Presença feminina nos primórdios do esporte em São Paulo

11/07/2022

Por Flávia da Cruz Santos

A presença feminina se faz sentir, nos momentos iniciais do esporte na capital paulista, pela ausência, pelos silêncios das fontes. O corpo feminino era algo quase que proibido, em que não se podia tocar e cujas formas não era permitido conhecer. As vestimentas não apenas adornavam, mas escondiam e deformavam o corpo feminino. Elegância era a palavra de ordem, era o que orientava a participação das mulheres na cena pública. Ao menos era esse, o desejo das elites paulistanas, que estruturavam a sociedade partir da ideologia patriarcal.  

A participação das mulheres, apesar de ser desejada e incentivada, se restringia às arquibancadas. O embelezamento do espetáculo, por vezes, se limitava à sua presença, às suas vestes e adornos. Depois de afirmar, que as corridas do Grande Prêmio, no Hipódromo da Mooca, haviam sido “uma verdadeira decepção”, o colunista, que assina como “Jack, Entraineur” avalia:

Apesar de tudo isso porém, Jack está satisfeito, porque as senhoras apresentaram-se como deviam, vestidas com luxo e esmero. Ocuparam as arquibancadas, enquanto nós outros vínhamos para o encilhamento ou para as imediações da pista.
Lá em cima, viam-se os reflexos das sedas, ao lado das cores embasadas dos vestidos de lã ou de linho, flutuavam rendas, e agitavam-se leques de infinitas formas, uns de plumas, outros de gaze e entre eles um muito chique formado de folhas de begônias. (O Estado de S. Paulo, 21 out. 1890, p. 1)

Todos se sentiam autorizados a avaliar as mulheres, até mesmo alguém cuja especialidade era o treinamento. Tentava-se reduzi-las a isso, à aparência, às vestimentas, penteados e adereços. Essa é a representação das mulheres, dominante nos periódicos. Contudo, tanto as mulheres das classes dominantes, quanto as mulheres das camadas populares, estavam longe de restringir seu papel social ao embelezamento.

As mulheres pobres (brancas, forras, escravas) desempenhavam diferentes funções (costureiras, bordadeiras, quitandeiras, lavadeiras), e também, quando necessário, ocupavam papéis tipicamente masculinos (tropeiras, roceiras) (DIAS, 1995). As mulheres das camadas dominantes, eram empresárias ativas, formadoras dos filhos, socializadoras e treinadoras dos escravizados, administradoras de suas propriedades e lavouras (CANDIDO, 1951).

Mas, se a elegância, entendida nos termos de nosso interlocutor, era uma exigência, não é difícil concluir que as mulheres que estiveram presentes nesses momentos iniciais da conformação do esporte em São Paulo, pertenciam exclusivamente às elites. Pois, a impossibilidade da exibição de luxos pelas camadas populares nos momentos de diversão, era apontada pelos próprios paulistanos daquele tempo:

Ora, todos nós sabemos quanto custa frequentar sociedades hoje em S. Paulo, principalmente quem tem mulher e filhos. Como porém me asseveraram que na Concórdia Familiar eram expressamente proibidas as sedas, as joias e as luvas, verbas todas estas elevadíssimas para os pais de família, acedi a entrar para esta nova sociedade.
 
Qual não foi, porém, Sr. redator, o meu desapontamento quando entrando noite de sábado na casa onde se dava a partida da Concórdia, vi algumas senhoras cobertas de seda e brilhantes, com finíssimas luvas Jouvin! Fiquei furioso assim como minha Eva, e mais prole, que todas tinham ido com seus vestidinhos de 6$rs., sem luvas nem adereços. Ora, uma sociedade familiar não é lugar para se ostentar riqueza, porque ofende e faz pouco nos outros, que não tem a felicidade de agarrarem boas empresas, que não tem lucros fabulosos, podendo por essa razão gastarem a grande. (Correio Paulistano, 22 out. 1872, p. 2)

O investimento nas roupas e adornos era um imperativo para aqueles que frequentavam espaços de sociabilidade, o que acabava por deles excluir uma parcela nada pequena da população da capital. Pois, a sociedade paulistana era “muito desigual, hierarquizada ao extremo e com elevado índice de concentração de riqueza” (DIAS, 1995, p. 192).


Referências

DIAS, Maria Odila Leite da Sila. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1995.

CANDIDO, A. The Brazilian family. In: LYNN SMITH, T. e MARCHANT, A. Brazil: portrait of half a continent. New York: Dryden, 1951, p. 291-312.


O AVANÇO DO SKATE FEMININO*

23/05/2022

Leonardo Brandão

Historiador e Professor Universitário

@leobrandao77

“Não se nasce mulher; torna-se mulher”. Esta frase pertence a escritora Simone de Beauvoir (1908 – 1986), a qual, através do livro intitulado “O Segundo Sexo”, lançado em 1949, contribuiu para questionar os lugares de sujeito que a sociedade patriarcal reservava para as mulheres, uma vez que a posição das mulheres na sociedade era (ainda é?) determinada por fatores culturais e sociais. A reflexão de Beauvoir exerceu forte influência no movimento feminista e, desde então, muitas conquistas foram obtidas.

Embora, nos últimos anos, estejamos vivendo no país uma espécie de retrocesso civilizatório, ainda assim, quando observamos o skate feminino, há motivos de sobra para nos orgulharmos. Rayssa Leal, Gabriela Mazetto, Yndiara Asp, Virgina Fortes, Pipa Souza, Priscila Morais, Esther Solano, Giovana Dias, Vitória Mendonça, Atali Mendes, Kemily Suiara, Pamela Rosa, Marina Gabriela, Vitória Bortolo, Karen Feitosa, Agatha Pinheiro, entre muitas outras, estão ora elevando o nível das manobras nas competições, ora manobrando em pistas e/ou filmando pelas ruas. Num Brasil que insiste em caminhar para trás, essa maior presença das mulheres no skate é um sinal de progresso.

E o que falar da História do Skate Feminino? Embora saibamos que, desde o início elas sempre estiveram sobre o carrinho, os estudos sobre este tema ainda são escassos. No Brasil, quem ajudou a preencher um pouco dessa lacuna foi a pesquisadora Márcia Luiza Figueira, estudiosa que produziu a primeira tese de doutorado específico sobre skate feminino, intitulado “Skate para meninas: modos de se fazer ver em um esporte em construção”, defendida em 2008 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Num capítulo publicado no livro “Skate & Skatistas: questões contemporâneas”, Márcia Figueira evidenciou algumas conquistas do skate feminino a partir da virada do milênio. Ela lembra que um passo importante no aumento de sua visibilidade foi dado pela revista CemporcentoSKATE em 2001, quando foi inaugurado o encarte 100%SkateGirl, no qual a skatista Giuliana Ricomini estreou a seção “ponto de vista”. No ano seguinte, em 2002, na segunda edição desse encarte, seu editorial explicava:

“Há muito que as meninas ambicionavam um espaço só seu na revista. Pediram, clamaram, reclamaram (e mais uma infinidade de outros verbos). Sobretudo elas ANDARAM de skate. Por isso CONSEGUIRAM […] insistiram em andar de skate, em acertar manobras, em correr campeonatos, em evoluir”.

As meninas (eu prefiro o termo mulheres) foram conquistando seus espaços nos veículos de mídia especializado. No ano de 2004, a extinta revista Tribo também passou a dedicar uma seção para elas, intitulado Lilith. Neste mesmo ano, segundo os estudos de Marcia Figueira, Alexandre Vianna, que na época presidia a Confederação Brasileira de Skate (CBSk), afirmou ser “legal ver as meninas se unindo na construção de um espaço e de uma identidade dentro do skate nacional”.

Um marco importante nessa batalha por visibilidade ocorreu em julho de 2006, época da simbólica publicação da centésima edição da revista CemporcentoSKATE. Nela, pela primeira vez, uma skatista aparecia na capa dessa revista. Tratava-se da skatista Eliana Sosco, com uma manobra (noseslide) descendo um corrimão de escadaria, fotografada por Renato Custódio.

Daí em diante muitas outras conquistas ocorreram, como a capa da Ligiane Xuxinha na edição de setembro de 2011 ou o sucesso internacional da skatista Letícia Bufoni, por exemplo. Mesmo no universo acadêmico, surgiram mais mulheres pesquisando a prática do skate. Em 2014, Allana Joyce Scopel defendeu na UFMG a dissertação de Mestrado “A apropriação do Parque da Juventude pelos Skatistas”; e em 2016, na FURG, Juliana Cotting Teixeira defendeu a dissertação “Cenas Urbanas: skatistas, ocupação da cidade e produção de subjetividades”.

Além disso, muitas crews de skate feminino surgiram, como as Pantaneiras Skate Girls na cidade de Campo Grande/MS (encabeçado pela skatista Edduarda Grego) ou as Batateiras, em São Paulo, que surgiram com o intuito de incentivar e fomentar o skate feminino. As Batateiras, inclusive, figuraram no documentário Skate Le Monde, produzido para a televisão francesa TV5 Monde[1].

A história do skate feminino é rica e merece muito mais investigação e registro. As primeiras praticantes, a luta por visibilidade, o preconceito, a corporalidade, questões de gênero, etnia e tantos outros enfoques são possíveis. O trabalho de Marcia Figueira foi pioneiro ao desbravar o assunto, mas outros estudos podem ser feitos. E aí, você skatista que está fazendo ou pretende fazer uma faculdade? Que tal este tema para um Trabalho de Conclusão de Curso? Pois, afinal, vamos combinar que o universo do skate ficou muito mais interessante com a presença das mulheres!

* Este post é uma versão levemente modificada do texto “Sim, elas podem!”, publicado na edição impressa da revista CemporcentoSKATE, edição n. 220, de out/nov de 2021.

[1] O episódio pode ser visto em: https://www.tv5unis.ca/videos/skate-le-monde/saisons/1/episodes/9

 


100 anos do futebol feminino no Rio Grande do Norte: histórias de pioneirismo e protagonismo esportivo

27/07/2020

Por Aira Bonfim (airafbonfim@gmail.com)

Enquanto alguns jornais e revistas do início do século passado buscavam associar a imagem de mulheres esportistas à atributos de delicadeza, beleza e frivolidades, acervos fotográficos da coleção do Instituto Tavares de Lyra (RN) e registros da revista carioca Vida Sportiva revelam imagens de garotas atléticas reais – e nem tão graciosas assim.

O olhar marrento, os corpos fardados e os braços cruzados são pistas visuais oferecidas por esses acervos que nos ajudam a pensar as formas de apropriação prática do futebol pelas brasileiras das primeiras décadas do século XX.

O exemplo aqui escolhido refere-se às fontes disponíveis sobre as equipes femininas de futebol do estado do Rio Grande do Norte e que circularam pela imprensa brasileira entre os anos de 1918 a 1920.

Em março de 1920 o semanário Vida Sportiva, responsável pela divulgação de notícias esportivas dos mais longínquos estados do Brasil, revelaria na sua capa a foto do ABC Football Club, time de futebol feminino da cidade de Natal, e, curiosamente associado a Liga de Desportos Terrestres na mesma época.

Futebol feminino de RN na capa da revista Vida Sportiva de março de 1920

Futebol feminino de RN na capa da revista Vida Sportiva de março de 1920

A foto da capa refere-se a um campeonato de futebol feminino realizado no sítio Senegal, residência do Coronel Joaquim Manoel Teixeira de Moura, o Quincas Moura. Tratava-se, de acordo com a mesma revista, de um prélio perdido de 12×0 pelo ABC F.C. (capa) contra o scratch feminino do Centro Sportivo Natalense, outra equipe pertencente à liga potiguar.

Tanto a raridade visual como a evidência histórica da partida de futebol são confirmações importantes que mulheres jogaram bola no Brasil, principalmente quando levamos em conta que na mesma época tal modalidade só crescia e se popularizava em todos os estados.

Jogadoras do ACB Football Club e Centro Sportivo Natalense em 1920

Nos últimos anos, tanto a mídia esportiva, como pesquisadores e instituições tem reiterado o episódio paulistano de 1921 entre as “senhoritas” dos bairros do Tremembé́ e da Cantareira, como um marco inaugural de moças jogando bola no Brasil. No entanto, apesar de existirem novas confirmações de episódios isolados entre meninas, antes e depois de 1921, o futebol feminino, como modalidade esportiva e competitiva, não se desenvolveu oficialmente como modalidade naquela época.

Diferente das experiências iniciadoras do futebol masculino no país, a exemplo de Charles Miller em São Paulo, e outros entusiastas do esporte bretão inglês como Thomas Donohue (Bangu Athletic Club) e Oscar Cox (Fluminense Football Club), às iniciações femininas nesse esporte aproximam-se mais das experiências atléticas vividas entre as crianças, presenciadas principalmente nas ruas, escolas, igrejas, clubes e nas periferias das festividades esportivas.

Meses antes da divulgação da capa feminina na Vida Sportiva, a revista afirmou que a cidade do Natal podia gabar-se de ter sido a primeira do Brasil a criar agremiações esportivas “de elementos exclusivamente femininos”[1]. O texto referia-se ao Centro Náutico Feminino de Natal e o Clube Náutico Jundiahy, da cidade de Macaíba, fundados sob a orientação do Centro Náutico Natalense. Todos, desde 1918, já ostentavam publicamente garotas disputando provas de remo.

Competidores da Yole Anta, do Centro Náutico Potengy, em 1918. Fonte: Vida Sportiva.

De acordo as notícias sobre a vida esportiva norte-rio-grandense, o ano de 1915 havia marcado o grande boom das práticas esportivas entre aquela comunidade do Nordeste. Os cronistas de Vida Sportiva narram que graças ao football e os esportes náuticos em pouco tempo se proliferaram os encontros atléticos entre a juventude de Natal.[2]

Com exceção do turfe, as elites de Natal e redondezas já se consideravam pessoas com acesso a uma variada gama de esportes em 1915. Houve inclusive investimento público do governo local, que apesar de modesto, foi citado na época como uma contribuição significativa para o desenvolvimento esportivo da região.

Imagem da equipe feminina de futebol de Natal publicada em maio de 1920.

Enquanto uma parte da juventude feminina experimentava as competições de regatas (os rowings), os textos da revista também revelam a experimentação feminina em outras variedades esportivas que, na “impossibilidade absoluta de praticarem o football, elas haviam inventado o hand-ball e praticavam o basketball”:

“O bello sexo natalense não quis ficar indifferente a esse louvável movimento patriótico da juventude masculina.

Adheriu à nobre causa, certo de que a educação physica é uma necessidade.

Empreendedora, intelligente, a mocidade feminina natalense, resolveu também entregar-se à prática de desportos (…)” [3]

A novidade o futebol feminino revelado pelo semanário Vida Sportiva, órgão oficial dos cronistas esportivos do Rio de Janeiro, já havia antecipado o tema na sua capa de um mês antes, em 21 de fevereiro de 1920, quando escolheu a ilustração de uma jogadora de futebol vestida com o uniforme do Botafogo Futebol Clube, do Rio de Janeiro.[4]

Se desconhece qualquer performance pública de mulheres jogando bola no clube do Botafogo nessa época, no entanto, o mesmo não se pode dizer de outros clubes cariocas como o Villa Isabel F.C.(1915), o Progresso F.C.(1919), o C.R. Flamengo (1919) e o River S.C.(1919), que já indicavam a exibição de equipes mistas ou de meninas contra meninos nas suas festividades esportivas e domingueiras.[5]

Após alguns meses da publicação das capas da revista Vida Sportiva com jogadoras de futebol, em meados de 1920, encontra-se também no Rio de Janeiro, evidências de mulheres jogando futebol no Helios (1920), C.R. Vasco da Gama (1923), S.C. Celeste (1923) e São Cristóvão A.C. (1929).

A investida das capas com mulheres esportistas, além de outra publicação sobre o team feminino potiguar divulgada em maio de 1920 [6] inserem-se num contexto de divulgação de crônicas que incentivaram a prática dos esportes entre as brasileiras pela revista Vida Sportiva.

Textos com títulos sugestivos como: ‘Porque não se incita o sexo frágil a praticar os sports?’(1918), “a mulher nos sports”, a “a saúde e a belleza da mulher pelo cultura physica”, “o dever physico da mulher moderna”, todas de 1920, exemplificam o tom da campanha empreendida por esse veículo de imprensa da época.

Vale destacar que o ano de 1920 também marcou a profusão de equipes de futebol feminino na Europa. Só na França, no mesmo ano, estima-se que em torno de 150 grupos jogaram bola.[7] Anos antes, também foi fundada La Fédération des Sociétés Feminines et Sportives de France, que entre tantas ações, destaca-se a parceria com as pioneiras do futebol, as desportistas inglesas.

A parceria europeia resultou no primeiro jogo internacional feminino entre Inglaterra e França, em Preston, com 25 mil espectadores em 1920. A partida feminina entre França e Inglaterra, em julho de 1920, ganhou uma página inteira da Vida Sportiva[1]. Esse episódio aconteceu no campo do Chelsea F.C. e a publicação trouxe imagens das capitãs Macgnemond e Kell, assim como uma defesa da goleira da equipe francesa (Fémina Sport) e uma cena da partida de futebol (com um árbitro homem!)

Jogadoras inglesas e francesas ocupam uma página inteira de Vida Sportiva em julho de 1920

De volta ao cenário brasileiro e ao estado do Rio Grande do Norte, endereço das primeiras imagens publicadas do futebol feminino no país, vale destacar algumas pequenas curiosidades sobre as agremiações esportivas potiguares. O Centro Sportivo Natalense foi fundado da associação entre o Flamengo Foot-ball Club com o Alecrim Foot-ball Club[9], ambos de Natal.

O sportman João Café Filho (1899-1970), nessa época, era o diretor de esportes do Alecrim F.C. O jovem potiguar era o goleiro da agremiação e anos mais tarde, o único potiguar a ocupar o cargo de presidente do Brasil, desde que assumiu a presidência entre 24 de agosto de 1954 e 8 de novembro de 1955, depois do suicídio de Getúlio Vargas.

Se já não fosse um episódio revelador, o historiador Dr. Anderson Tavares de Lyra, fundador do Instituto Norte-Rio-Grandense de Genealogia e do Instituto Tavares de Lyra (Macaíba- RN), apresenta na sua catalogação fotográfica informações que identificam a volante da equipe do Centro Sportivo Natalense como sendo Jandira Carvalho de Oliveira Café (1904-1989), futura esposa de João Fernandes Campos Café Filho e primeira dama do Brasil.

Além da constatação que uma primeira dama nordestina atuou nos primórdios do futebol de mulheres no Brasil, ainda há mais novidades entre o seleto grupo. A equipe feminina rival do ABC Football Club também conta com outra personagem de prestígio nacional: Celina Guimarães Viana (1890-1972). A jogadora do ABC F.C. (time da capa da Vida Sportiva), além de dona do acervo de fotos disponíveis hoje no Instituto Tavares de Lyra, se tornou professora e reconhecida como a primeira mulher a conquistar o direito ao voto no Brasil em 1927.[10]

Segundo o memorialista Anderson Tavares de Lyra, as fotografias da época apresentam dois espaços: o estádio Juvenal Lamartine e o sítio Senegal, ambos no bairro do Tirol e pertencentes ao Coronel da Guarda Nacional e Presidente da Intendência de Natal, Joaquim Manoel Teixeira de Moura, Quincas Moura.

O coronel, adepto das animações proporcionadas pelos encontros festivos e esportivos naquela região, tinha entre suas convidadas, sobrinhas, primas e filhas. O episódio das jogadoras de futebol do Rio Grande do Norte é excepcional e curioso em sua época, e ao mesmo tempo, na luz da contemporaneidade, 100 anos mais tarde, são histórias e protagonismos pouco conhecidos de mulheres, jogadoras, historiadores e instituições do esporte.

Em 2020, continuamos demandando esforços coletivos para constituir histórias mais plurais de um esporte que despertou paixões em todos os tipos de pessoas – e essa totalidade também inclui as mulheres.

O recado já estava dado pelo cronista da revista Vida Sportiva de 1918:

“quem está affeito a assistir as lutas de football, quantas vezes não terá adimirado do enthusiasmo com que varias torcedoras assistem o transcorrer da pugna?

Essas torcedoras, adeptas da cultura physica, não sentirão por vezes, ancias de se entremearem nas lutas?

Certamente que sim!

Animome-las! Incitemo-las, para que em breve possamos ver em cada recanto da nossa capital, um club em que a mulher possa cultivar os sports”.[11]

Notas

[1] Vida Sportiva, Rio de Janeiro, p. 11, 13 dez. 1919.

[2] Vida Sportiva, Rio de Janeiro, p. 3, 29 nov. 1919.

[3] Idem.

[4] O escudo da imagem sugere a composição de letras que o clube carioca usava antes da fusão com o Clube de Regatas Botafogo.

[5] BONFIM, Aira Fernandes. Football Feminino entre festas esportivas, circos e campos suburbanos: uma história social do futebol praticado por mulheres da introdução à proibição (1915-1941). 2019. 213 f. Dissertação (Mestrado em História) – CPDOC – Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro.

[6] Vida Sportiva, Rio de Janeiro, p. 18, 15 mai. 1920.

[7] Williams, 2003; Doble, 2017; William e Ress, 2015.

[8] Vida Sportiva, Rio de Janeiro, p. 19, 24 jul. 1920.

[9] Diário de Pernambuco, Recife, p. 2, 6 jul. 1918.

[10]http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/celina-guimara-es-de-primeira-eleitora-a-a-rbitra-de-futebol/451775. Acesso em junho de 2020.

[11] Vida Sportiva, Rio de Janeiro, p. 7, 8 jun. 1918.

Referências

BONFIM, Aira Fernandes. Football Feminino entre festas esportivas, circos e campos suburbanos: uma história social do futebol praticado por mulheres da introdução à proibição (1915–1941). 2019, Dissertação — Mestrado em História, Política e Bens Culturais, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), Rio de janeiro, 2019.

DOBLE, Anna. The Secrety History of woman’s football. In: Newsbeat. 19/07/2017. http://www.bbc.co.uk/newsbeat/article/40654436/the-secret-history-of-womens-football. Acesso em 23/01/2019.

WILLIAMS, Jean; HESS, Rob. “Women, Football and History: International Perspectives.” The International Journal of the History of Sport. Vol. 32, Iss. 18, 2015.


O skate vai ao cinema

23/02/2020

Por: Leonardo Brandão (brandaoleonardo@uol.com.br)

            Muitos ficaram surpresos com o resultado do Oscar 2020 quando viram o anúncio, no dia 09 de fevereiro, da vitória do curta-metragem documental Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl) – Aprendendo a andar de skate em uma zona de guerra (se você é uma menina) – dirigido pela norte-americana Carol Dysinger e com produção de Elena Andreicheva. Este filme, de 39 minutos, retrata um grupo de garotas integrantes do Skateistan, um projeto social (sem fins lucrativos) fundado em 2007 por dois skatistas australianos, Oliver Percovich e Sharna Nolan, os quais tinham como objetivo introduzir o skate como um elemento de ludicidade para crianças e jovens afegãs de bairros pobres e que tiveram suas vidas marcadas pela violência. Esse documentário foi descrito por Orlando von Einsiedel (vencedor do Oscar em 2017 com Os Capacetes Brancos) como um “bonito retrato de esperança, sonhos e superação de medos”.

Figura 1: Cartaz do filme “Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)”, o qual traz também a informação que o mesmo havia vencido o prêmio de melhor curta-documentário no festival Tribeca no ano de 2019.

Mas não é de hoje, todavia, que existe uma relação muito forte entre cinema e skate. Neste post, iremos categorizar os tipos de filme que o envolvem, diferenciando documentários de filmes feitos por empresas de skate, assim como sua aparição em filmes de grande produção (muitas vezes breve) de seu uso em filmes independentes e realizados com baixo orçamento. Para tanto, elencamos quatro categorias que nos ajudarão a diferenciar esses diversos modos como o skate vem aparecendo nos cinemas e nas telas.

1 – Documentários sobre skate: Além do supracitado Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl), que ganhou a estatueta do Oscar, a prática do skate, e em especial determinados skatistas, vem sendo há tempos retratados em documentários. Um bastante relevante neste quesito é Dogtown and Z-Boys (2001/EUA), dirigido por Stacy Peralta, o qual venceu na categoria melhor diretor no Festival de Sundance em 2001 com esse documentário. O filme retrata a equipe de skatistas Z-Boys, em especial, o modo como eles influenciaram o desenvolvimento dessa atividade durante a década de 1970, e isso tanto no tocante ao estilo corporal (advindo do surfe) quanto na utilização de espaços inusitados para sua prática, como as piscinas vazias (as quais foram posteriormente reproduzidas com rampas de madeira no formato de um grande “U”, dando origem ao skate vertical). Além deles, também podemos citar aqui o reflexivo e trágico Stoked: the rise and fall of Gator (EUA, 2002, dirigido por Helen Stickler) que narra a vida do skatista norte-americano Mark “Gator” Rogowski, um grande expoente do skate vertical durante a década de 1980, mas que, num ato insensato, acabou preso e condenado por 31 anos pelo assassinato da amiga de sua namorada. Numa temática semelhante à de Stoked, o filme documentário Rising Son: The Legend of Skateboarder Christian Hosoi (EUA, 2006, dirigido por Cesario Montaño), buscou reproduzir a complicada trajetória do skatista Christian Hosoi (que junto com Tony Hawk, foi o skatista mais popular da década de 1980). Hosoi, de astro internacional desta prática, chegou a ser preso – por acusação de tráfico de drogas – e ficou durante quatro anos numa prisão federal dos EUA, chamada San Bernardino Central Detention Center.

No Brasil, destacamos o documentário Vidas sobre Rodas (2010), do cineasta paulistano Daniel Baccaro, produzido sob patrocínio de grandes empresas, como Guaraná Antarctica e Banco Bradesco. Exibido em circuitos de cinema alternativos, esse filme baseia-se na trajetória de quatro skatistas (Sandro Dias “Mineirinho”, Lincoln Ueda, Cristiano Mateus e Bob Burnquist) e por meio da biografia desses personagens, também narra aspectos da história do desenvolvimento do skate brasileiro. Na contracapa do DVD deste documentário, encontramos a seguinte descrição: “O filme irá contar a história do skate brasileiro nesses últimos 20 anos, um período marcado pela transição da marginalidade para a chamada fase pop, quando o skate nacional conquista seu espaço na grande mídia e com ele o respeito da sociedade como um todo”.

Figura 2: Cartaz do documentário brasileiro “Vida sobre Rodas” dirigido por Daniel Baccaro e lançado em 2010.

2 – Super produções: Existem muitos filmes de “grande produção” que fizeram uso do skate. Um dos principais exemplos neste sentido é Back to the future (De volta para o futuro), de 1985, do diretor Robert Zemeckis. Na trama, o skate aparece sob os pés do protagonista, interpretado por Michael J. Fox. Na continuação da franquia, com “De volta para o futuro II”, de 1989, a cena com o skate flutuante mexeu com a imaginação de toda uma geração (ver cena retirada do Youtube logo abaixo). Ainda neste mesmo campo de exemplos, podemos citar o longa-metragem Espetacular Homem-Aranha, dirigido por Marc Webb e que estreou no Brasil no ano de 2012. Esse filme retratou a saga do icônico herói dos quadrinhos como sendo ele, antes de tudo, um skatista (nas cenas de skate, o ator Andrew Garfield sedia lugar ao dublê, skatista e também praticante de parkour, Willian Spencer). O Homem-Aranha skatista foi visto por inúmeros espectadores ao redor do mundo e arrecadou uma grande bilheteria.

3 – Filmes independentes: Numa perspectiva menos comercial, existem os filmes de baixo orçamento e feitos por diretores que envolvem a prática do skate com o debate de questões sociais. Um dos mais premiados dessa categoria foi Paranoid Park (2007, EUA, dirigido por Gus Vant Sant), longa que gira em torno de um skatista de 16 anos – interpretado por Gabe Nevins – que acaba matando, acidentalmente, um segurança nas proximidades de uma pista de skate onde pratica. Nesta mesma linha, temos os filmes do diretor Larry Clark. No ano de 1995, Clark dirigiu Kids, filme que se tornou um marco em sua carreira e causou furor ao exibir nos cinemas o cotidiano junkie de um grupo de skatistas de Nova York (alguns dos protagonistas do filme eram, de fato, skatistas bastante atuantes nesta cidade, como Harold Hunter). Embalado por manobras de skate, uso de drogas e recheado de cenas de sexo adolescente, Kids acabou por denunciar a facilidade com que o vírus HIV estava sendo transmitido por uma geração que vivia o presente sem as clássicas perspectivas profissionais de futuro. Outro filme com direção de Larry Clark chama-se “Roqueiros” (Wassup Rockers, EUA, 2005), o qual aborda os problemas causados por um grupo de skatistas – ouvintes de punk rock – de um bairro pobre de Los Angeles que decidem, aleatoriamente, praticar skate numa das áreas mais nobres do condado de Los Angeles, Berverly Hills. Neste filme, além de debater a problemática da apropriação dos espaços urbanos e a repressão policial, Larry Clark também problematiza o contato entre jovens de diferentes classes sociais.

4 – Filmes produzidos por empresas de skate: A emergência desse gênero de filmes, com foco prioritário na execução de manobras de skate, teve início no ano de 1984 com o lançamento de “The Bones Brigade Video Show”, pela empresa Powell Peralta, a qual foi fundada no ano de 1978 por George Powell e Stacy Peralta. Essa marca veio a produzir, nos anos subsequentes, os filmes: Future Primitive (1985), The Search for Animal Chin (1987), Public Domain (1988), Ban This (1989) e Propaganda (1990). Tais filmes, assim como muitos outros que foram produzidos por diferentes companhias de skate, apresentam como objetivo principal exibir a técnica corporal dos skatistas membros de suas equipes, e isso tanto com filmagens realizadas nas ruas quanto em pistas. Por intermédio de tais filmes, nomes (antes desconhecidos) foram divulgados, pequenas marcas tornaram-se famosas e manobras (antes consideradas impossíveis) foram imortalizadas. Nos Estados Unidos, além da já citada Powell Peralta, muitas outras empresas produziram filmes com manobras de skate que se tornaram bastante cultuados. Dentre esses, destaca-se Video Days, produzido pela empresa Blind Skateboards e dirigido por Spike Jonze no ano de 1991. Entre os talentosos skatistas que aparecem neste filme, como Guy Mariano e Marc Gonzales, um deles, chamado Jason Lee, acabou se tornando um comediante festejado em seriados de televisão da NBC, onde fez fama com o engraçado e inusitado My Name is Earl.

Para finalizar esse post, ficamos com a parte do skatista Jason Lee em Video Days, de 1991. Essa parte foi retirada do Youtube e apresenta como trilha sonora as músicas “Real World” da banda Hüsker Dü e a canção “The Knife Song” do Milk.

PARA SABER MAIS

BRANDÃO, Leonardo. Trajetórias do skate no cinema: dos filmes de grande produção ao documentário Dogtown and Z-Boys. In: FORTES, Rafael; MELO, Victor Andrade de. (orgs). Comunicação e Esporte: reflexões a partir do cinema. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2014, p. 71 – 86.


Alfândega, noitadas e mercadorias de presente: uma breve passagem de surfistas sul-africanos pelo Rio de Janeiro

19/08/2019

Por Rafael Fortes (raffortes@hotmail.com)

A África do Sul tinha papel importante no cenário internacional do surfe na segunda metade dos anos 1970, tanto pela qualidade das ondas de seu território quanto pela participação de surfistas, dirigentes, juízes, empresários e/ou profissionais de mídia, entre outros, oriundos daquele país. Isto se dava concomitantemente ao crescente isolamento internacional do país, que incluía boicotes como forma de pressão contra os sucessivos governos devido à política de segregação racial conhecida como apartheid. Nos últimos anos, tenho me dedicado tanto a investigar o lugar peculiar do surfe em meio ao boicote esportivo internacional, como também às representações do Brasil e do Rio de Janeiro em revistas internacionais.

Um dos indícios de uma cultura e economia do surfe fortes em um determinado país nos anos 1970 e 1980 é a existência de publicações especializadas, sobretudo revistas. Criada em 1976 na cidade de Durban e ainda em circulação, Zigzag é a mais longeva e provavelmente a mais importante revista de surfe da África do Sul. A edição de junho-agosto (a periodicidade era então trimestral) de 1979 trouxe matéria a respeito de uma viagem realizada por três surfistas às Américas. Os sul-africanos – um deles, autor do texto – viajaram para Brasil, Peru e Canadá. Eis dois trechos:

“(…) passar pela alfândega no Rio de Janeiro (…) Medo de possivelmente passar horas tentando convencer um funcionário olhudo de que só tenho mercadorias para os pobres ratos de surfe brasileiros. Para minha surpresa, sou liberado após dar ao cavalheiro um exemplar de ZigZag – ele ficou amarradão. A animação de Rico ao ver um funcionário da alfândega de fato sorrindo foi contagiante. Os dias que se seguiram são selvagens com noites loucas e gente amigável vivendo apenas o agora. Rico e sua bela mulher Bia quase me convencem a ficar para o Carnaval, mas o chamado da minha próxima parada é grande demais. 1980 será meu ano de carnaval! (…)

Em verdadeiro estilo sul-americano, um voo de seis horas leva 12 para chegar a Lima após o piloto decidir que precisa de algumas horas de pausa para um lanche e faz uma escala imprevista em São Paulo.” (LARMONT, Mike. The Snow Boogie. Zigzag, jun.-ago. 1979. Tradução minha. Abaixo, a primeira página do texto.)

Gostaria de abordar brevemente quatro pontos no trecho citado. Primeiro, as referências à passagem pelo controle alfandegário na entrada em território brasileiro, ocorrida no aeroporto internacional do Galeão, no Rio de Janeiro. Larmont afirma que estava receoso quanto ao trato que receberia por parte dos funcionários responsáveis pela revista de bagagens e a como classificariam os objetos que trazia – segundo ele, agrados para presentear surfistas brasileiros. Relata ainda ter sido um exemplar da própria Zigzag o argumento final que permitiu o desenrolo (como se diria na linguagem corrente das quebradas cariocas) com o trabalhador da alfândega. Seria este um servidor público da Receita Federal? Acredito que sim, embora não seja possível afirmar ao certo. Seria ele um adepto do surfe ou, ao menos, um interessado na modalidade? Também é difícil dizer, mas parece que o exemplar da publicação despertou interesse no servidor, talvez por gosto pessoal, talvez por configurar um item raro a ser dado de presente a uma pessoa querida. Haveria, além dos números de Zigzag, outros itens/mercadorias trazidos como presente na bagagem? A partir do próprio texto não é possível responder.

Segundo, a recepção por parte de Rico de Souza, surfista com grande circulação e contatos internacionais no período. Acredito que as relações de amizade, acolhimento e/ou reciprocidade estabelecidas entre adeptos de diferentes países foram importantes, tanto para reduzir os altos custos envolvidos nas viagens (ficar na casa de conhecidos eliminava os custos de hospedagem e, em alguma medida, de traslados e alimentação), ajudando a viabilizá-las, quanto por facilitarem o acesso a informações (como condições do mar em diferentes praias) e os trâmites do dia-a-dia (facilita muito a vida do viajante, especialmente o monoglota, estar acompanhado de alguém com conhecimento de hábitos e idioma locais). Esta questão, que tem aparecido em diferentes fontes em minhas pesquisas, ainda não foi explorada pelos estudos históricos sobre o surfe – ao menos aqueles publicados em inglês, espanhol ou português.

Terceiro, algumas das menções ao Brasil e aos brasileiros. O autor destaca a beleza de uma mulher (a anfitriã), usa a palavra selvagem para adjetivar as noitadas (o termo também aparece com frequência nas caracterizações da África do Sul feitas por estrangeiros – brasileiros, inclusive) acompanhadas de “gente amigável” que vivia apenas o presente. As intensas atividades de lazer e o estímulo dos anfitriões quase levam o viajante mudar os planos e esticar a estada para incluir o período do Carnaval.

Por fim, a decisão do piloto de realizar uma escala imprevista durante o voo Rio de Janeiro-Lima é classificada como parte de um “verdadeiro estilo sul-americano” – a ver se tal categorização aparecerá em outras edições quando se menciona o Brasil e demais países do continente. Os sul-africanos seguiram viagem rumo a terras peruanas e, posteriormente, da América do Norte, onde os meses iniciais do ano correspondem ao inverno. No Canadá, como se pode notar nas fotos que ilustram a página, os sul-africanos praticaram esqui e snowboard. Era muito comum, na época, que os adeptos de uma modalidade dedicassem parte relevante do seu tempo a outras. No caso do surfe, aqueles com acesso a áreas com neve (como alguns estadunidenses e franceses, por exemplo), costumavam praticar esportes de inverno durante férias, feriados e períodos com pouca oferta de boas ondas. Esse intercâmbio de modalidades é um aspecto ainda pouco explorado nas pesquisas sobre a história do esporte que situam seu recorte na segunda metade do século XX – talvez nos levando a acreditar numa excessiva especialização que não correspondia à experiência concreta do adepto comum, e quiçá tampouco de vários atletas de ponta no âmbito competitivo mais comercial/profissional.

Para saber mais

Conferir os trabalhos do historiador Glen Thompson, incluindo sua tese de doutorado Surfing, Gender and Politics: Identity and Society in the History of South African Surfing Culture in the Twentieth-Century, defendida em 2015 na Stellenbosch University. Agradeço a ele por me facilitar a consulta de seu acervo pessoal de revistas sul-africanas, entre as quais a edição mencionada neste texto.

Uma coleção de capas escaneadas de Zigzag está disponível no site de Al Hunt.

A pesquisa que deu origem a este post tem apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), por meio do edital Jovem Cientista do Nosso Estado (2017).


Os Garotos da Praia de Waikiki: surfe, turismo, homens e mulheres

10/04/2016

Por Rafael Fortes

Num livro publicado em 2011, o historiador Isaiah Helekunihi Walker celebra o surfe como prática de resistência no Havaí durante o século XX. Entre os méritos da obra estão o uso de fontes que transcendem o inglês – sobretudo jornais em havaiano – e o destaque à articulação do surfe com movimentos políticos do arquipélago. Tem também problemas, comWalker - Waveso a grande facilidade para enxergar resistências e o esforço de corrigir textos de memória e jornalísticos – frequentemente, rechaçando os mitos apenas para colocar outros em seu lugar. Contudo, esse texto não é uma resenha do livro. Avisos aos navegantes: todas as citações do livro estão originalmente em inglês e foram traduzidas por mim; os vídeos, quando narrados, o são em inglês.

O que me interessa discutir é um trecho – intitulado “Garotos da Praia: Empurrando Mulheres e Fronteiras” (p. 70-77) – do capítulo três. O capítulo trata da rivalidade entre os frequentadores da praia de Waikiki, em Honolulu, que se agruparam em torno de dois clubes: o Outrigger Canoe Club, “formado em 1908 por (…) Alexander Hume Ford” e composto majoritariamente por haoles brancos nascidos no continente (p. 59); e o Hui Nalu, fundado e composto por membros de famílias históricas havaianas, entre os quais Duke Kahanamoku e o príncipe Jonah Kūhiō Kalanianaʻole, membro da família real deposta na última década do século XIX, antes da anexação pelos EUA, em 1898 (não confundir este clube com o Hui O He’e Nalu, formado nos anos 1970 e existente até hoje, cujos membros se tornaram conhecidos no Brasil como black trunks). O Hui Nalu, “embora existisse de forma pouco organizada desde 1905, (…) foi oficialmente formado (…) em 1911” (p. 62). Waikiki era e continua sendo a praia mais turística do arquipélago.

De acordo com Walker, “a partir de 1915, surfistas do Hui Nalu abriram lucrativos negócios sob concessão em Waikiki” e passaram a ser conhecidos como os “Garotos da Praia de Waikiki” (p. 70). Eles “eram salva-vidas, guarda-costas, instrutores, animadores e guias turísticos para os visitantes. Por um preço relativamente alto, levavam clientes para a arrebentação para descer ondas em canoas e pranchas.” Faziam e vendiam artesanato e davam aulas de ukelele.  À medida que os negócios se desenvolveram, alguns garotos passaram a atuar em tempo integral como funcionários particulares de famílias ou indivíduos de alta renda que visitavam Waikiki: levavam para passeios, atuavam como secretários particulares e desempenhavam funções diversas por períodos que variavam de “duas semanas até três meses” (p. 71).

As informações contidas e as histórias contadas nesta parte do capítulo se baseiam majoritariamente em entrevistas de história oral feitas com os próprios Garotos da Praia (a maioria, feitas em 1985 e disponíveis num banco de dados). Ao narrarem as relações com os e, principalmente, as turistas, a coisa fica mais animada.

Entre as graças que faziam para entreter os clientes, contavam histórias e piadas e surfavam sentados em cadeiras de praia ou na companhia de um cachorro. Este vídeo identifica um dos irmãos Kahanamoku como um surfista que descia ondas com seu cão Spot, o que pode ser visto em 3’19”. (Adendo: em outras ondas, a prancha em que está o cachorro não consegue ser captada pela câmera, o que provavelmente se deve à dificuldade de manejar o equipamento e à diferença de velocidade entre a prancha filmada e a canoa em que, suponho, encontrava-se a câmera.)

“À medida que ostentavam suas habilidades sociais e surfísticas, eles se tornaram celebridades locais capazes de atrair mais do que dinheiro. Garotas e mulheres brancas se aglomeravam na praia para aprender a surfar com os Garotos da Praia havaianos. ‘Naquela época’, recordou Louis Kahanamoku, ‘especialmente as wahine [mulheres] brancas iam todas nos Garotos da Praia. Os Garotos da Praia eram conhecidos por cortejar diversos tipos de mulheres de fora – divorciadas, ricas, vedetes e filhas de visitantes ricos” (p. 72).

Havia turistas que confiavam suas filhas aos cuidados dos Garotos da Praia. Houve histórias de amor entre os Garotos e vedetes que deram em casamento. E evidentemente, havia quem os considerasse “um bando de homens preguiçosos que se prostituem ganhando a vida em cima de desquitadas do continente” (p. 72).

Uma das principais formas de ensinar as damas a surfar, e também de “impressioná-las”, era descer as ondas junto com elas, na mesma prancha. Por exemplo, levantando-as sobre os ombros, o que, de acordo com um dos Garotos, “convidava a manobras excitantes e íntimas”. Na volta, “subiam em cima da parte de trás das garotas haoles” na remada para o outside (p. 72). O vídeo abaixo mostra, em 2’20”, uma sorridente mulher descendo uma onda em surfe duplo. (No último vídeo deste texto, há também um amplo sorriso captado em 5’07, em meio à excitação de descer uma onda numa canoa.)

(Breve comentário sobre o vídeo acima: como se pode ver, ele traz fartura de boas ondas surfadas com desenvoltura – e grande estilo – por um cachorro, que abre os trabalhos no sonrisal em 2’44” e depois manda ver no hang ten.)

Cenas com homens aproveitando a aproximação dos corpos para certos contatos e iniciativas, embora mantendo uma postura que cinicamente permita alegar que nada demais está acontecendo, também aparecem em Gidget, produção de 1959 com trama situada no litoral da Califórnia. Eis o trecho:

A partir de 0’16”, um dos personagens fala: “Aí está, querida! Reta como uma panqueca, hein?! Quase, né? (…) Posso te deixar mais à vontade?” Ao final, o mesmo personagem diz: “Muito bom para a primeira vez, né? Agora vou um levá-la um pouco mais fundo!” O filme, de acordo com vários pesquisadores, foi decisivo para espalhar a febre do surfe pelos EUA. A situação da personagem adolescente Gidget, que busca aceitação e tenta aprender a surfar em meio a vagabundos de praia mais velhos, é muito distinta daquela das turistas que buscavam e contratavam os serviços dos Garotos da Praia de Waikiki – elementos que podem permitir uma boa e complexa discussão sobre consentimento, abuso, vulnerabilidade etc.

Voltando a Waikiki… Quando na areia, a legítima preocupação de evitar queimaduras pela exposição ao sol levava os Garotos a realizar, “com frequência regular”, sessões de massagem para aplicação de óleos na pele de quem estava sob seus cuidados (p. 73).

À noite, vestindo smoking, os Garotos cantavam e tocavam instrumentos musicais, atraindo especial interesse do público feminino. As letras de algumas músicas tratam destas interações, do clima de romance e do duplo sentido em movimentos e gestos. Após o encerramento das atividades, os pares/casais se espalhavam em diversas direções – alguns, rumo ao mar, para novas sessões de surfe a dois.

O vídeo a seguir reitera esta narrativa da “boa vida” dos Garotos com diversas fotos, especialmente a partir de 3′ (e, diga-se de passagem, tem uma visão ainda mais positiva e idílica que Walker).

Como se pode imaginar, “por meio de tais interações, os Garotos da Praia de Waikiki violavam regras sociais de uma sociedade americana governada por leis antimiscigenação e ameaçavam a hegemonia haole por conquistarem propriedade que haviam construído e que era seu privilégio” (p. 75). Para Walker, isto evidencia que o mar – e, particularmente, a prática do surfe – constituía um espaço de exceção, de inversão de valores. Ali os homens havaianos eram poderosos, admirados e desejados. “Enquanto a indústria do turismo promovia as ilhas como uma ‘mulher’ a ser conquistada, os homens havaianos não eram propagandeados como objetos sexuais da maneira como ocorria com as mulheres dançarinas de hula-hula. Portanto, estes homens não estavam desempenhando ou se adequando a expectativas de conquista sexual de turistas; em vez disso, as desafiavam” (p. 75-6). Embora o argumento tenha valor, eu sugeriria que eles estavam também se adequando às expectativas das turistas.

No início dos anos 1930, num contexto de intensa crise econômica; acusações de estupro; e o transplante, para as ilhas, do discurso racista e histérico a respeito do negro como um predador sexual, o clamor social legitimou uma intensa reorganização do espaço social e econômico da praia de Waikiki, que passou a ser completamente controlada pelos brancos ligados ao Outrigger. Restou aos Garotos se sujeitarem a trabalhar em condições muito piores que as anteriores, tentarem ganhar a vida como frilas ou simplesmente abandonar a praia. A Segunda Grande Guerra fecharia as praias do arquipélago – de acordo com Walker, Waikiki foi cercada com arame farpado.

Bibliografia

WALKER, Isaiah Helekunihi. Waves of Resistance: Surfing and History in Twentieth-Century Hawai’i. Honolulu: University of Hawai’i Press, 2011.

 

 

 

 


Uma aventura juvenil na África do Sul

06/10/2014

Por Rafael Fortes

Uma garota rica que vive na Califórnia parte para a África do Sul para conhecer a terra de sua finada mãe, viajando e surfando. Esta é a trama inicial de A Onda dos Sonhos 2, dirigido por Mike Elliott e lançado em 2011. Neste texto, chamo a atenção para dois aspectos desta obra: o protagonismo feminino e o papel da África do Sul (outros elementos foram explorados no artigo que deu origem a este texto).

Protagonismo 110719081405832853feminino

Onda 2 foi lançado nove anos após o original. Embora a trama não seja uma sequência do primeiro – as atrizes principais tampouco são as mesmas -, um dos pontos em comum é ser protagonizado por mulheres surfistas. Trata-se de algo raro na filmografia sobre a modalidade, amplamente dominada por homens nos papéis principais.

Dana torna-se amiga de Pushy, sul-africana cujo sonho é aprender a realizar uma manobra (aéreo 360) e vencer a seletiva para a equipe Roxy, da qual já faz parte Tara, a sul-africana que fecha o trio. Tara é a antagonista de Dana.

Por falar em Roxy, a ampla presença da marca na trama é uma das chaves explicativas para compreender a realização do filme. O nicho feminino vem apresentando taxas de crescimento significativas nos últimos anos, amplicando um mercado consumidor que, décadas atrás, atingia majoritariamente os homens.

No making of, surfistas profissionais (homens e mulheres) afirmam ter a expectativa de que, tal como ocorrera com A Onda dos Sonhos (de 2002), Onda 2 contribua para divulgar o surfe feminino e estimule muitas a garotas a começar a surfar. Segundo este ponto de vista, filmes como Onda 1 e Onda 2 estimulam o crescimento de uma prática social – surfar – profundamente articulada a uma indústria florescente. Neste contexto, cabe ressaltar que a Roxy é a marca criada pela Quiksilver (uma das principais multinacionais do surfe mundial) voltada para o público feminino. Os logotipos abaixo explicitam a relação entre ambas: Roxy, à esquerda; Quiksilver, à direita.

roxy_logo quiksilver

 

África do Sul

Onda 2 apresenta a África do Sul como um país de paisagens exuberantes, repleto de belos locais para o turismo, a prática do surfe e o contato com a natureza. Não é acaso o filme ter sido rodado em 2010: os governos sul-africanos vêm investindo no esporte como ferramenta para promover uma imagem positiva do país e incrementar o fluxo turístico. A Copa do Mundo de futebol realizada em 2010 é o principal exemplo desta política – e das consequências para setores da população local (como discuti em texto sobre o documentário Cidade de Lata).

A tarefa é árdua, tendo em vista o período de segregação racial como política de Estado, que recebeu ampla divulgação e condenação ao redor do mundo. Isto incluiu o próprio universo esportivo, com boicotes que vigoraram durante décadas.

Aos investimentos no esporte soma-se uma política de incentivos estatais para a indústria cinematográfica, sobretudo para coproduções que sejam rodadas em solo sul-africano. De acordo com documentos oficiais, os objetivos são o fortalecimento do cinema no país, bem como os benefícios econômicos relativos aos gastos durante o período de produção e à contratação de mão-de-obra local.

As gravações de Onda 2 foram realizadas no país e, como dito, é nele que se passa a trama. A aventura e o desejo da protagonista de conhecer os lugares mencionados no diário de sua mãe, bem como surfar as mesmas ondas, funciona como um pano de fundo que permite a circulação das personagens por diferentes regiões e paisagens.

O gran finale se passa em Jeffrey´s Bay, principal destino de surfe do continente africano e um dos locais mais famosos para a prática do esporte no mundo.

Para saber mais

FORTES, Rafael. Surfe feminino, indústria do surfwear e promoção da África do Sul: uma análise de A Onda dos Sonhos 2. Licere, Belo Horizonte, v. 17, n. 2, p. 283-311, jun. 2014.


A Associação Portuguesa Mulheres e Desporto

21/05/2012

Por Silvana Goellner

Desde dezembro de 2011 estou morando em Portugal mais especificamente na agradável e receptiva cidade do Porto. Meu projeto de pós-doutoramento está voltado para o desenvolvimento de uma análise comparada entre a produção acadêmica portuguesa e brasileira sobre mulheres e esporte. Mais especificamente aquelas que tomam como fundamentação teórica os feminismos em suas múltiplas vertentes.

Nesse sentido, há que se destacar o trabalho desenvolvido pela Associação Portuguesa Mulheres e Desporto, uma organização não governamental criada em 1998 com o objetivo de denunciar as discriminações entre homens e mulheres no âmbito do esporte bem como desenvolver estratégias para ampliar a participação das mulheres em todos os seus níveis, funções e esferas de competência.

Sua organização foi inspirada pela Declaração de Brighton (1994) e pela atuação de outras organizações congêneres, tais como a European Women and Sport (EWS), a International Association of Physical Education and Sport for Girls and Women (IAPESGW), a International Working Group – Groupe International de Travail (IWG-GIT) e a Women Sport International (WSI).

Ao longo dos seus pouco mais de 10 anos de existência, a Associação tem desenvolvido uma intensa agenda de  atividades concentradas a partir de cinco eixos: a representação institucional, a produção editorial, o trabalho conjunto com outras instituições, a organização de eventos e o desenvolvimento de projetos financiados. Ou seja, além de uma intervenção pedagógica bem estruturada empreendidas nas  atividades de sensibilização e formação relacionadas às questões de gênero, apresenta uma forte representação política em  diversos fóruns nacionais e internacionais visando não apenas a sua divulgação mas, sobretudo, colocar em pauta temas relacionados à participação da mulher no esporte. Os livros já publicados apontam nessa direção e trazem uma contribuição bem importante ao campo de estudos de gênero, inclusive, no atravessamento com a história. Eis alguns deles:

Equidade na Educação: Educação Física e Desporto na Escola / Equity on Education. Physical  Education and Sport at School –  edição bilingue

Disponível em

http://www.mulheresdesporto.org.pt/web/images/stories/pdf/publicacoes/apmd_2000_livro_equidade_na_educacao.pdf

Deusas e Guerreiras dos Jogos Olímpicos

Disponível em

http://www.mulheresdesporto.org.pt/web/images/stories/pdf/publicacoes/CIG_2006_Deusas_e_Guerreiras_dos_Jogos_Olimpicos.pdf

Despertar para a Igualdade, mais Desporto na Escola

Disponível em

http://www.mulheresdesporto.org.pt/web/images/stories/pdf/publicacoes/Manual_Despertar_para_a_Igualdade_Mais_Desporto_na_Escola.pdf 

 

Mulheres e Desporto. Declarações e Recomendações Internacionais

Disponível em

http://www.mulheresdesporto.org.pt/web/images/stories/pdf/publicacoes/APMD_2007_Mulheres_e_Desporto_Declaracoes_e_Recomendacoes_Internacionais.pdf

 

As Portuguesas nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos

Disponível em

http://www.mulheresdesporto.org.pt/web/images/stories/pdf/publicacoes/apmd_2008_atletas_portuguesas_nos_jo_e_paralimpicos.pdf

 

Igualdade de género no desporto. Educação e políticas públicas

 

 

Livro na íntegra:

http://www.mulheresdesporto.org.pt/web/images/stories/pdf/publicacoes/APMD_2008_Igualdade_de_Genero_no_Desporto.pdf

Treinadoras: Dirigir outros desafios. Situação das Treinadoras em Portugal

 

Livro na íntegra:

http://www.mulheresdesporto.org.pt/web/images/stories/pdf/publicacoes/APMD_2010_Treinadoras_dirigir_outros_desafios.pdf

 

            O futebol tem sido um tema de destaque nas ações empreendidas pela Associação, inclusive,  em função do projeto  O Jogo das Raparigas cujo objetivo é contribuir para o aumento da participação das  mulheres no futebol/futsal através de três eixos interligados e complementares de intervenção: (1) o combate à invisibilidade, às barreiras culturais e aos estereótipos;  (2) o empoderamento das mulheres, numa perspectiva de conscientização dos seus direitos, promovendo oportunidades de participação, de organização e de desenvolvimento das suas competências de liderança, bem como o aumento da prática desportiva; (3) a sensibilização de públicos estratégicos: dirigentes de clubes, de associações distritais de futebol, de eleitas/os do poder local, para a necessidade de promover medidas e programas específicos que apliquem o princípio da igualdade e da não-discriminação.

Em 2011 a Associação fez uma homenagem às primeiras atletas internacionais de futebol e futsal.  Vejamos algumas das imagens que divulgou:

 

 

 

Enfim, quero aqui registrar que o trabalho empreendido pela Associação Portuguesa Mulheres e Desporto é exemplar no contexto dos países de língua portuguesa pelo seu pioneirismo e, fundamentalmente, pela dinamicidade de suas intervenções as quais tem  contribuído para colocar nas agendas educativa, social e política questões específicas da igualdade de gênero no esporte sensibilizando as  mulheres (e também os homens)  sobre as situações de discriminação que vivenciam e as formas e meios de as combater. Quiçá desponte no Brasil uma alguma iniciativa que caminhe nessa direção….

Link para a home page da Associação

http://www.mulheresdesporto.org.pt/web/index.php


Cineclube “Sport” – 2a sessão – 20/4

15/04/2010

Cineclube “Sport”

Cinema e esporte, mesmo possuindo raízes anteriores, são manifestações culturais típicas da modernidade. Constituem-se em poderosas representações de valores, sensibilidades e desejos que permearam o ideário e imaginário do século XX: a superação de limites, o extremo de determinadas situações (comuns em um momento onde a tensão e a violência foram constantes), a valorização da tecnologia, a consolidação de identidades nacionais, a busca de uma emoção controlada, o exaltar de um conceito de beleza. Cinema e esporte juntos celebraram as idéias de velocidade, eficiência, produtividade. Juntos cultivaram muitos heróis.

Com o intuito de aprofundar as discussões sobre as relações entre história, cinema e esporte, o “Sport”: Laboratório de Historia do Esporte e do Lazer (www.sport.ifcs.ufrj.br) promove o “Cineclube Sport”.

As atividades são realizadas no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais/UFRJ, sala 320F, contando com a presença de convidados para debater o filmes.

Próxima Atividade

* Dia 20 de abril – 18 h

Filme: Fora de Jogo (Offside)

Diretor: Jafar Panahi

Sinopse
Nesta produção, o premiado cineasta Jafar Panahi mostra o universo feminino dentro do futebol, ilustrado pela história de uma garota que tem o sonho de ver no estádio o jogo entre Irã e Barein, pelas eliminatórias da Copa do Mundo da Alemanha. A entrada de mulheres no estádio, porém, é terminantemente proibida no território iraniano. Por essa razão, a garota tenta, por meio de vários disfarces, passar pela polícia e realizar o impossível em seu país.

Convidado: Leda Maria Costa