Por Rafael Fortes (raffortes@hotmail.com)
Esta postagem completa uma trilogia iniciada por “Pesquisando história do surfe no Sul da Califórnia” e “Os museus de surfe da Califórnia“. Diferentemente do que geralmente faço, foco é mais em imagens que no texto. Todas as fotos são de minha autoria.
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A lista de surf shops, marcas, empresas, shapers e oficinas de produção de materiais e equipamentos originários do Sul da Califórnia é enorme. Cito algumas: Clark Foam, Dewey Weber, Gordon & Smith, Hobie, Infinity Surfboards, Mark Diffenderfer, Pat Curren, Rusty, Ventura Surf Shop, (há listas extensas na internet, como esta).
Em entrevista [em inglês] ao projeto Sport in the Cold War (Esporte na Guerra Fria), o historiador Mark Dyreson afirma que os Jogos Olímpicos foram arenas para a divulgação de produtos, hábitos, práticas, modalidades esportivas e valores associados à Califórnia: camisas “havaianas”, calças jeans, filmes de Hollywood, praia, natação, vôlei de praia, mountain bike. Isto se deu em diferentes momentos do século XX, em especial nos anos 1930 e nos anos 1980, quando Los Angeles sediou as Olimpíadas de verão, em 1932 e 1984. Na mesma cidade encontram-se os estúdios hollywoodianos, cujos filmes cumpriram uma dupla função: produtos de exportação, também funcionaram como instrumentos de propaganda de uma série de elementos do que se convencionou chamar de culturas californianas, tanto para consumo interno (para públicos dentro do país e tropas espalhadas pelo planeta) quanto em escala mundial.
Esta postagem está organizada por cidade/localidade, começando pelo Condado de San Diego.
San Diego
Entre os diversos centros culturais, museus e galerias do Balboa Park está o San Diego Hall of Champions. Um dos atrativos é um Hall da Fama homenageando atletas nascidos na cidade e/ou no condado. O skatista Tony Hawk, de Carlsbad (no norte do condado), é um dos homenageados no Hall da Fama.
- Mapas com picos de surfe e formação de ondulações na cidade de San Diego.
- Mapa com picos de surfe nas cidades ao norte do Condado de San Diego.
- Coleção de pranchas.
- Um skatista entre muitos atletas de futebol americano, basquete e iatismo.
- Placa sobre Tony Hawk.
San Diego é uma das capitais da cerveja e das cervejarias artesanais nos EUA. Algumas têm referências a praia (e se localizam próximas à praia) e/ou ao surfe, como Rip Current. De uma lista de cinco cervejas temáticas de surfe disponível no site da revista Surfer, duas são de cervejarias localizadas no Condado de San Diego (em San Diego e San Marcos). E outra da Surf Brewery de Ventura, outra importante cidade de surfe californiana.
Ao sul de San Diego encontra-se Imperial Beach, a última cidade e uma das últimas praias da Costa Oeste do país. Como de costume, o píer favorece a formação de boas ondas dos dois lados. Além de humanos, Imperial Beach também recebe surfistas caninos, que contam com um apoio de seus donos para dropar nas ondas. Até campeonato de surfe de cachorros eu tive oportunidade de assistir (uma boa onda está em 3’14”). Note-se que a gravação foi disponibilizada num site chamado Dog Sports News, algo como Notícias de Esportes Caninos. Havia um conjunto de barraquinhas com produtos especializados, venda de petiscos e cervejas, brinquedos e brincadeiras para crianças etc. O campeonato contava com palanque, sistema de som, chamada de competidores e distribuição de camisetas antes do início de cada bateria etc.
Ao norte do condado, Oceanside, sede do California Surf Museum, é outra cidade que respira surfe. Tal como Imperial Beach, tem seu píer.
- Píer de Oceanside. À direita, concha acústica.
- Garimpeiro.
- Lado sul (esquerdo) do píer de Oceanside.
- Idem.
- Placa proibindo skate, patins e afins.
Huntington Beach
- Pier de Huntington Beach: vôlei de praia e surfe.
- Visão desde o início do pier.
- Visão desde o meio do píer.
- Loja no píer: produtos com referência ao surfe.
- Calçada da Fama: Peter PT Townend, Rob Machado, Taylor Knox, Brad Gerlach.
- Calçada da Fama: Gerry Lopez
- Calçada da Fama: Tom Curren e Mark Richards.
- Calçada da Fama: Kelly Slater.
- Calçada da Fama: inaugurada em 1978.
- Calçada da Fama: Simon Anderson e Ian Cairns.
- Huntington Beach: sede do U.S. Open of Surfing
- Casaco dos Bronzed Aussies (segundo o museu, pertenceu a Peter Townend).
- Segundo o cartaz, as competições de surfe em Huntington Beach começaram em 1959. Várias delas tiveram as premiações entregues por Duke Kahanamoku em pessoa. Entre os campeonatos importantes: Katin Team Challenge (1977-1998), OP Pro (1982-1998) e U.S. Open (1994-presente).
- Cartazes de filmes de surfe.
- Materiais impressos do “cinema do surfe”: segundo outro cartaz, “abriu em 1925 como Scott’s Theatre e funcionou como “Cinema de Surfe de Huntington Beach entre o fim dos anos 1960 e o início dos anos 1980”.
- Cartaz do filme “Free Ride”, incluindo data de exibição no Surf Theatre de Huntington Beach (1984).
- Segundo a legenda, “as quatro letras são do letreiro original do Surf Theatre” (faltam as luzes de neon).
- Calçada da Fama: Lisa Andersen (1994).
- Discos autografados de Jan & Dean.
- Pedra inaugural do píer, 1914.
- Busto de Duke Kahanamoku (há uma estátua dele na Calçada da Fama, da qual infelizmente não tenho foto).
- Surf shop.
- Surf shops na rua que leva ao píer.
- Homenagem na Calçada da Fama aos fundadores da National Scholastic Surfing Association (NSSA), em 1978.
- “50 anos de campeonatos de surfe no píer de Huntington Beach”. (Em 2000, a brasileira Tita Tavares.)
- Calçada da Fama: Drew Kampion.
- Surf shop.
- À esquerda: píer. À direita: surf shop.
- Surf shop.
- Placa indicando a direção do estacionamento no centro de Huntington Beach.
- Placas indicando estacionamento no centro de Huntington Beach.
Esta pequena cidade considera a si mesma a capital do surfe competitivo na Califórnia. Motivos não faltam, como se pode ver nas fotos e legendas acima. Campeonatos, história, passado, campeões, ídolos, comércio, turismo e outros elementos formam uma notória e especial relação entre surfe, território, cultura e economia. Os lados do píer são um importante pico de surfe, assim como da prática de vôlei de praia – a Califórnia é o principal celeiro de jogadores(as) de vôlei de praia dos EUA. Atravessando a rua a partir do píer, chega-se à Calçada da Fama do Surfe, inaugurada em 1978 (mais informações nas legendas das fotos). Nela há uma estátua de Duke Kahanamoku.
Cerca de Los Angeles: DE Santa Monica a Venice
Embora haja um predomínio do surfe no litoral, o skate também é muito praticado. Em cidades como Santa Monica e Venice, a quantidade de cartazes e placas proibindo o skate é um indicativo de sua relevância e ubiquidade.
- “Skate proibido nesta área”, diz o cartaz.
- Píer de Santa Mônica.
- Cartaz na Praia Estadual de Santa Monica: “Esta praia é sua”, e seguem-se proibições de 18 atividades.
- Cartaz reconhecendo o início da prática de salvamento (usando pranchas) e a formação de um corpo de salva-vidas.
- Venda de bebidas alcoólicas: Surf Liquor.
- Três lojas no caminho de Santa Monica para Venice: ZJ Boarding House, Billabong e Hurley.
Santa Cruz
- Regras para surfar e evitar problemas.
Santa Cruz é outra surf city importante. Localizada bem mais ao norte, é também conhecida pelas águas geladas. Na colina da qual se desce para pegar onda em Steamer Lane encontra-se a placa acima – o tipo de artefato cultural que enche os olhos de um pesquisador de humanidades. Nele lê-se o seguinte (tradução minha):
– O primeiro surfista na onda [ou seja, a ficar de pé sobre a prancha] tem a preferência
– Reme dando a volta na onda, não pelo meio dela
– Controle sua prancha
– Ajude os outros surfistas
Por Sam Reid
O estabelecimento de regras – e os métodos e iniciativas para tentar garantir que sejam cumpridas e obedecidas – são uma característica importante do surfe, ainda que objeto de muita controvérsia. Na visão de muitos de seus praticantes, devido ao número limitado de ondas (sobretudo de ondas boas e de fácil acesso), é preciso estabelecer critérios de preferência e convivência de forma a reduzir a ocorrência de conflitos.
San Clemente
Abaixo estão outras fotos do Surfing Heritage and Culture Center:
- Várias pranchas em exposição são acompanhadas de uma placa identicando modelo, data, fabricante, material, medidas etc. Esta placa informa que a prancha é de cerca de 1907 e pode ser vista na foto.
- A prancha da esquerda foi shapeada por Gerry Lopez e usada por ele no Pipeline Masters. Lopez foi um dos fundadores e donos da Lightning Bolt, empresa cujo símbolo aparece (cortado) na prancha.
- Placa informativa sobre a prancha de Gerry Lopez.
- No centro, na vertical, o “caballito” peruano.
- Caballito em ação.
- Placa informativa contando causos sobre o “caballito”. Há quem afirme que a prática tem pelo menos 2.000 anos e que o surfe foi inventado no litoral peruano.
- Prancha Zephyr, feita por Jeff Ho. A equipe de surfe Zephyr ficou conhecida como Z-Boys e foi imortalizada em dois filmes, “Dogtown e Z-Boys” e “Os reis de Dogtown”.
- Placa com informações sobre a prancha Zephyr.
- O “Modelo Suástica” da Pacific System Homes. Segundo o texto, foi “a primeira linha de pranchas produzida comercialmente”. O texto afirma que o uso da suástica não tinha relação com o nazismo e que tanto o símbolo quanto o nome da empresa foram modificados em 1938, para evitar associações com o fenômeno político alemão.
- A psicodelia aparece em várias pranchas dos anos 1960 e 1970.
- Legenda contando boas histórias a respeito de Johnny Gale, a quem a prancha pertenceu. O texto afirma ainda que o nome da empresa Lightning Bolt vem de um tipo de maconha mexicana que circulava na ilha de Maui, no Havaí.
- Roupa de neoprene e prancha com mordida de tubarão.
- Placa contando o episódio do ataque de tubarão, ocorrido no litoral do Oregon (estado ao norte da Califórnia), em 1998. O surfista, John Forse, levou 50 pontos nas feridas.
- Longboards. À esquerda, Hobie Surfboards, cerca de 1961. À direita, Jacobs Surfboards, cerca de 1965. (Placas informativas nas próximas duas fotos.)
- Placa informativa – longboard Hobie.
- Placa informativa – longboard Jacobs.
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Este texto já estava pronto quando soube da notícia da morte de John Severson, aos 83 anos.”Nascido e criado em Pasadena e San Clemente” [ambas na Califórnia], em 1960 Severson publicou um impresso para divulgar um filme que produzira. Chamava-se The Surfer, depois virou Surfer. Transformou para sempre esta notável atividade sobre a qual escrevo desde 2004, além de ter inspirado praticamente todos os periódicos congêneres de surfe do mundo. Severson vendeu a revista na primeira metade dos anos 1970, mas sempre se manteve próximo ao surfe, inclusive em sua produção artística. Surfline, Liga Mundial de Surfe e a Surfer publicaram belos necrológios. Outros virão.
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