Completando a pelada: futebol mineiro na Copa de 50

26/07/2015

Olá amigos do Histórias do Sport.

Em meu último post (veja aqui), falei um pouco sobre a Copa do Mundo de 1950, mais especificamente sobre os jogos disputados no Estádio do Independência. Argumentei através da análise dos números de público e renda dos jogos no estádio sobre qual seria o espaço do futebol na cidade.

No post de hoje apresento alguns fatos curiosos e que complementam essa análise,  dessa vez de forma mais qualitativa. Se os números podem mostrar pouca expressão dos jogos da Copa do Mundo em Belo Horizonte, as trocas culturais foram, no mínimo,  interessantes.

O jogo de abertura da Copa do Mundo no estádio do Independência aconteceu entre Suíça e Iugoslávia. Em sua passagem por Belo Horizonte a seleção da Iugoslávia contou com reforço em sua equipe, como mostra a reportagem do Jornal Diário da Tarde.

No “Estádio Independência”, iugoslavos e suíços realizaram, ontem, à tarde, o seu primeiro treino em canchas da cidade. O acontecimento levou ao local da sua realização um público numeroso que teria sido maior, não fossem as notícias que os treinos seriam a portões fechados. Em primeiro lugar, ensaiaram os eslavos, entre os quais figuram os “players” Pradinho, Eliseu e Toledinho, do Sete, pedidos por empréstimo a fim de completar as equipes. (…)O resultadop do exercício foi de 2 x 2 tentos marcados por Vukas, Mitic, Elison e Tomachevich. As duas equipes foram as seguintes: VERMELHOS, (reservas): Beara – Instankovich – Colich – Palfi – Pradinho (do Sete) – Atanoskovich – Eliseu (do Sete) – Mikailovich – Firm – (Tomachevich) – Tchaikovsch II – Toledinho (do Sete). AZUIS, (titulares): Makvschick – Hoivat – Broketa – Tchaykovischi I – Yovanovich – Diaich – Ognvanov – Mitic – Tomachevioli – Bobek – Vukas. ( O DIÁRIO DA TARDE, 23 de junho de 1950, p. 3)

Os treinos da seleção da Iugoslávia na cidade promoveram três jogadores mineiros à condição de craques internacionais. Pradinho, Toledinho e Eliseu – esse último, inclusive, assinalando um gol durante os treinamentos – fizeram parte do time reserva da seleção da Iugoslávia durante o treino contra o time principal. Os três faziam parte do time do Sete de Setembro, que era o proprietário do estádio do Independência. Se para a torcida a Copa do Mundo era uma oportunidade única para conhecer mais sobre novas culturas e formas de se jogar futebol, para os jogadores do Sete de Setembro foi uma boa oportunidade para troca de experiências.

Além dos três jogadores, encontramos nas fontes o registro de outra participação mineira durante a Copa do Mundo. O médico da equipe do Sete de Setembro, Sr. Otávio Costa, prestou serviços à delegação norte-americana, quando os mesmos estiveram em Belo Horizonte para a partida contra a Inglaterra. (O ESTADO DE MINAS, 30 de junho de 1950, p. 7)

A Copa do Mundo de Futebol em 1950 colocava Belo Horizonte no cenário esportivo mundial. Do ponto de vista dos torcedores, foi a oportunidade de tomar parte neste cenário. A sua presença nos jogos esteve diretamente relacionada ao ineditismo do evento, bem como com a importância das partidas dentro da competição e o prestígio das seleções e jogadores que protagonizaram os jogos.

Para os jogadores e times da cidade pode também ter sido uma oportunidade de troca de experiências, de desenvolvimento da cultura esportiva de Belo Horizonte.


Candidatas à Glória: a mulher esportiva da década de 1940

16/10/2013

Por André Schetino

Olá amigos do História(s) do Sport. Há alguns meses atrás fiz um post falando sobre esporte e eugenia em Minas Gerais, e mostrei essa relação a partir de um evento esportivo chamado “Ginástica Feminina da Primavera”.

No post de hoje vou mostrar, a partir de alguns exemplos, diferentes relações entre as mulheres e o esporte na década de 40. Trouxe duas imagens que tratam a mulher de forma distinta, mas ambas colocam os esportes como elemento importante oui mesmo predominante.

A primeira delas foi o anúncio e o texto transcrito abaixo, que encontrei nas páginas da Revista Alterosa e divido com vocês:

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 Prestigiae a grande obra de educação e cultura que o Governo de Minas vem realisando com absoluta firmeza, adquirindo os bilhetes da Loteria Mineira. Amparareis, assim, o futuro da nossa terra, porque esse futuro depende dos homens de amanhã, isto é, da mocidade que está aprimorando o espírito e o corpo nas escolas e nos nossos campos de esporte.[ii]

Trata-se de um anúncio da Loteria Esportiva Mineira, promovida pelo governo do Estado, de 1939. Apesar de enfatizar que o futuro de nossa terra depende dos homens de amanhã, o anúncio era ilustrado com o desenho de uma mulher (principal público da Revista Alterosa) realizando o movimento de arremesso de peso. Além disso, o texto destacado permite diferentes interpretações: na primeira, o esporte estaria colocado em pé de igualdade com a educação, servindo como forma de aprimoramento corporal e espiritual. Mas o texto permite também pensarmos sobre uma importância relativa do esporte, mostrando o entendimento de que havia espaços e momentos distintos para a educação do espírito e do corpo.

Se no primeiro exemplo a mulher já aparecia praticando esporte (mesmo com uma referência no texto aos homens), nosso segundo exemplo ela se torna a protagonista. Trata-se de uma reportagem de 1945, na qual a revista Alterosa apresentava “conselhos às jovens que desejam vencer na vida”. Entre dicas como alimentação moderada, estudos e polidez, estava também a prática esportiva regular.

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Clicando nas imagens você consegue ver a reportagem ampliada. Destaco o trecho abaixo:

A proeficiência em esporte ao ar livre é sempre um ativo na conta da jovem que deseja progredir em sua carreira. O esporte, além de desenvolver harmoniosamente o físico, quando praticado com método, ainda auxilia a relaxar a torsão nervosa tão frequente nas pessoas de grandes aspirações.[iii]

A reportagem mostra agora uma mulher que ganhara o mercado de trabalho com a II Guerra Mundial e nele deveria permanecer e buscar sucesso, desde que seguindo alguns conselhos. O esporte estava no rol das práticas imprescindíveis para aquelas que queriam alcançar não só a saúde e o bem estar, mas também o sucesso no mundo do trabalho.
O que acho mais interessante nesses exemplos é que, mesmo com uma mensagem clara, eles fazem parte de um conjunto de fatos que marcaram um aumento na participação feminina na sociedade, seja no mundo do trabalho ou nos esportes. Falando de participação em alto nível, como nas Olimpíadas, temos 11 mulheres na delegação brasileira no jogos de Londres em 1948, contra 6 em Berlim (1936) e apenas uma em Los Angeles (1932), que marcou o início da participação de brasileiras nos jogos.
E já que estamos falando de mulheres e esportes, aproveito para indicar o excelente documentário Mulheres Olímpicas, de Lais Bodansky, exibido no último domingo no canal ESPN Brasil. Deixo pra vocês o trailer.
Abraços e até o próximo post!

[ii] REVISTA ALTEROSA nº 01, agosto de 1939, p. 22. Grifos meus.

[iii] Candidatas à Glória – conselhos às jovens que desejam vencer na vida. REVISTA ALTEROSA, nº 67, novembro de 1945, p.86 e 94(continuação). Matéria não assinada


Esporte de farmácia: a beleza feminina na década de 40

04/03/2013

Por André Schetino

Olá amigos do História(s) do Sport.

É com muita alegria que inicio mais um ano fazendo parte do time do blog, e hoje trago um dos temas mais controversos para as nossas páginas: vou falar um pouco das relações entre esporte e saúde.

Desde o surgimento do esporte moderno, vimos a ciência propalar os benefícios da prática esportiva para a saúde. Ao mesmo tempo, e praticamente na mesma medida, vimos também se estabelecer e aumentar a relação entre o uso de drogas (lícitas e ilícitas) associadas à prática esportiva.

Se hoje as discussões sobre o doping no esporte (tendo o caso do atleta do ciclismo Lance Armstrong como o mais recente “escândalo”) dominam o noticiário, podemos dar uma olhada para o passado, para ver que o Esporte de Farmácia sempre foi uma modalidade bastante popular.

Voltemos ao ano de 1945. A indústria farmacêutica, que sempre se pautou pelo discurso da saúde e das ciências médicas para a venda de seus produtos, e agora valorizava também os aspectos estéticos. A propaganda do regulador intestinal Gynestol, veiculada em Belo Horizonte neste ano[1], dá uma idéia de como essa relação entre saúde e beleza ocorria.

Fonte: REVISTA ALTEROSA nº 68, dezembro de 1945, p. 165.

O anúncio mostra uma mulher em trajes esportivos, curtos, comemorando ao cruzar a linha de chegada de uma competição esportiva. Junto à imagem, os dizeres: “Garante a saúde e a alegria da mulher!” Uma análise nos permite perceber não só a mensagem direta da saúde e alegria ligada ao uso do produto, mas dá indícios do novo padrão de beleza corporal feminina. O corpo feminino estava agora muito mais exposto do que em anos anteriores, graças aos trajes esportivos. A prática esportiva também tornara esse corpo mais esbelto, saudável e tonificado.

As referências ao novo corpo feminino continuam em outros anúncios de vários produtos farmacêuticos. Vejamos um exemplo de 1947, em um anúncio do Leite de Colônia – “O embelezador da mulher”

Fonte: REVISTA ALTEROSA nº 82, fevereiro de 1947, p. 41

Fonte: REVISTA ALTEROSA nº 82, fevereiro de 1947, p. 41

O anúncio do Leite de Colônia foi veiculado na Revista Alterosa, que circulava em Belo Horizonte, onde provavelmente uma boa parcela das mulheres não tivesse acesso às viagens para a praia, mas sim aos esportes. No Rio de Janeiro, por sua vez, a praia convidava a população para a vida ao ar livre e a prática esportiva. Vale lembrar que a cidade do Rio de Janeiro sempre foi marcada por ser uma metrópole cultural, de costumes e modos de vida considerados “modernos”, comparados sempre a outras grandes cidades mundiais. E as praias na década de 40 já eram um importante espaço para o esporte e o lazer dos habitantes da cidade, inclusive das mulheres, como nos indica um anúncio na Revista O Cruzeiro.

Seja Sportiva

Mas, conserve sua beleza.

O cansaço dos sports, a agua do mar, o sol ardente e o calor resecante da areia são os maiores inimigos da pele. Para conservar sua belleza, alimente, amacie e proteja a sua cútis com massagens diárias de Creme Simon – o creme de beleza das Parisienses[3].

As mulheres eram agora estimuladas a saírem às ruas, mas para isso, seus corpos deveriam estar bem cuidados, saudáveis, e obedecer a um novo padrão de beleza. Um corpo (feminino) belo era, portanto, um corpo harmonioso, gracioso, e especialmente, livre do excesso de gordura. A partir de agora, aquelas que por ventura fugissem ao novo padrão corporal da cidade moderna, estariam sujeitas ao julgamento de todos àqueles que agora viviam sob os novos preceitos e padrões de beleza.

E como eram essas relações com o corpo masculino?

Isso é um assunto para outro post. Até os próximos!


Fontes:

[1] REVISTA ALTEROSA nº 68, dezembro de 1945, p. 165.

[2] REVISTA ALTEROSA nº 82, fevereiro de 1947, p. 41. Grifos meus.

[3] O CRUZEIRO, 06 de janeiro de 1940, p. 10.


Esporte e eugenia: a Ginástica Feminina da Primavera em Minas Gerais

07/11/2012

Por André Schetino

Olá amigos do História(s) do Sport. É com muito prazer que escrevo mais um post sobre a história do esporte em Belo Horizonte e no Estado de Minas Gerais. Hoje, vou falar um pouco sobre as relações entre Esporte e Eugenia, dando como exemplo um evento esportivo do ano de 1959.

As relações entre esporte e Eugenia sempre me interessaram. Vale lembrar, que a eugenia foi uma corrente de pensamento que dominou os círculos de poder desde o início do século XX, e a exemplo do papel representado pela Higiene na transição dos séculos XIX e XX,  foi mais um movimento que conquistou pessoas influentes no campo político, ganhando espaço em países como os Estados Unidos e a Alemanha na administração pública. Por trás do discurso principal de seleção genética e melhoramento da raça, a eugenia conquistaria a partir de um discurso pseudo-científico grande espaço e poder político, e viria experimentar o auge de suas teorias racistas durante a Segunda Guerra Mundial.

O esporte seria então um mecanismo imprescindível para o melhoramento da raça, para elevação espiritual de uma nação. Os atletas, exemplos perfeitos de uma raça melhorada, deixavam multidões boquiabertas com seus feitos. Podemos perceber esse discurso em alguns eventos envolvendo a prática esportiva. O mais conhecido deles, foram os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, retratados no filme Olympia, de Leni Riefenstahl.

Mas não precisamos ir tão longe, pois no Brasil os ideais eugênicos também estiveram em voga. Mesmo com o fim da Segunda Guerra, esses valores ainda perduraram por muito tempo, e eram frequentemente relacionados à prática esportiva. É o que podemos constatar em um evento que aconteceu em Belo Horizonte em novembro de 1959. A II Ginástica Feminina da Primavera era um festival de ginástica, que reuniu delegações de cidades como Ubá, Rio de Janeiro e Belo Horizonte em torno da prática esportiva.

Destaco abaixo o texto da reportagem da Revista Alterosa nº 318, de novembro de 1959.

Aos olhos encantados do grande público que acorreu para prestigiar as equipes integrantes – desfilaram, em números aplaudidos, jovens que bem expressam, na exuberância de seu aprimoramento físico e beleza feminina, o esplendor da nova geração brasileira. (…) Todas as equipes se caracterizaram pela homogeneidade de movimentos coreográficos e alto índice de beleza física, numa comprovação dos benefícios resultados da ginástica moderna. Foi, na realidade, festa de eugenia e beleza, evidenciando a eternidade da legenda helênica: mens sana in corpore sano, que deveria ser o roteiro da mocidade universal para a elevação espiritual dos povos. (p.56)

A Ginástica Feminina da Primavera mostra que os ideais eugênicos estiveram em voga durante muito tempo no Brasil e no mundo. O esporte seria também responsável pelo desenvolvimento do corpo e o aprimoramento da raça, que deveria ser dotado de força, utilidade e beleza. Os valores esportivos se disseminaram mundo afora, o que contribuiu para que ele se tornasse uma das práticas mais massificadas do planeta.
Para saber mais:
Livro: BLACK, Edwin. A Guerra contra os Fracos: a eugenia e a campanha dos Estados Unidos para criar uma raça dominante. São Paulo: A Girafa Editora, 2003.
Filme: Olympia – Leni Refensthal (1938). Link para o filme no Youtube

O esporte nas Alterosas

26/03/2012

Por André Schetino

Olá amigos do História(s) do Sport. Como todo bom atleta, após o período de férias e pré-temporada, é com muita alegria que estreio nos campos do blog neste ano de 2012.

Nos últimos tempos tenho trabalhado (e me divertido) bastante com a Revista Alterosa. Trata-se de uma das revistas mais populares da capital mineira entre as décadas de 40 e 60, que em dezembro do ano passado foi disponibilizada on-line pelo Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte.

O primeiro número da Revista, em agosto de 1939.

Interessante perceber como o esporte aparece em uma “revista de sociedade” (ao estilo das mais conhecidas Fon Fon e Cruzeiro), dedicada principalmente ao público feminino. Apesar de não possuir uma seção exclusiva dedicada ao esporte (o que só acontece nos exemplares da década de 60), o mesmo aparece em suas páginas em praticamente todos os números.

Dicas de exercícios para manter a forma sem sair de casa, artistas do cinema americano em trajes esportivos, os grandes nomes do rádio esportivo e especialmente, a participação feminina nos esportes são alguns dos exemplos encontrados nas páginas da revista. Abaixo, uma reportagem do ano de 1942 (clique na imagem para ampliar)

Fonte: Revista Alterosa, ano 04, janeiro de 1942, p. 34

Fonte: Revista Alterosa, ano 04, janeiro de 1942, p. 35

A reportagem dá o tom de alguns valores esportivos da época, bem como do contexto da Belo Horizonte que começava a experimentar período de grande progresso. Uma cidade tão moderna, “forçosamente” deveria ser desportiva. A empreitada esportiva de Belo Horizonte iniciada e mal sucedida nos primeiros anos da capital finalmente começava a tomar corpo. Na verdade corpos: “atléticos”, “moços, palpitantes de saúde e de vitalidade”. 

Eis aí uma ótima dica de leitura para os interessados não somente na história do esporte, mas também na sociedade mineira nas décadas de 40 a 60. Nos próximos posts trarei mais algumas pitadas esportivas das Alterosas.

Para ter acesso à coleção completa da Revista Alterosa digitalizada pelo Arquivo Público da Cidade e Belo Horizonte é só clicar no link abaixo:

http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecpTaxonomiaMenuPortal&app=arquivopublico&tax=26801&lang=pt_BR&pg=6742&taxp=0&


1949: pílulas sobre o esporte em Belo Horizonte

12/12/2011
por André Schetino
O ano vai terminando, e com ele meu último post da temporada 2011 aqui do História(s) do Sport. Recebi por email a indicação do vídeo abaixo, que divido com vocês. Trata-se de Belo Horizonte em 1949, em um filme produzido pelo Escritório de Serviços Estratégicos Americanos em colaboração com o Escritório de Coordenação dos Negócios Inter-americanos dos E.U.A.
Vale lembrar que que o período em questão é de grande desenvolvimento para a cidade, marcado pela industrialização, os investimentos do Prefeito Juscelino Kubitschek e a busca por parceiros comerciais para a capital mineira, naquele momento a 7ª do país e com pouco mais de 200mil habitantes.
O vídeo é longo, são 17 minutos ao todo (divididos em 2 partes), e aborda diversos aspectos do desenvolvimento de Belo Horizonte. Na primeira parte o destaque é a indústria da mineração, que alavancava a economia do Estado. Destaco a segunda parte do vídeo, especialmente a partir dos 5’22” onde o lazer e o esporte entram em cena.
Primeiro ao mostrar o Parque Municipal, que podemos considerar como o berço do esporte na cidade. Lá ocorreram competições de ciclismo, jogos de futebol, patinação, tenis e muitos outros. O Parque até hoje é um dos espaços privilegiados para o lazer na cidade, famoso por estar sempre lotado aos domingos para os passeios em família ou de casais de namorados.
Além disso, o Minas Tennis Clube, que já foi tema do meu segundo post aqui no blog sobre os clubes esportivos da cidade. As imagens são belíssimas, com destaque para as exibições de ginástica. No Iate Clube, na recém construída Pampulha, os esportes náuticos faziam sucesso àquela época. Além, é claro, do Cassino (onde hoje se localiza o Museu de Arte).
Desejo a  todos os leitores ótimas festas de fim de ano, e um 2012 com muitas alegrias. Um abraço!

Tapa na peteca

01/08/2011

Por André Schetino

Desde o início do “Historias do Sport” pensava em dedicar um post à Peteca. O artefato está presente na infância de grande parte dos belo horizontinos. Lembro de jogar com meu primo petecas feitas de palha de milho e penas de galinha, confeccionadas pela avó dele. Lembro também da dos clubes esportivos que freqüentei e trabalhei, onde as muitas quadras viviam sempre lotadas aos finais de semana, com jogos e campeonatos. Eis que pouco antes do pequeno recesso do mês de julho tive a oportunidade de ler o trabalho de Renato Machado dos Santos, a dissertação de mestrado “A peteca, o Campo do Lazer e a dinâmica da cidade de Belo Horizonte (1980-1994)”.

Em seu trabalho, Renato mostra como a peteca se tornou uma verdadeira febre em Belo Horizonte, com direito a um jornal específico – chamado O Petequeiro – e um bar (ao melhor estilo mineiro) com várias quadras de peteca, pro pessoal curtir um happy hour depois de um dia de trabalho. Além disso, Belo Horizonte foi palco do 1º Campeonato Brasileiro de Peteca, em 1987.

Foto noturna do bar Boa Forma, em Belo Horizonte. Fonte: O PETEQUEIRO, p. 6, 1984

Em uma cidade onde os clubes esportivos se estabeleceram durante muito tempo como um dos principais espaços de lazer, a peteca encontrou um vasto campo para seu desenvolvimento e caiu no gosto e no cotidiano da cidade. Para realizar sua pesquisa Renato entrevistou pessoas importantes no cenário da peteca, e centrou sua investigação nos anos de 1980 a 1994, período em que existiu um dos espaços mais importantes para sua prática – o Campo do Lazer (antigo campo do Clube Atlético Mineiro e hoje um shopping center).

O Campo do Lazer. Fonte: SMES, 1985, p. 23.

Vale ressaltar a importância do registro oral de fontes que foram importantes para a prática desse esporte em Belo Horizonte, além de preservar a memória de uma prática esportiva ainda muito pouco estudada no âmbito da História do Esporte.

A dissertação de Renato é a primeira no Brasil sobre o esporte. Afinal, em Belo Horizonte o tapa na peteca é coisa séria


Esporte Clube da Esquina

16/05/2011

Por André Schetino

Álbum Clube da Esquina, de 1972


A música popular brasileira caminhou sempre ao lado de outras manifestações de nossa cultura, dentre elas o esporte, e especialmente o futebol. Como apreciador do Clube da Esquina, movimento musical mineiro que cresceu nas ruas do boêmio bairro de Santa Tereza, sempre me perguntei sobre as relações que a turma das alterosas teria com o esporte. Será que os “hippies” mineiros em suas viagens musicais não vivenciavam a cultura esportiva?

Dificilmente.

Foi aí que encontrei a tese de doutorado: Na esquina do mundo: trocas culturais na música popular brasileira através da obra do Clube da Esquina (1960-1980), de Luiz Henrique Assis Garcia. No trabalho (defendido em 2007 e no ano passado transformado em livro), Garcia nos mostra que a obra do Clube da Esquina deve ser compreendida dentro de seu contexto histórico, nas influências de seus diversos membros, das suas relações com outros grupos e movimentos (nacionais e internacionais). O trabalho cita um trecho de entrevista com Lô Borges, onde o mesmo afirma que a “esquina” onde os músicos partilhavam seu cotidiano era o “lugar onde acontecia de tudo: música, futebol, peladas homéricas”, um lugar “democrático”(p. 174).

E nada como o tempo para modificar a história, dar a ela novos sentidos e significados. Em uma época de bondes sem freio, trens balas e carroças desembestadas, cabe lembrar que é do Clube da Esquina uma analogia anterior, envolvendo o veículo sobre trilhos tão querido nas Minas Gerais e o futebol: “o trem azul“.

A música, lançada em 1972 no álbum Clube da Esquina não foi composta sob a ótica do futebol. Para muitos, o trem azul seria a metáfora da própria vida. Porém, tornou-se em tempos mais recentes (especialmente a partir dos anos 2000) uma homenagem à grandes equipes formadas pelo Cruzeiro Esporte Clube. Essa ressignificação da canção pode ser vista no vídeo abaixo, na voz de ilustres cruzeirenses: Lô Borges (autor da música), Milton Nascimento e Samuel Rosa, todos devidamente uniformizados.

E a parceria música e esporte não parou por aí. Em breve trarei em outros posts um pouco mais dessa relação em música e futebol em Belo Horizonte. Para terminar em alto estilo, outra parceria linda de Milton Nascimento e Fernando Brant, de 1995, onde a bola rola solta: bola de meia, bola de gude.

P.S. – Quis o destino que o calendário de atualização do blog me presenteasse com essa segunda-feira pós campeonato mineiro, onde o glorioso Clube Atlético Mineiro viu diminuir sua vantagem de títulos estaduais sobre o grande rival celeste. Apesar da ressaca, fica este post com as merecidas felicitações aos meu amigos cruzeirenses.


M.S.E. – Movimento dos sem estádio

31/01/2011

por André Schetino

No último dia 29 iniciou-se o campeonato Mineiro de Futebol. A imprensa exalta o bom momento do futebol mineiro, com a presença dos três clubes de Belo Horizonte na primeira divisão do futebol brasileiro, o que não ocorria desde 2001. No entanto, destaca também um aspecto inusitado: a cidade de Belo Horizonte inicia o ano sem um estádio de futebol, fazendo com que Atlético, América e Cruzeiro mandem seus jogos em cidades do interior ou da região metropolitana da cidade.

A intempérie começou com Belo Horizonte largando na frente na corrida pela Copa do Mundo de 2014. Com interesses claros em colocar a cidade na disputa pelo jogo de abertura da Copa, o então gorvenador Aécio Neves mostrou seu pioneirismo, sendo o estádio do Mineirão o primeiro a ser fechado para início das obras, em julho de 2010.

A medida que agradara a comissão organizadora dos jogos deixou Atlético e Cruzeiro sem estádio para o Campeonato Brasileiro de 2010. A idéia inicial era que o transtorno durasse pouco, pois o estádio do Independência – pertencente ao América Mineiro e construído para a copa de 1950 – seria também reformado, e entregue à cidade em novembro de 2010, permitindo  aos clubes de Minas a sua utilização nos jogos finais do campeonato.

Porém, como infelizmente é comum e se obseravar Brasil afora com a questão dos estádios, as obras não só atrasaram como ultrapassaram o valor orçado para o projeto inicial. Moro próximo a região do estádio e tive a oportunidade de acompanhar o estágio inicial de das obras, que consistiu na demolição e limpeza do terreno, deixando-o com a “assustadora” aparência da foto abaixo.

O processo foi rápido, iniciou-se em 22 de janeiro de 2010, o que deu a impressão de que o cronogarama de obras seria cumprido. Mas a entrega do estádio já teve sua data alterada algumas vezes. A última divulgação estipula o mês de junho deste ano. Os responsáveis pela obra alegam que as chuvas do início do ano de 2010 e mudanças no projeto inicial feitas pelo América atrasaram o cronograma de obras. Além disso, o projeto que estava orçado em R$ 54 milhões tem agora seu custo recalculad o para R$ 70  milhões, até o momento.

A falta de um estádio em Belo Horizonte foi a principal reclamação dos clubes no ano passado. E persistirá esse ano, com o início do Campeonato Brasileiro sem um estádio para mandarem seus jogos. Apesar das obras estarem em andamento, o medo maior é de que o probelema perdure por todo o ano.

Abaixo, um link para a reportagem que mostra o atual momento das reformas no estádio do Independência.

http://globoesporte.globo.com/minas-gerais/noticia/2010/11/novo-estadio-independencia-ficara-pronto-ate-o-mes-de-junho-de-2011.html


Nós vamos invadir sua praia…

07/11/2010

Por André Schetino

Vi há algumas semanas na tv uma notícia que logo me remeteu à uma das irreverentes música da banda Ultraje a Rigor (que intitula esse post) e também ao meu camarada Rafael Fortes, que escreve aqui no blog. Era uma pequena reportagem cobrindo o IV Campeonato Mineiro de Surf, realizado no final do mês de agosto na praia de Geribá, em Búzios (RJ).

Os esportes náuticos em MG são bastante difundidos quando se trata de práticas que podem ser realizadas em rios, lagos, represas e afins, como o rafting, wakeboard, jet ski entre outros. No caso do surf, confesso que inicialmente achei inusitado, mas logo compreendi que o que acabara de assistir fazia parte de um movimento até comum nos esportes: a escolha de modalidades esportivas na qual sua prática é inviabilizada pela ausência de espaço próprio no local.

Talvez o maior exemplo disso esteja no filme “Jamaica abaixo de zero”, comédia que fez bastante sucesso, e hoje já figura entre os clássicos dignos das reprises da Sessão da Tarde. O filme mostra com boa dose de humor a participação da equipe da Jamaica nas provas de trenó no gelo, modalidade conhecida como bobsled.

Jamaicanos praticando bobsled, brasileiros com delegação nos Jogos Olímpicos de Inverno, campeonato brasileiro de esqui e snowboard realizado na Argentina, e mineiros nas ondas do surf são alguns exemplos do esporte quebrando barreiras geográficas. O caso do campeonato mineiro de surf (em sua 4ª edição) evoca o discurso do fascínio que os representantes das alterosas têm pelo mar. Apesar de faltarem indícios científicos que comprovem essa teoria, a escolha de pacotes turísticos e a alta taxa de ocupação de hotéis e pousadas nas praias por mineiros (dentre os quais me incluo) mostram que o discurso não é construído sem fundamento.

Para terminar em grande estilo, escolhi outro exemplo para ressaltar a relação dos mineiros com o surf, além de mostrar a amplitude das práticas do campo esportivo. Deixo vocês com o clipe da música  Harbor Patrol da banda mineira de surf music, chamada Estrume n’ tal. A banda figura entre as muitas que participam do “Primeiro Campeonato Mineiro de Surf”, festival de surf music que acontece em Belo Horizonte se encontra em sua 10ª edição.

Para saber mais:

IV Campeonato Mineiro de Surf – http://www.ysports.com.br/index.php?primario=sala&id_sala=96

10º Primeiro Campeonato Mineiro de Surf – http://campeonato.reverb-brasil.org/