Breve notas sobre os primórdios do Niteroiense

Por Victor Andrade de Melo

Em 2024, voltou a disputar o Campeonato Estadual de Futebol (série C), o Niteroiense Futebol Clube, notícia que causou grande curiosidade por se tratar de uma agremiação antiga da Cidade Sorriso. Vale a pena aproveitar a oportunidade para apresentar algumas informações sobre os seus primórdios.

O “Nictheroyense Football Club” foi fundado em 1913, num momento em que surgiram muitos clubes de futebol em Niterói, espalhados por todos os bairros. Seu campo foi instalado na Rua Santa Clara, na Ponta d’Areia, um logradouro simbólico das mudanças pelas quais passou a cidade.

Como nos informa Emmanuel de Macedo Soares, o primeiro trecho surgiu da Enseada de São Lourenço em direção à praia. Em 1823, chamava-se Rua Reverendo Castro, mas não chegou a ser totalmente executada. Em 1840/1841, já era denominada Rua São Januário, e pouco avançou. Em 1850, teve-se a ideia de estende-la até a praia, contando com terras doadas por Clara Jacinta Nunes de Sá, de onde veio o nome atual.

A obra demorou a ocorrer e em 1878 encontrou resistências da nova proprietária, Carolina do Couto. A saída foi redirecioná-la com uma curva à direita, passando pela chácara na qual se encontrava o Asilo Santa Leopoldina. A expansão foi concluída em 1881, essa segunda parte denominada em homenagem ao fundador de O Fluminense, Francisco Rodrigues de Miranda. Nos dias atuais, em função dos aterros, as duas ruas já não encontram as águas do mar.

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Em vermelho, a Rua Santa Clara. Em azul, a Rua Coronel Miranda. Em amarelo, o aterro da Enseada de São Lourenço. Em rosa, o aterro da Praia Grande. Em verde, o atual Mercado de Peixe São Pedro.

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A rua acolheu um importante estabelecimento de Niterói: a Fábrica de Tecidos Santa Clara e São Joaquim, fundada em 1893, ativa até 1938. Em 1900, surgiu o Clube Atleta Santa Clara e São Joaquim, ligado à Igreja e contando com a participação de operários. Sua especialidade era o atletismo.

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É possível que o Niteroiense tenha também mobilizado esse público fabril, uma parte residente nas redondezas. O seu campo era um dos melhores da cidade, usualmente representado nos jornais como “espaçoso ground” que acolhia muita gente. Pelos informes, pode-se perceber que tinha uma torcida apaixonada, às vezes até demais! Vejamos uma descrição de um cronista do Correio da Manhã (10 de fevereiro de 1919), um ocorrido num jogo com outra equipe célebre, o Ipiranga:

“Esse match, que era ansiosamente esperado, levou ao ground da rua Santa Clara uma enorme multidão, calculada em três mil pessoas, notando-se muitas e graciosas senhoritas que emprestavam um brilho pouco comum ao ground.

A parte técnica do jogo foi, nos seus doze minutos finais, prejudicada devido à invasão do campo por parte dos aficionados do Niteroiense. A causa principal dessa invasão foi a marcação de um pênalti visivelmente feito por um jogador do mesmo clube, com o que não se conformaram os adeptos do clube em questão.

Não é a primeira vez que semelhante caso se dá, e para que que tal não se reproduza, é mister que a Liga Fluminense tome enérgicas providências, evitando assim a reprodução de fatos como esses, que tanto deprimem o esporte”.

Jogando com camisas brancas com uma faixa azul, o Niteroiense foi fundador e disputava os campeonatos da Liga Esportiva Fluminense, surgida em 1915, reconhecida em 1918 pela Confederação Brasileira de Desportos como representante oficial do Estado do Rio de Janeiro (em 1917, surgira uma dissidência, a Associação Niteroiense de Futebol).

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Equipe do Niteroiense Futebol Clube Selecta, 14 de abril de 1917, p. 24

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O campo do Niteroiense acolhia muitos jogos da Liga Esportiva. A agremiação participou ativamente da estruturação do futebol na década de 1910. Seus dirigentes ocuparam cargos relevante na entidade representativa. Era tida como uma das equipes mais fortes, constantemente cedendo jogadores para as seleções de Niterói. Sagrou-se campeão na contenda de 1919.

É sempre difícil saber os personagens que integravam as equipes, nos jornais informados usualmente sem o sobrenome. Seu capitão foi Azamor Damaso Correa. Seu exultado goleiro Gastão Ramos. Na direção, destacam-se os nomes de Carlos Mauricio Mais, Orlando Cruz, Alberto Callado, Renato Werneck, Gilberto Werneck.

Esses são personagens que merecem ser melhor investigados, bem como a trajetória do clube nas décadas seguintes.

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