Videoclipe como fonte histórica

27/11/2017

Por Rafael Fortes (raffortes@hotmail.com)

A ideia deste texto surgiu meses atrás, num papo com o colega Leonardo Brandão, professor de História na FURB, em Blumenau (SC). Ele pesquisa história do skate no Brasil há muitos anos – e em 2018 junta-se à equipe do blogue. É muito legal que os esportes radicais – ou californianos, como ele denomina – sejam o foco principal de outro pesquisador por aqui.

Faço neste texto alguns apontamentos sobre o potencial do videoclipe como fonte histórica.

Dark Necessities – o clipe e a Califórnia

Eis o clipe de Dark Necessities, do Red Hot Chili Peppers:

O clipe é gravado na Califórnia, estrelado por gente que lá vive (a banda e as skatistas) e dirigido pela atriz hollywoodiana Olivia Wilde – que, segundo o verbete da Wikipedia, “vive e trabalha em Venice e Los Angeles“. Venice é um distrito de Los Angeles com forte presença de artistas, esportistas, hippies etc., sendo, junto com a vizinha Santa Monica, importantes em termos de lançar modas e estilos; e lugares onde o skate tem uma enorme presença e relevância. Abundam no vídeo as referências às subculturas locais.

A Califórnia e, particularmente, a região metropolitana de Los Angeles são temas constantes nas músicas da banda, desde o uso de heroína sob viadutos em áreas degradadas do Centro (Under the Bridge) a brincadeiras com as representações do estado em relação a outros (Dani California). Para além de gostar de um punhado de canções, a banda tem para mim um significado especial, pois foi muito importante na formação, no amadurecimento e na manutenção de outra que me é muito cara, o Pearl Jam.

Voltando ao clipe… Estão lá as palmeiras; as avenidas e ruas; a imensa quantidade de asfalto (uma das características do Sul da Califórnia, onde está Los Angeles); a prática de skate por diversos cantos da cidade – facilitada, em alguma medida, pelas quantidades expressivas de superfície cobertas por asfalto, concreto e cimento; os amplos corredores de supermercado; os estúdios de tatuagem.

Ao mesmo tempo em que é o estado mais populoso e rico dos EUA e sede de boa parte das empresas ligadas a internet e tecnologia (provedores de acesso, Intel, Google, Facebook, indústria pornográfica, desenvolvedores de websites e empresas que os hospedam estão lá; mais fácil é listar as gigantes que não estão: Amazon e Microsoft, ambas no outro extremo da Costa Oeste, na região metropolitana de Seattle), o Sul da Califórnia também representa, nos Estados Unidos, ao menos desde meados do século XX, o paraíso sonhado para se viver, se passar férias ou se mudar após a aposentadoria. Muita gente que para lá viaja acaba decidindo ficar. Se mal compararmos com o caso brasileiro, os estereótipos em torno da Califórnia e algumas de suas características unem boa parte do que, no senso comum brasileiro, se associa ao Rio de Janeiro, ao litoral do Nordeste e a São Paulo.

Os corpos

Estão lá os corpos. Movimentam-se cantando, dançando e brincando (banda) ou rodando no carrinho pela cidade (elas skatistas). Mas não se trata apenas de andar de skate: ali está incorporado um certo estilo associado ao Sul da Califórnia e a grupos que lá vivem, especialmente jovens. Mais: há um recorte de estilo dentro do próprio skate: são longboarders, o que implica a construção de representação de formas de andar de skate distintas de outras. Diferença que se estabelece não apenas pelo tamanho do skate, mas também por como se anda, em que lugares da cidade, o que se faz sobre ele, que tipos de manobras e ações são enfatizadas. Os corpos e seus movimentos são centrais neste produto audiovisual.

Eles – ou melhor, a pele – estão à mostra. Carregam e exibem muitas, muitas tatuagens. Tatuagens que fazem parte de diversos estilos de vida, culturas e subculturas, grupos/segmentos californianos: skatistas, surfistas, artistas, hippies, junkies, latinos, negros e/ou muitos outros.

Os corpos ostentam piercings, pulseiras, brincos, cabelos longos. Estão lá os bonés de aba reta, as camisas de flanela, os shorts, shortinhos, calças e bermudas.

Os corpos da banda exibem marcas da idade: rugas.

Os corpos delas, das skatistas, contém também ralados, machucados, roxos, cicatrizes, cascas de ferida, remendos com esparadrapo.

Estão lá quatro garotas fazendo o que querem com seus corpos. Um texto da jornalista Jéssica Oliveira considerou essa a principal característica do vídeo: estar sintonizado com os tempos atuais e com os progressos na luta das mulheres para se libertar de padrões impostos pelos homens, pela sociedade e/ou pelo machismo. Trata-se de uma leitura muito interessante do videoclipe.

Uma das skatistas faz uma tatuagem no interior da boca. O clipe representa tal escolha como não apenas um feito individual, mas parte de um ritual coletivo. Afinal, quando falamos da cultura em torno de um esporte – e particularmente nos casos em que este evolve para um estilo de vida -, não se trata apenas de praticá-lo, mas de compartilhar uma série de vivências com o grupo do qual se faz parte (por isso alguns autores preferem usar o conceito de tribo ou tribo urbana para se referir aos skatistas). E a vivência em grupos, em especial durante a adolescência, significa se submeter a um conjunto de normas, em busca de ser aceito. Portanto, a meu ver o ato de fazer tal tatuagem pode ser compreendido de diversas formas, desde o prisma da escolha e liberdade individual até a inserção num contexto coletivo mais amplo, com as expectativas, demandas e desejos de participação, integração, reconhecimento e, também, submissão.

Ao mesmo tempo em que tem traços característicos de muitos outros clipes do RHCP – como a própria banda aparecer tocando/cantando/dançando -, é uma ode às mulheres e, a meu ver, também à Califórnia e ao skate.

Videoclipe como fonte histórica

Propor o videoclipe como fonte história significa levar em consideração elementos dos produtos baseados em imagens em movimento (cinema, televisão etc.): os formatos e gêneros; montagem, sonorização, edição, fotografia etc.; ângulos de câmera, enquadramento, duração dos planos, ritmo e tipo de cortes etc. Não analisei tais elementos na seção acima, mas deixo alguns apontamentos: a) o uso de câmeras em movimento para gravar as cenas de skate; b) o close e os enquadramentos para mostrar os corpos femininos (tatuagens, cicatrizes etc., bastante distintos das lógicas de erotização que geralmente cercam a filmagem destes corpos); c) os cortes dados pela música: num padrão até 0’43”, noutro a partir daí, quando entra o baixo tocado por Flea (a partir daí é que as skatistas entram em ação).

A noção de videoclipe como fonte história não se descola, é claro, da música como fonte histórica – outra fonte pouco explorada na história do esporte. No caso das canções, cabe analisar a letra (coisa que tampouco fiz com o clipe acima – entre outros motivos, porque a letra não é explicitamente sobre mulheres, skate ou Califórnia). Penso, por exemplo, na representação de hábitos e atividades de lazer num domingo “típico” do Rio em Eu quero ver gol, do Rappa ou Jesualda, de Jorge Ben Jor (canções que falam de esporte, de hábitos culturais, das clivagens de classe social, de zonas geográficas e de asfalto x morro; ambas permitem discutir gênero). Ou nos três primeiros discos do Rappa e do Planet Hemp como fontes ricas para se analisar representações do Rio de Janeiro nos anos 1990 – infelizmente, boa parte delas, tão verazes e atuais naquela época como hoje (Tumulto, Miséria S.A., Tribunal de rua, Mão na cabeça, Todo camburão tem um pouco de navio negreiro, Legalize já, Hey Joe e Zerovinteum). Não se trataria, evidentemente, de analisar apenas as letras. Pode-se abordar também: as melodias; a forma de cantar; as sirenes de polícia e muitos outros efeitos sonoros; diálogo com gêneros e formas musicais (no caso, influências do dub, do reggae, do hardcore, de Jorge Ben Jor; os samplers de outros artistas e recursos eletrônicos; ritmo; instrumentos e formas de tocá-los.

Ou seja, é possível ter em conta, na análise, forma, conteúdo, aspectos técnicos da música, da letra e das imagens que aparecem no videoclipe; a trama do videoclipe, o contar ou não de uma história, os estilos/gêneros cinematográficos ou televisivos a que remete: ficção, documentário, colagem, desenho animado, experimentações gráficas ou visuais. Feito para consumo massificado ou conceitual, para disputar prêmios em festivais? Ou ambos?

Do ponto de vista cronológico e temporal, penso ser possível estabelecer pelo menos três referências: 1) o ano/época/contexto/lugar em que a música foi produzida; 2) o ano/época/contexto/lugar em que o videoclipe foi produzido (geralmente muito próximo ou idêntico ao da música, mas nem sempre); 3) o ano/época/contexto/lugar em que se passa a trama, ou aos quais ela remete.

Finalizo com dois exemplos. No primeiro, que nada tem a ver com esporte, mas também é do Chili Peppers, a trama homenageia/remete a diferentes bandas, artistas e épocas/décadas (cabelos, maquiagens, roupas, modo dos músicos se portarem no palco, instrumentos tocados, equipamentos de som etc.). A música é Dani California, à qual já me referi antes. Tal com em “Dark Necessities”, as imagens não buscam representar a letra.

Segundo, É Brasil, Representa (Brazilian Storm), de Gabriel O Pensador, Apollo Nove e Alex Freitas Gomes. Lançados este ano, o clipe e a música são uma ode ao surfe brasileiro: destacam uma série de nomes, datas e acontecimentos do passado, ao mesmo tempo em que celebram a presença significativa de brasileiros (em quantidade e em termos de resultados) nos anos recentes no Circuito Mundial profissional masculino, incluindo os títulos conquistados por Gabriel Medina (2014) e Adriano de Souza (2015).

Embora com objetivos, estilos e diálogos bem distintos, ambos representam o passado (mais o primeiro que o segundo) e o presente a partir do presente.

Para saber mais

  • Sobre o uso de fontes ligadas à arte e à mídia para a pesquisa histórica: MELO, Victor A.; DRUMOND, Mauricio; FORTES, Rafael; MALAIA, João. Pesquisa histórica e história do esporte. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013.
  • Textos deste blogue que contendo a palavra clipe.

Os Garotos da Praia de Waikiki: surfe, turismo, homens e mulheres

10/04/2016

Por Rafael Fortes

Num livro publicado em 2011, o historiador Isaiah Helekunihi Walker celebra o surfe como prática de resistência no Havaí durante o século XX. Entre os méritos da obra estão o uso de fontes que transcendem o inglês – sobretudo jornais em havaiano – e o destaque à articulação do surfe com movimentos políticos do arquipélago. Tem também problemas, comWalker - Waveso a grande facilidade para enxergar resistências e o esforço de corrigir textos de memória e jornalísticos – frequentemente, rechaçando os mitos apenas para colocar outros em seu lugar. Contudo, esse texto não é uma resenha do livro. Avisos aos navegantes: todas as citações do livro estão originalmente em inglês e foram traduzidas por mim; os vídeos, quando narrados, o são em inglês.

O que me interessa discutir é um trecho – intitulado “Garotos da Praia: Empurrando Mulheres e Fronteiras” (p. 70-77) – do capítulo três. O capítulo trata da rivalidade entre os frequentadores da praia de Waikiki, em Honolulu, que se agruparam em torno de dois clubes: o Outrigger Canoe Club, “formado em 1908 por (…) Alexander Hume Ford” e composto majoritariamente por haoles brancos nascidos no continente (p. 59); e o Hui Nalu, fundado e composto por membros de famílias históricas havaianas, entre os quais Duke Kahanamoku e o príncipe Jonah Kūhiō Kalanianaʻole, membro da família real deposta na última década do século XIX, antes da anexação pelos EUA, em 1898 (não confundir este clube com o Hui O He’e Nalu, formado nos anos 1970 e existente até hoje, cujos membros se tornaram conhecidos no Brasil como black trunks). O Hui Nalu, “embora existisse de forma pouco organizada desde 1905, (…) foi oficialmente formado (…) em 1911” (p. 62). Waikiki era e continua sendo a praia mais turística do arquipélago.

De acordo com Walker, “a partir de 1915, surfistas do Hui Nalu abriram lucrativos negócios sob concessão em Waikiki” e passaram a ser conhecidos como os “Garotos da Praia de Waikiki” (p. 70). Eles “eram salva-vidas, guarda-costas, instrutores, animadores e guias turísticos para os visitantes. Por um preço relativamente alto, levavam clientes para a arrebentação para descer ondas em canoas e pranchas.” Faziam e vendiam artesanato e davam aulas de ukelele.  À medida que os negócios se desenvolveram, alguns garotos passaram a atuar em tempo integral como funcionários particulares de famílias ou indivíduos de alta renda que visitavam Waikiki: levavam para passeios, atuavam como secretários particulares e desempenhavam funções diversas por períodos que variavam de “duas semanas até três meses” (p. 71).

As informações contidas e as histórias contadas nesta parte do capítulo se baseiam majoritariamente em entrevistas de história oral feitas com os próprios Garotos da Praia (a maioria, feitas em 1985 e disponíveis num banco de dados). Ao narrarem as relações com os e, principalmente, as turistas, a coisa fica mais animada.

Entre as graças que faziam para entreter os clientes, contavam histórias e piadas e surfavam sentados em cadeiras de praia ou na companhia de um cachorro. Este vídeo identifica um dos irmãos Kahanamoku como um surfista que descia ondas com seu cão Spot, o que pode ser visto em 3’19”. (Adendo: em outras ondas, a prancha em que está o cachorro não consegue ser captada pela câmera, o que provavelmente se deve à dificuldade de manejar o equipamento e à diferença de velocidade entre a prancha filmada e a canoa em que, suponho, encontrava-se a câmera.)

“À medida que ostentavam suas habilidades sociais e surfísticas, eles se tornaram celebridades locais capazes de atrair mais do que dinheiro. Garotas e mulheres brancas se aglomeravam na praia para aprender a surfar com os Garotos da Praia havaianos. ‘Naquela época’, recordou Louis Kahanamoku, ‘especialmente as wahine [mulheres] brancas iam todas nos Garotos da Praia. Os Garotos da Praia eram conhecidos por cortejar diversos tipos de mulheres de fora – divorciadas, ricas, vedetes e filhas de visitantes ricos” (p. 72).

Havia turistas que confiavam suas filhas aos cuidados dos Garotos da Praia. Houve histórias de amor entre os Garotos e vedetes que deram em casamento. E evidentemente, havia quem os considerasse “um bando de homens preguiçosos que se prostituem ganhando a vida em cima de desquitadas do continente” (p. 72).

Uma das principais formas de ensinar as damas a surfar, e também de “impressioná-las”, era descer as ondas junto com elas, na mesma prancha. Por exemplo, levantando-as sobre os ombros, o que, de acordo com um dos Garotos, “convidava a manobras excitantes e íntimas”. Na volta, “subiam em cima da parte de trás das garotas haoles” na remada para o outside (p. 72). O vídeo abaixo mostra, em 2’20”, uma sorridente mulher descendo uma onda em surfe duplo. (No último vídeo deste texto, há também um amplo sorriso captado em 5’07, em meio à excitação de descer uma onda numa canoa.)

(Breve comentário sobre o vídeo acima: como se pode ver, ele traz fartura de boas ondas surfadas com desenvoltura – e grande estilo – por um cachorro, que abre os trabalhos no sonrisal em 2’44” e depois manda ver no hang ten.)

Cenas com homens aproveitando a aproximação dos corpos para certos contatos e iniciativas, embora mantendo uma postura que cinicamente permita alegar que nada demais está acontecendo, também aparecem em Gidget, produção de 1959 com trama situada no litoral da Califórnia. Eis o trecho:

A partir de 0’16”, um dos personagens fala: “Aí está, querida! Reta como uma panqueca, hein?! Quase, né? (…) Posso te deixar mais à vontade?” Ao final, o mesmo personagem diz: “Muito bom para a primeira vez, né? Agora vou um levá-la um pouco mais fundo!” O filme, de acordo com vários pesquisadores, foi decisivo para espalhar a febre do surfe pelos EUA. A situação da personagem adolescente Gidget, que busca aceitação e tenta aprender a surfar em meio a vagabundos de praia mais velhos, é muito distinta daquela das turistas que buscavam e contratavam os serviços dos Garotos da Praia de Waikiki – elementos que podem permitir uma boa e complexa discussão sobre consentimento, abuso, vulnerabilidade etc.

Voltando a Waikiki… Quando na areia, a legítima preocupação de evitar queimaduras pela exposição ao sol levava os Garotos a realizar, “com frequência regular”, sessões de massagem para aplicação de óleos na pele de quem estava sob seus cuidados (p. 73).

À noite, vestindo smoking, os Garotos cantavam e tocavam instrumentos musicais, atraindo especial interesse do público feminino. As letras de algumas músicas tratam destas interações, do clima de romance e do duplo sentido em movimentos e gestos. Após o encerramento das atividades, os pares/casais se espalhavam em diversas direções – alguns, rumo ao mar, para novas sessões de surfe a dois.

O vídeo a seguir reitera esta narrativa da “boa vida” dos Garotos com diversas fotos, especialmente a partir de 3′ (e, diga-se de passagem, tem uma visão ainda mais positiva e idílica que Walker).

Como se pode imaginar, “por meio de tais interações, os Garotos da Praia de Waikiki violavam regras sociais de uma sociedade americana governada por leis antimiscigenação e ameaçavam a hegemonia haole por conquistarem propriedade que haviam construído e que era seu privilégio” (p. 75). Para Walker, isto evidencia que o mar – e, particularmente, a prática do surfe – constituía um espaço de exceção, de inversão de valores. Ali os homens havaianos eram poderosos, admirados e desejados. “Enquanto a indústria do turismo promovia as ilhas como uma ‘mulher’ a ser conquistada, os homens havaianos não eram propagandeados como objetos sexuais da maneira como ocorria com as mulheres dançarinas de hula-hula. Portanto, estes homens não estavam desempenhando ou se adequando a expectativas de conquista sexual de turistas; em vez disso, as desafiavam” (p. 75-6). Embora o argumento tenha valor, eu sugeriria que eles estavam também se adequando às expectativas das turistas.

No início dos anos 1930, num contexto de intensa crise econômica; acusações de estupro; e o transplante, para as ilhas, do discurso racista e histérico a respeito do negro como um predador sexual, o clamor social legitimou uma intensa reorganização do espaço social e econômico da praia de Waikiki, que passou a ser completamente controlada pelos brancos ligados ao Outrigger. Restou aos Garotos se sujeitarem a trabalhar em condições muito piores que as anteriores, tentarem ganhar a vida como frilas ou simplesmente abandonar a praia. A Segunda Grande Guerra fecharia as praias do arquipélago – de acordo com Walker, Waikiki foi cercada com arame farpado.

Bibliografia

WALKER, Isaiah Helekunihi. Waves of Resistance: Surfing and History in Twentieth-Century Hawai’i. Honolulu: University of Hawai’i Press, 2011.

 

 

 

 


Surfe em lugares inusitados

19/04/2010

No final de novembro, bombou na internet um vídeo feito no Arroio Dilúvio, em Porto Alegre:

Agora em março, uma chuvarada parou o Rio de Janeiro no final de uma tarde e início de noite de sábado (não confundir com a chuvarada de duas semanas atrás que arrasou o Grande Rio, principalmente Niterói). Um dos resultados foi este vídeo (não aparece como o que vai acima, do Youtube, porque o WordPress dificulta a vida com o Vimeo, onde foi colocado pelos produtores).

Há alguns pontos em comum entre eles. Ambos retratam problemas das grandes cidades brasileiras, cuja infraestrutura recebe mal as chuvas de verão, seja inundando (Rio de Janeiro), seja recolhendo aos rios boa parte do lixo, esgoto e poluição (Porto Alegre).

Segundo, a presença do surfe, ou melhor, de surfistas. No caso de Porto Alegre, a razão de existir do vídeo é a iniciativa de pegar onda num lugar daqueles. A câmera está lá com o intuito de registrar a aventura em águas imundas e caudalosas. No Rio, um surfista rema em meio ao “mar” em que se transformou o Baixo Gávea.

Terceiro, a relação entre esporte, juventude e tecnologia digital. As remadas e surfadas em águas barrentas tornaram-se conhecidas porque lá estava uma câmera digital a filmá-las. E, porque foram rapidamente transformadas em vídeos – muito bem editados, com trilha sonora bacana etc. – que, disponibilizados na internet, viraram febre – em parte, devido a recomendações como esta em blogues jornalísticos com grande tráfego.

Sem posse de uma câmera digital, conhecimento de ferramentas para editar, facilidade de exibição proporcionada por plataformas como Vimeo e Youtube e dicas em blogues, tuíteres e afins (fundamentais para obter visibilidade em meio aos zilhões de curtas para assistir disponíveis na internet), nada feito. Nem as façanhas teriam sido registradas, nem publicadas, nem se tornado conhecidas, nem eu estaria aqui escrevendo sobre elas.

O sucesso na internet rendeu reportagens com entrevistas dos responsáveis/protagonistas. Numa busca rápida, encontrei duas reportagens sobre o vídeo gaúcho – da TV Record local e de Mauren Motta conteúdo (esta  tem boas informações sobre a concepção e gravação do vídeo) – e uma matéria no Jornal da Globo sobre o carioca.

No próximo texto, mais surfe em lugares inusitados.