americano de clubes por lá. As duas principais equipes do país terão que aguardar um posicionamento da CONMEBOL e da FEF.
Por outro lado, faz parte também das estratégias de alguns manifestantes indígenas e sindicais tomarem estações de televisão e antenas de rádio, dificultando as telecomunicações no interior do país. conforme podemos assistir no vídeo abaixo:
De acordo com o site brasileiro Fórum, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) denunciou exageros dos órgãos repressivos do governo de Lenín e a própria Cruz Vermelha informou que seus veículos e funcionários sofreram ataques.
Poderíamos pensar que o Equador é uma exceção na América do Sul, mas a fragilidade institucional da democracia atinge outros países como o Peru (com a decretação da dissolução do Congresso Nacional) e com a proximidade com as eleições bem polarizadas entre governo e oposição na Bolívia, sem contar com os discursos e práticas antidemocráticas que vemos e vivemos no Brasil quase todos os dias.
Neste final de novembro e início de dezembro boa parte das atenções da imprensa e do meio futebolístico estavam voltadas para a final da Taça Libertadores da América 2018 entre Boca Juniors e River Plate. Pela primeira vez, no principal torneio de futebol da América do Sul, os maiores rivais da Argentina se encontram na final. Não por acaso a violência foi uma das protagonistas do segundo jogo da final, quando o ônibus do Boca fora atingido por parte da torcida rival a caminho do Monumental de Nunez.
Todavia, quem acha que vamos explorar este episódio da história recente e contemporânea da história do futebol, se enganou.
O clássico a qual nos referimos no título deste breve post é o jogo entre All Boys e Atlanta, no Estádio Islas Malvinas (não por acaso o nome da cancha faz referência a um território que é contestado até hoje pelos argentinos juntos aos ingleses).
Tratava-se de um jogo da Primeira B Metropolitana, equivalente para nós com a Série C ou 3ª Terceira Divisão Brasileira. Numa tarde de 21/11/2018 os dois times se enfrentaram em um estádio com ocupação quase lotada (21.500 pessoas) pela 11ª rodada (jogo adiado anteriormente). O jogo resultou no placar de 3 x 2 para o Atlanta, sendo que o visitante abrira 3 x 0 até os últimos minutos da partida, quando o time da casa conseguira diminuir com 2 gols.
Jogo divertido em um estádio pouco confortável, mas agradável de ser ver. Na imagem 1, podemos observar uma visão parcial da cancha:
Imagem 1: Estádio Islas Malvinas. Autor: André Couto
Como podemos observar, e que ocorre em muitos estádios da Argentina, a torcida organizada localiza-se em uma parte oposta dos demais torcedores do mesmo time. Do lado de cá, ingressos mais caros, muitos idosos e mulheres participavam do jogo. De lá, muitos jovens e homens.
Com o placar adverso, a torcida logo no final do jogo, partia para uma briga generalizada com a polícia local, conforme podemos observar em um jornal popular de Buenos Aires.
Imagem 2: Cobertura do jogo pelo jornal Clarín. Autor: André Couto.
Parte da violência se explica na Argentina pelos problemas sociais e econômicos a que o o país passa há muitas décadas. A economia voltou a apresentar índices bem impopulares com o o atual governo Macri, um liberal eleito sob a égide de sua origem empresarial e futebolista (fora presidente do Boca Juniors, entre 1995 e 2007).
Há poucos dias atrás, inclusive, em outro jogo, porém pela quarta divisão argentina, uma granada fora encontrada no estádio, durante a disputa entre Ituizangó e Deportivo Merlo, conforme podemos reproduzir em matéria do site abaixo:
Outra questão importante é compreender que parte das rivalidades entre os clubes argentinos se explicam pela proximidade e pela rivalidade entre os bairros. Um dos maiores rivais do All Boys (time do bairro de classe média de Buenos Aires chamado Monte Castro) é o Chacaritas Juniors (de bairro próximo), que por sua vez, rivaliza também com o Atlanta (do bairro judeu Villa Crespo). Disputas futebolísticas que avançam pelos territórios urbanos de Buenos Aires (logo abaixo, verificamos o mapa da cidade, dividida por bairros), não apenas pela proximidade entre os bairros mas pela capacidade de ignorar a autoridade policial, o que tem muito a ver com a história de enfrentamento dos movimentos sociais e políticos neste país.
Em apenas 6 dias na cidade, presenciei pelo menos duas grandes manifestações corporativas pelas ruas da capital: uma de enfermeiras e profissionais da saúde, outra de professores, ambas com a perda de direitos trabalhistas, sem falar que no final da semana ocorreria mais uma grande paralisação de aeroviários.
Outro fato importante nos deixa intrigado: a bandeira da Palestina na torcida do All Boys tem a ver com uma identidade com a cultura deste povo ou com a rivalidade do bairro judeu do Atlanta? Para tanto, nos faltam dados confiáveis e empíricos para chegarmos a qualquer conclusão plausível. Todavia, o detalhe é destacado pela imprensa local.
Obviamente, o objetivo do post não foi fazer nenhuma análise sobre a violência argentina, mas apenas pensar em algumas questões importantes: 1) a de nunca abrirmos mão de uma conjuntura contemporânea onde o fenômeno esportivo está inserido; 2) a de refletirmos sobre a história da sociedade que pesquisamos (a argentina, por exemplo, que não deixa a memória sobre a ditadura militar se esvair ou se tornar uma possibilidade política como aqui no Brasil, por exemplo); 3) a de entendermos as lógicas urbanas que permeiam não apenas o espraiamento do esporte (como numa cidade que tem uma quantidade gigantesca de estádios de futebol como Buenos Aires) e nas consequentes rivalidades e aproximações que daí podem derivar.
Finalmente, convido a pensarmos mais nos clubes menores dos países latino americanos, e suas respectivas idiossincracias a fim de entendermos mais das pessoas do que de personagens curiosos, mais da História real do que de uma História mítica.
Imagem 4: Entrada do Estádio Las Malvinas. Autor: André Couto.
Dia feliz para todos(as) os(as) brasileiros(as). Hoje a tarde, a seleção brasileira de futebol venceu o México por 2 x 0 pelas oitavas de final da Copa do Mundo da Rússia. Com gols de Neymar e Roberto Firmino, o Brasil avança para as quartas de final e jogará contra a Bélgica.
Brasil tem um histórico de bons encontros (pelo menos, para nós) com o México e o primeiro deles foi em 1950, justamente na primeira Copa do Mundo sediada por nós.
Neste jogo, em 24 de junho, os brasileiros estreavam na competição e emplacaram 4 x 0 no México com gols de Ademir (2), Jair e Baltazar. O Maracanã, construído para a Copa de 1950 tornava-se o palco não apenas de um projeto modernizante e desenvolvimentista de país, mas um lócus de esperança para a conquista de um título importante no esporte.
A cobertura da Copa do Mundo nos Jornal dos Sports dividia espaços importantes nas páginas do jornal com uma gama de propagandas de equipamentos tecnológicos como vitrolas, máquinas de escrever, máquinas de calcular, de fotografar, bombas d´água, cronógrafos, relógios, bicicletas e rádios de última geração. Uma enxurrada de produtos ditos modernos para uma sociedade que passara a valorizar o consumo de itens simbólicos de um novo momento do país.
O periódico carioca Jornal dos Sports celebrava por meio dos textos dos seus cronistas e jornalistas e enaltecia o início da caminhada do selecionado brasileiro rumo ao título inédito. Todavia, como era de costume, não havia uma confiança excessiva entre os mesmos. Álvaro do Nascimento (conhecido como “Zé de São Januário”) escrevia que: “(…) por incrível que pareça, nunca temi os adversários que chegam do exterior. O meu receio consiste nos adversários cá de dentro. Os ‘quinta colunas’ que por aí andam a dar palpites, metidos a técnicos, verdadeiros espíritos de porco, que jamais se satisfazem com o que Deus lhe deu. Esses, sim, meus amigos!… Esses são capazes de tudo para que subsistam suas opiniões insensatas como as dos asnos. (…) (NASCIMENTO, Álvaro. Jornal dos Sports. 25/07/1950. p. 14). Nascimento aproveitava a crônica sobre o jogo para avisar que deveríamos ter cuidado com o próximo adversário, a Suíça, mas criticava os derrotistas de plantão por não confiar na seleção brasileira.
Antonio Olinto, que escrevia sobre teatro e cinema no mesmo jornal, usa desta cena (conceito proposto por Maingueneau) para ilustrar a bela atuação de Ademir: “(…) Jair sente que pode demonstrar as filigranas de sua técnica se sua técnica, os meandros de sua arte inimitável. Olha para cima, vê um monstro de cimento, repleto de cabeças, de olhos que contemplam suas avançadas, de bocas que exigem seu pé para uma penalidade. Então, respira fundo e sente-se como o ator que vai interpretar o ‘Hamlet” diante da mais culta das plateias. (…)” (OLINTO, Antonio. Jornal dos Sports. 25/07/1950. p.11)
Finalmente, outro grande cronista do jornal, José Lins do Rego apontava a cidade do Rio de Janeiro como a grande protagonista no início do torneio da FIFA: “A cidade mudou de cara com a ‘Copa do Mundo’. Por toda a parte se vê uma mudança de fisionomia. As bandeiras desfraldadas, e por toda parte a ansiedade pelo acontecimento. O Rio de Janeiro se entregou de corpo e alma aos visitantes que aqui chegaram, para ver de perto uma autêntica maravilha da natureza. O Rio não esconde um pedaço de mar, um recanto de floresta, uma nesga do céu. A cidade se preparou com suas melhores festas, aí está bonita como nunca”. (REGO, José Lins do. Jornal dos Sports. 25/07/1950. p.11).
Enfim, a estreia do Brasil era retratada pelo Jornal dos Sports como uma oportunidade de: 1) Manter o caleidoscópio discursivo e estilístico dos cronistas deste jornal; 2) Mobilizar a defesa da cidade do Rio de Janeiro como palco central do campo esportivo brasileiro; 3) Compreender que era necessário vencer o excesso de confiança sobre o desempenho da seleção brasileiro na mesma medida que a mesma deveria ser apoiada de forma inconteste, inclusive nos elogios aos jogadores que se destacavam a cada partida daquele torneio; 4) Ampliar o campo publicitário da empresa por meio da oferta de produtos e serviços. 5) Articular a cobertura esportiva impressa com outros veículos de comunicação como o rádio.
Bem, o resultado daquela campanha todos nós sabemos. Porém, ao olharmos para a Copa de 1950, precisamos descortinar o evento como um todo, em todos os seus meandros e possibilidades, para além de uma preocupação exclusiva com a final contra o Uruguai.
Curiosidade: Em 1950, assim como em 2018, o Brasil ganhou do México, empatou com a Suíça e ganhamos da Iugoslávia (Em 2018, foi o caso da Sérvia). Repetiremos 1950 chegando na final? A saber…
Curiosidade 2: Além do primeiro e último encontro com o México em Copas do Mundo, o Brasil jogou em 1954 (5 x 0), 1962 (2 x 0), 2014 (0 x 0). Ou seja, nunca perdeu e nem sequer levou um gol.
Comentários desativados em Brasil X México na Copa do Mundo: o Início de um Encontro | História do Esporte | Link permanente Escrito por André Couto
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