A realidade da pesquisa histórica sobre práticas corporais e lazer na Bahia 

12/09/2023

Coriolano P. da Rocha Junior

Neste blog tenho escrito sobre a história do esporte na Bahia, porém, desta vez, vou apresentar um panorama sobre o desenvolvimento das pesquisas neste tema aqui no estado.  

No Brasil, os estudos sobre a história do esporte e lazer, normalmente, associam seu surgimento, sua constituição aos elementos da modernidade. Fatores como industrialização e os projetos de urbanização são apontados como indissociáveis à forma como as cidades assumiram o esporte como uma vivência. Assim, na atualidade, a maioria dos estudos em história do esporte e lazer os têm tratado como elementos associados à modernidade. Desta maneira, esta vinculação entre esporte, lazer e modernização aponta rumos, define caminhos e elege modos de análise para as pesquisas.

A estreita vinculação entre a modernidade e seus efeitos e a constituição e alargamento das práticas esportivas na sociedade, tem por referências as pesquisas feitas a partir de cidades como São Paulo (SP) e mais ainda, o Rio de Janeiro (RJ). Tal fato se dá pela notória força destas duas no país e por toda uma gama de influências que elas exercem, direta e indiretamente. Entretanto, o cuidado deve estar em não querer analisar outras localidades a partir da realidade destas duas. É preciso entender as peculiaridades de cada uma, suas especificidades, que dão a elas maiores ou menores possibilidades de assumirem o esporte e o lazer como práticas cotidianas. E aqui, os estudos históricos são centrais, justo por nos darem a possibilidade de compreendermos a forma como se estabeleceu, ao longo dos tempos, o fenômeno esportivo e o lazer em cada espaço.

Falando da Bahia e suas práticas de pesquisa, vamos encontrar um grupo de pesquisadores, em sua maioria, oriundos da Educação Física. Este grupo vem aumentando com o passar dos anos. Outras pessoas se juntam, outras áreas de conhecimento começam a olhar para o tema, como a própria História, para nele focarem seus estudos.

Um fato notório inicial foi à força do tema futebol. Deste grupo de pessoas envolvidas com a pesquisa histórica, grande parte dedica seus esforços a analisar este esporte. Mas aqui merece destacar que com o passar do tempo, vemos se alargar os focos de estudo. Outras modalidades, outras experiências corporais, a questão escolar, os espaços de prática, o lazer e suas práticas e gênero, são assuntos que tem surgido.

No caso baiano é possível perceber um amadurecimento desta frente de estudos, não só pelo aumento de pessoas envolvidas, mas pela diferenciação dos temas e área de origem das pessoas interessadas.

Tais mudanças ficam visíveis na constituição do simpósio temático, realizado no encontro estadual de história (no nordeste, só no da Bahia), que já acontece continuamente desde 2010 (2010, 2012, 2014, 2016, 2018, 2020 e 2022). Por mais que nos simpósios contemos com a presença de pessoas de fora do estado, isto sempre foi uma pequena parcela, um ou dois por edição, mostrando que o tema tem mesmo atraído pesquisadores da própria Bahia. Vale dizer que nos encontros nacionai, temos tido repetidamente a presença de pesquisadores da Bahia entre apresentadores de trabalho e mesmo, a Bahia assumiu a coordenação do simpósio na ANPUH nacional (2015, 2017 e 2021 – Prof. Coriolano Rocha Junior).

Quando olhamos para os grupos de pesquisa identificamos que existem, atualmente, na Bahia grupos variados, contando com representantes em Programas de Pós-Graduação. O mesmo tem se dado nas publicações em periódicos, onde temos visto as publicações de pessoas da Bahia nas principais publicações.

Um fator a se considerar ao tratarmos a Bahia é o tamanho e as possíveis diferenças de análise do tema dentro do estado. Assim, encontramos pesquisas e pesquisadores da capital e também pessoas do interior, que tem trabalhado nas interpretações do fenômeno.

As análises sobre a história do esporte e lazer na Bahia, na sua maioria, têm se associado à percepção da relação entre a constituição da modernidade e a instalação dos fenômenos, todavia, não fazendo uma transposição das análises sobre RJ e SP, mas sim, buscando compreensões que tratem as particularidades locais, ou seja, são pesquisas que se atentam para as especificidades do estado, sejam elas culturais, econômicas, estruturais ou políticas.

A investigação a partir da compreensão de um projeto de modernização local, também guarda enormes diferenças em relação a outros estados, mesmo que estes tenham servido de inspiração. As realidades locais fizeram com que houvesse diferenciações, no porte, no tipo, no período de realização e no perfil dos agentes executores. Existia um mesmo desejo, mas uma diferente capacidade de execução, que redundou numa diferente realização.

Por mais que se identifique que a experiência esportiva e do lazer na Bahia se iniciou em um período próximo ao do RJ e de SP, foi possível perceber foi uma descontinuidade ou ao menos, uma não linearidade na sequência da prática no estado. Desde o início, o estado vivenciou alternâncias nas formas de prática, de gestão e mais, de circulação das atividades entre a população.

Tomando por base as pesquisas realizadas, identificamos que as fontes centrais têm sido os jornais de circulação diária, notadamente os da capital que mais lidam com as questões de cotidiano.

Também encontramos dados que tratam de forma crítica o que é mostrado pelos memorialistas, principalmente Geraldo da Costa Leal e Mário Gama. Fonte importante são as revistas de costumes e de cultura. Estas, na Bahia, surgiram com uma qualidade de edição importante, com o uso de imagens, retratando as práticas e suas repercussões de maneira constante, com colunas específicas.

Pouca documentação oficial tem sido usada como fonte, a mais recorrente é a edição especial do Diário Oficial do estado, publicada no centenário de independência da Bahia, em 1923. Embora seja usual o aparecimento de imagens nas pesquisas, estas aparecem como ilustrativas, não conseguimos identificar nenhum estudo iconográfico. O uso de fontes orais é bem limitado, quase nenhum. Todavia, em ambas as situações, temos visto um aumento. Na literatura de base, vemos uma presença grande de estudos do Programa de Pós-Graduação da Arquitetura, que tem uma linha que trabalha com a história da cidade e também, dos Programas de Pós-Graduação em História. Nestes dois casos, encontramos referências a cidade, seu desenvolvimento e em alguns poucos casos, a experiências corporais como a dança, como prática social e a capoeira.

Sobre as fontes, sua descoberta e seu uso, devemos relatar a difícil condição enfrentada no estado, que claro, não deve ser única. Temos três principais centros de acesso a fontes (Biblioteca Pública do Estado; Arquivo Público e Biblioteca do Instituto Geográfico e Histórico). Estes enfrentam grandes dificuldades estruturais e de conservação das fontes. Não há nenhum tipo de tratamento especializado, fazendo com que revistas e jornais se percam com o próprio uso. Afora isto, percebemos uma descontinuidade no tratamento do tema e ainda, devemos falar de um bombardeio no que era a sede da Biblioteca Central em 1912, fazendo com que ocorresse uma perda estimada de 70% do que ali estava guardado.

Ainda sobre a Bahia, podemos dizer que estudos que tratam de outros lugares do Nordeste colocam que a experiência baiana serviu de modelo para seus contatos com o esporte, inspirando as práticas e as formas de contato com elas.

Por fim, cremos que a partir de um panorama geral, foi possível abordar as questões específicas da pesquisa em história do esporte do lazer na Bahia, nossa intenção central, trabalhando suas especificidades.


A Educação Física baiana celebra cinquenta (50) anos

14/02/2023

Coriolano P. da Rocha Junior

O ano de 2023 é para a Educação Física baiana muito especial. Nele se celebram os cinquenta anos de fundação daquele que foi o seu primeiro Curso Superior de formação na área, o da Universidade Católica do Salvador (UCSAL).

Poderia ser apenas uma data comemorada internamente pela UCSAL, mas acaba que é, na Bahia, um momento de celebração para o campo da Educação Física como um todo, uma efeméride que deve ser tomada como um marco institucional para esta área de conhecimento no estado, haja vista ter sido este o curso que iniciou e que durante longo tempo foi único na Bahia.

A Bahia, como mostram Pires, Rocha Junior e Marta (2013) foi um dos últimos lugares do Brasil a ter seu próprio curso superior de Educação Física. Tal formação, no Brasil, no meio civil, teve início no ano de 1939, quando da fundação da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD), na então Universidade do Brasil.

A partir deste ano, país afora, foram criados cursos diversos, em diferentes Instituições de Ensino Superior, no entanto, na Bahia, só no ano de 1973 foi que isto aconteceu, mesmo que em tempos anteriores houvesse havido no Estado iniciativas que buscaram a fundação de um curso, mas todas foram frustradas, por variadas razões (PIRES, ROCHA JUNIOR e MARTA, 2014).

Até o ano de 1973, na Bahia, quem quisesse ter uma formação em Educação Física deveria sair do estado e buscar algum curso já existente. Em períodos variados, sem dúvida, a ENEFD foi a preferida, justo por ser uma instituição de referência, mas também houve que tivesse buscado outros cursos, a exemplo do da Escola Superior de Educação Física de Recife, a partir do Programa de Expansão e Melhoria do Ensino (PREMEN) (FERRARO, 1991).

Fica a noção de que a demora na instalação de um curso superior próprio de Educação Física, na Bahia, acabou por provocar na área, não apenas um déficit de pessoas legalmente habilitadas para o trabalho, mas também, na própria afirmação do campo e de suas práticas por extensão, como o esporte, a ginástica e as lutas, espaços tradicionais de intervenção docente, que, embora, não dependam de forma única da Educação Física, sem dúvida, tem nesta área seu maior esteio de sustentação.

Sendo a Bahia um estado muito grande, com um largo número de municípios, mesmo com a criação de seu primeiro curso, devemos ter em mente, de forma clara, que ainda seguiu um buraco no atendimento social pleno, ainda mais tendo em conta que foi só em fins dos anos de 1980 que outro curso foi fundado. Assim, as pessoas egressas da UCSAL, que verdadeiramente abraçaram o campo, claro, não davam conta de atender a toda a Bahia, nos mais variados espaços profissionais da Educação Física.

Esse considerado atraso na instalação da formação superior em Educação Física na Bahia, claro, trouxe ao estado prejuízos de variados tons, desde a condição da afirmação das práticas corporais como um bem social, até a existência plena da disciplina escolar Educação Física, passando também pelas políticas públicas, seja na capital, ou até de forma mais acentuada nos interiores, tomando a grandiosidade do estado e suas peculiaridades sociais e econômicas, mas, mesmo assim, se deve comemorar e ao fazer isto, devemos também, de forma justa, trazer a tona personagens fundamentais em todo o processo.

Assim, mesmo reconhecendo que a instalação da Educação Física na Bahia foi resultado de uma grande ação de variadas pessoas, que tiveram papel fundamental nesta verdadeira luta, há uma que é tida como fundamental em todo este processo, que é o Professor Alcyr Naidiro Fraga Ferraro.

O Professor Alcyr é reconhecido por todas as pessoas que acompanharam os esforços pela criação de um curso na Bahia, como figura fundamental e de extensa participação, não apenas na criação no da UCSAL mas também no que veio depois, o da Universidade Federal da Bahia, só em 1988.

Em sua trajetória, Alcyr Ferraro desde muito cedo se viu envolvido com a prática de esportes. Soteropolitano, filho de família mediana, Alcyr sempre participou da vida esportiva da cidade, tendo sido praticante regular de várias modalidades, se encantando com tais vivências e mesmo por isso, acabou sendo chamado para atuar como professor leigo, figura comum naquele período, onde pessoas sem formação específica atuavam como docentes de disciplinas escolares e no caso, Alcyr, por sua vivência, foi militar com a Educação Física.

A condição de professor leigo não soou para Alcyr como algo ideal e justo. O mesmo compreendeu que deveria buscar uma formação específica, para melhor qualificar sua ação e foi aí que teve a iniciativa de se graduar na ENEFD, que então, aparecia para quem era da Bahia como a cena ideal.

Alcyr iniciou sua formação em 1947 e um ponto deve se destacar para a busca pela ENEFD, a política de bolsas que o curso oferecia. Sua trajetória no Rio de Janeiro foi como a de tantas outras pessoas da Bahia que por lá passaram, ou seja, mesmo com a bolsa, elas tinha de buscar trabalho para complementar e qualificar a renda, pensando uma melhor estada na cidade e ainda, caso fosse na área da Educação Física, se entendia que estas atividades colaborariam com a formação profissional.

Em 1949 Alcyr finalizou seu curso e com a titulação optou por voltar para a Bahia, especificamente para Salvador. Vale dizer que o retorno ao seu local de origem das pessoas graduadas na ENEFD, constava no regimento da Instituição, elemento que era tido como essencial para a dinamização da Educação Física país afora.

Em sua volta a Bahia, Alcyr se colocou como professor em diversos espaços e instituições, assumindo localmente uma liderança no campo e frente as pessoas que aqui já trabalhavam e que vieram a atuar e sempre esteve em seu alvo, criar, na Bahia, um curso específico.

Com esse intento, Alcyr atuou na Bahia contribuindo com a afirmação da Educação Física, seja ministrando aulas diversas, liderando profissionais, organizando eventos ou ainda na gestão de instituições, mas sempre com a meta de aqui fundar um curso.

Devo afirmar que Alcyr não foi peça única neste processo de tentativas várias de instalação de um curso na Bahia, mas reconhecidamente foi uma liderança, alguém que colocou como meta esta busca e por ela atuou em frentes várias, por vários anos, até que conseguiu seu intento, quando em 1973 se fundou o curso da UCSAL.

Após a instalação desse curso, Alcyr nele atuou em diversas frentes, passando então a formar quadros profissionais que vieram a atuar e assim alargar a Educação Física na Bahia, fato que só fez aumentar sua liderança no campo.

Mesmo após a criação do curso da UCSAL, Alcyr não se deu por satisfeito e seguiu buscando mais, até que também atuou na formação do curso da Universidade Federal da Bahia, que só se efetivou em 1988.

Enfim, no ano que a Bahia celebra os cinquenta anos de seu primeiro curso, pareceu justo trazer aqui uma breve referência a uma figura fundamental, Alcyr Ferraro e a partir dele, homenagear a própria Educação Física na Bahia e seus vários personagens que nela atuaram, atuam e atuarão, seja qual for o lugar, instituição e experiência. Que venham outras datas, outras celebrações.

Referências:

FERRARO, Alcyr Naidiro. A Educação Física na Bahia: memórias de um professor. Bahia: CEDUFBA, 1991.

PIRES, Roberto Gondim, ROCHA JUNIOR, Coriolano P. da e MARTA, Felipe Eduardo Ferreira. PRIMEIRO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA BAHIA – TRAJETÓRIAS E PERSONAGENS. Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 36, n. 1, jan./mar. 2014, p 205-223.

PIRES, Roberto Gondim, ROCHA JUNIOR, Coriolano P. da e MARTA, Felipe Eduardo Ferreira. MEMÓRIAS DE PIONEIROS DA EDUCAÇÃO FÍSICA: BAIANOS NA ENEFD. Recorde: Revista de História do Esporte . vol. 6, n. 2, julho-dezembro de 2013, p. 1-23.


A prática do atletismo na Bahia**

24/10/2022

Coriolano P. da Rocha Junior

Ainda hoje a Bahia se ressente de uma maior vivência e experiência com a modalidade atletismo, em qualquer uma de suas provas, no campo ou na pista. Também sente falta de espaços adequados para essa atividade, de forma a dar a sua população condições de a buscar. Mas este cenário é só de hoje? Em tempos anteriores, com a Bahia vivia sua relação com o atletismo? Terá sido melhor? Terá havido espaços adequados? Em que tempo a Bahia viu seus primeiros passos com o atletismo? Enfim, tomando por base a quase nula vivência nessa modalidade hoje, vamos aqui tentar avistar como se deu isso lá atrás.

Pensando sobre os primeiros tempos do atletismo em Salvador, só na segunda década do século XX foi que vimos o surgimento relativamente considerável de informações sobre essas modalidades. Podemos afirmar que a introdução dos esportes atléticos veio a reboque do processo de institucionalização das práticas esportivas em Salvador, via surgimento de entidades que organizavam certames.

Em meados da primeira década do século XX foi criado um clube que iria contribuir muito para o desenvolvimento das corridas a pé, do salto em altura, entre outras modalidades do universo do atletismo. O Yankee foi fundado, em 1914, pelos irmãos Aroldo Maia Bittencourt e Alexandre Maia Bittencourt Filho, filhos de Alexandre Maia Bittencourt, um importante engenheiro, fundador de uma importante escola de engenharia da cidade, a Escola Politécnica, em 1897. Eram também sobrinhos de Augusto Maia Bittencourt, benemérito do clube, um dos fundadores do Esporte Clube Vitória e seu presidente em 1908. Também, muitos médicos e coronéis eram membros da família Maia Bittencourt.

O clube foi considerado pela imprensa como um dos primeiros clubes da cidade que contribuía para a regeneração física. Isso porque era um dos poucos a praticar exercícios atléticos, por alguns considerados os mais adequados para o aperfeiçoamento corporal. Este era um dos seus diferenciais. A prática dessas modalidades atraía adeptos que realizavam, entre si, diversos torneios internos.

O clube era um dos poucos que oferecia para os seus sócios um programa esportivo atlético completo e, segundos os dirigentes, metodicamente elaborado. Entre as atividades estavam as corridas a pé, o salto em distância, o salto com vara, o levantamento de peso.

A organização de torneios no Yankee era facilitada pelo fato de o clube possuir, em aluguel conjunto com o Ypiranga, outro clube importante da cidade, um campo de esportes, localizado à Rua do Prado, no Rio Vermelho. O Yankee foi o primeiro a construir, na Bahia, uma pista de atletismo para os seus sócios.

Foi na década de 1920 que as atividades atléticas começaram a ter uma maior visibilidade na imprensa local. Além da construção do Campo da Graça, houve uma proliferação de discursos que exaltavam as práticas esportivas como um agente regenerador da raça em decorrência dos efeitos da guerra.

Neste sentido, o atletismo tornou-se uma prática elogiada, uma vez que para a imprensa local era a modalidade que mais contribuía para o fortalecimento racial da nação. Na Semana Sportiva encontramos várias referências sobre sua importância. Em um dos artigos mais entusiasmados, encontramos o seguinte ideal:

Dentre todas as manifestações da atividade desportiva, o atletismo é a mais bela, a mais emocionante e a mais expressiva.

O atletismo é que melhor revela o grau de adiantamento desportivo de um povo!

O atletismo é que concorre mais eficientemente para o desenvolvimento físico de uma raça.

O atletismo é que contribui mais facilmente para a propaganda de um país.

O atletismo é que proporciona maiores glórias desportivas a uma nação.

O atletismo é o desporto que mais diretamente atinge os fins visados pela cultura física. Aparelhar o organismo para a luta pela vida; dar-lhe a velocidade que vence o tempo, a agilidade que evita os tropeços, a força que remove os obstáculos, a resistência que transpõe as distâncias.

O atletismo é o esforço do homem contra adversários invisíveis, impessoais, incomensuráveis, gigantescos. É uma peleja em que o vencedor não tem vencidos porque todos os concorrentes são “vencedores”; vencedores do tempo, da distância, do obstáculo…

O atleta é mais útil à Pátria que o perfeito soldado

De um bom atleta pode-se fazer com facilidade, um excelente soldado.

Trabalhemos os nossos músculos, cultivemos a nossa energia, pratiquemos o atletismo*1.

Uma terceira via adotada pela Semana Sportiva, para incutir no leitor o valor da prática dos jogos atléticos era a publicação de artigos específicos, que orientavam os sportmen a se iniciarem no atletismo. Sobre as corridas a pé, o semanário trouxe um texto sobre o papel da respiração:

Esportes atléticos

A respiração na corrida pedestre.

A respiração é a função orgânica que a prática dos desportos atléticos desenvolve ao máximo.

Esse resultado é obtido lenta e automaticamente, desde que os métodos de treino não conduzam a resultados negativos.

Em qualquer hipótese, o ideal será obter indivíduos resistentes. E na grande maioria não são os atletas de grandes massas musculares aqueles que possuem uma maior resistência física. O volume muscular não representa, pois, um sintoma de resistência; pelo contrário, a capacidade pulmonar tem, neste caso, uma importância capital.

Os desportos atléticos são desportos respiratórios, por excelência.

Praticados criteriosamente e seguindo um método conveniente, levam-nos ao um fim comum de todos os métodos atuais: melhoramento da raça, não só sob o ponto de visa da estética, mas principalmente, aumento da resistência física individual*2.

Obviamente que pela quantidade de notícias, artigos e editorais defendendo os jogos atléticos, os clubes gradativamente começaram a se iniciar neste universo, promovendo eventos internos, seguido os passados do Yankee. Nesse ínterim, o Vitória toma uma iniciativa mais inovadora ao promover o primeiro campeonato interno de atletismo. De acordo com a Semana Sportiva:

O Esporte Clube Victória, o decano, dos clubes baianos, foi o primeiro a introduzir em nosso meio, o atletismo. Logo mandou vir do Rio os aparelhos e o seu atual presidente, Sr. Alberto Catharino, muito se tem empenhado para que esta bela ideia tome o incremento digno dos seus esforços.

Agora mesmo o Vitória realizará, pela primeira vez nesta capital, o campeonato interno de Atletismo.

Este gesto tão louvável deverá ser imitado pelos demais clubes*3.

A iniciativa do Vitória não foi isolada. Ao seu modo os outros clubes da cidade buscavam contribuir com a evolução das práticas atlética na cidade. Nesse aspecto, é claro que o Yankee vai assumir uma posição de destaque. Foi o clube dos chamados meninos de ouro que organizou a primeira Maratona da Bahia. Na imprensa local, encontramos a seguinte informação sobre o evento:

Quis o Yankee F. Clube, mais uma vez, mostrar o quanto se interessa pelo desenvolvimento físico da mocidade, instituindo pela primeira vez nesta capital, a grande prova de atletismo, a Maratona.

Assim fazendo o clube de Aroldo Maia e dos Torres, marcou na história esportiva da Bahia mais uma gloriosa imorredoura (sic) que ecoará com jubilo geral fora do Estado, máxime na capital do País, onde não só a Metropolitana, mas, também as suas subligas e coligados incentivam com atividade e propaganda utilíssima do atletismo.

O programa vai publicado na íntegra, em outro local, e para ele chamamos a atenção dos nossos leitores.

Os 700 metros finais – O vencedor ao entrar no ground fará o percurso final de 700 metros, na pista, coroado de loiros, passando em seguida sob o Arco do Triunfo, construído especialmente para este fim, em frente às arquibancadas do Jóquei Clube, hasteando no mastro, antecipadamente preparado, as bandeiras brasileira e do clube a que pertencer, ao som do Hino Nacional e de uma salva de 21 tiros*4.

Pelos indícios encontrados em notícias posteriores, fica claro que a maratona o foi bem sucedida, o que motivou o Yankee a continuar a promover eventos do gênero. Entre algumas iniciativas do clube tricolor, identificamos a realização de um concurso mensal de atletismo:

A comissão de Esportes Atléticos do Yankee F. Clube, a fim de incentivar o atletismo entre nós resolveu realizar mensalmente, no seu campo de esportes, ao Rio Vermelho, com a coadjuvação dos demais associados dos clubes amigos, um Concurso de Atletismo, obedecendo ao seguinte Regimento:

A – O Concurso de Atletismo será realizado mensalmente no nosso campo, e sob a nossa Direção, e compor-se-á das seguintes provas, obedecendo a ordem abaixo:

1 – corrida rasa de 100 metros.

2 – Salto em altura.

3 – Corrida rasa 200 metros.

4 – Lançamento de peso.

5 – Corrida com barreiras 110 metros.

6 – Lançamento de dardo.

7 – Corrida rasa 400 metros.

8 – Salto em distância

9 – Salto de vara.

B – Ao vencedor mensal, de cada prova, O Yankee F. Clube oferecerá um Diploma.

C – No quinto mês, será encerrado o Concurso, dando o Yankee F. Clube aqueles que obtiveram maior número de vitórias em cada prova, uma medalha de prata.

D – Ao concorrente que obtiver maior número de vitórias nas diversas provas, o Yankee oferecerá uma medalha de ouro.

Prevenimos aos nossos associados que os exercícios de atletismo terão lugar diariamente no nosso campo, às 7 horas sendo obrigatórios os exercícios nos dias de domingo, feriados e dias santificados*5.

Além dessas iniciativas, o Yankee também promovia eventos esporádicos, geralmente quando o clube adquiria uma taça ou troféu. Um exemplo foi a chamada Taça Noemia.

Embora a prática do atletismo tenha evoluído nos dois primeiros anos da década 1920, observamos que ele ainda ficava mais circunscrito ao Yankee, quando muito, ao Vitória. Esta situação para a imprensa da cidade não era considerada a ideal, uma vez que os seus esforços em aumentar o número de sportmen envolvidos nas atividades pareciam não estar surtindo efeito pleno.

Nesse sentido, os periódicos procuravam estimular os clubes já ligados ao atletismo a propor que esta modalidade fosse promovida não só pelas agremiações, mas também pela LBDT como uma política esportiva. É nesse bojo que, a Semana Sportiva vai oferecer suas páginas para a publicação de artigos defendendo uma atitude enérgica da Liga no que tange a regulação dos esportes atléticos em Salvador.

O Yankee toma a dianteira nesse processo e propõe aos dirigentes da entidade de esportes terrestres da cidade a criação de um campeonato baiano de atletismo, ação muito louvada pela revista:

O Yankee F. Clube, uma das agremiações que honram a Bahia, acaba de apresentar a L. B. D. T., um Regulamento de Atletismo, no qual fica a mesma obrigada a fazer realizar anualmente, em Fevereiro, o Campeonato Baiano de Atletismo, no qual todos os clubes filiados serão obrigados a inscrever no mínimo 5 dos seus associados em 4 páreos diferentes, sob pena de não poderem tomar parte no campeonato de futebol (sic).

Só assim, graças ao Yankee, a quem enviamos os nossos parabéns, teremos o atletismo entre nós, passo primordial todos os esportes e infelizmente esquecido na Bahia.

Um hurra, pois aos campeões da 2º divisão e à L. B. D. T. por ter aprovado o regulamento*6.

Não foi possível encontrar maiores informações sobre a forma como foi organizado o primeiro campeonato de atletismo na Bahia. Contudo, as informações trazidas pelo semanário sugerem algumas possibilidades de interpretação. A principal delas é que o certame atlético não deveria ser apenas mais uma entre outras competições organizadas na cidade. Pelo contrário, a notícia revela que o evento deveria ser encarado como uma escola de formação de futuros atletas comprometidos com o ideal, qual seja, mente sã, corpo são. Podemos perceber isso na própria obrigatoriedade de envolvimento dos clubes filiados a liga, sob pena de não participação no torneio de futebol.

Foram encontradas algumas referências sobre o andamento do certame. Entretanto, o que mais chamou atenção na imprensa foram os comentários sobre o papel de um torneio daquele gênero em Salvador. De modo mais evidente, um editorial do Semana Sportiva (2 de agosto de 1924) ratifica a ideia de que o campeonato de atletismo, não deve ser tratado meramente como uma questão quantitativa, na intenção de apenas preencher o calendário esportivo da cidade de eventos. Em seguida defende que por mais que os clubes contribuam para o crescimento e desenvolvimento do atletismo em Salvador, é a Liga que deve ter um papel de liderança nesse processo, o que não quer dizer que o valor das agremiações seja desconsiderado.

É mais do que isso. De modo implícito, o editorial entende que a prática do atletismo nos clubes não conseguia tomar uma dimensão almejada: uma política esportiva para a sociedade. Nesse sentido, a Liga é que seria capaz de dar aos jogos atléticos um caráter institucional com códigos, regras, normas e padrões para que ele transpusesse os muros, notadamente do Yankee e do Vitória, irradiando-se pelas ruas da cidade da Bahia. Dito de outro modo, só a Liga seria capaz de fazer do atletismo um agente pedagógico de regeneração racial e social de Salvador.

Ainda é possível ler no editorial que o atletismo não viria para competir com os outros esportes. Pelo contrário, bem organizado só tenderia a beneficiar as outras modalidades, o que favoreceria o desenvolvimento esportivo baiano em uma tentativa de equipar-se às realidades esportivas de outros estados. Aliás, em 1927, já foi possível identificar, nos impressos, notícias sobre a participação da Bahia nos campeonatos brasileiros de atletismo. Naquele ano, O Combate publicava que: “A Bahia tomará partes no Campeonato Brasileiro de Atletismo a se realizar no Rio de Janeiro em 8 e 9 de outubro e fará um campeonato juvenil de atletismo em 28 de outubro”*7. No que tange ao atletismo voltado para os jovens, o mesmo O Combate noticiou a organização de uma competição para os chamados novíssimos.

Mais uma vez, observe que um dos critérios estabelecidos na organização do certame é a sua obrigatoriedade para todos os clubes filiados à Liga. Quando não publicavam notícias relacionadas às inovações, no que tange ao tratamento dado pela Liga ao atletismo, a imprensa trazia uma série de críticas sobre alguns aspectos relacionados à condução técnica dos jogos atléticos na cidade. Na verdade, essa continuava a ser uma das principais bandeiras dos jornais e revistas. Em uma das suas queixas, O Combate teceu alguns comentários quanto ao desrespeito no que se refere ao cumprimento das regras no lançamento de dardos e do revezamento 4×100 metros:

Nós não temos má vontade alguma com a atual comissão Técnica de Atletismo, da LBDT.

Desculpem-nos, porém os que a compõem alguns comentários justos e razoáveis sobre duas das últimas provas realizadas: corrida de revezamento 4×100 e lançamento de dardo.

Aquela, realizada no dia 28, só foi efetuada, por uma diferencia das turmas de atletas do distinto diretor de Esportes da Liga.

A medição não foi bem feita, houve atleta que corresse mais que o outro, quando todos devem “tirar” 100 metros igualmente.

Além disso, é contra os regulamentos de atletismo, o “vencedor” ser numa curva.

Houve protestos em surdina…

O tempo não foi tirado…

Na de anteontem de “dardo” revelou a comissão falta de conhecimentos quanto ao lançamento e à desclassificação.

Manda o Regulamento de Atletismo seguido pela Liga Baiana que na prova de dardo a “linha” seja assinalada por uma tábua de dimensões certas e que, transpondo-a ou pisando-a o atleta, antes de o dardo tocar no solo, é desclassificado.

Anteontem não houve tábua e nem se seguiu aquele critério de desclassificação.

Demais devem disputar as finais os seis colocados nas eliminatórias que terão direito a três jogadas, cada. Isto se obedeceu? Pareceu-nos que não!

Veja, pois a distinta comissão que não está bem assim, e é preciso mais cuidado.

Consta-nos até que vai ser lavrado um protesto contra a prova última.

Não se zangue, pois, conosco a distinta comissão: dê-nos a razão merecida e evite os maus lençóis com o que o Dr. Arthur Oliveira, como diretor de esportes, tem que se ver!*8

Quando não se queixavam do descumprimento das regras e códigos dos jogos atléticos, os jornais também apresentavam queixas sobre o desempenho dos sportmen nesses eventos. Sobre o torneio dos novíssimos O Combate lamentou:

Realizaram-se as provas de novíssimos juniors, os resultados estão a demonstrar do que prometeu os nossos atletas.

As provas de corridas e lançamentos de dardo e peso tiveram um final que quase ninguém o esperava.

Tomem, pois os clubes a sério este problema e amanhã havemos de ver os resultados que isto trará*9.

Todas essas queixas e insatisfações têm uma justificativa principal. Como um esporte base de todos os outros, o atletismo é que prepararia o corpo e a mente, dotando-os de força e disciplina necessárias, para o sucesso em outras modalidades esportivas. Assim, ele não poderia ser encarado com displicência e desorganização. Em outras palavras, a desgraça das práticas atléticas seria a ruína do futebol, do tênis, do remo e de tantas outras atividades. É nessa direção que constantemente O Combate, a Semana Sportiva e outros órgãos da imprensa solicitam que a Liga cuide do atletismo:

Numa das últimas resoluções da Liga Baiana, figura o programa da temporada atlética de 1927.

Como nós, vê a diretoria da nossa Entidade Terrestre de Esportes, no atletismo, a base de todos os esportes.

E sem ele como compreender a prática do violento jogo bretão?

A liga, em vez de licença de passes e atestados médicos, o que devia exigir dos jogadores, era a prática preliminar do atletismo: as corridas (resistência e velocidade) saltos, lançamentos de peso, etc…

Não deve se descuidar como anos atrás do atletismo, praticado apenas pelo Yankee e Vitória*10.

Para os cronistas esportivos locais, seria por meio do interesse e esmero pelas práticas atléticas que, naturalmente, as outras atividades esportivas ganhariam um novo dinamismo. No caso do futebol que, em 1927, atravessava uma fase de relativa violência e baixa técnica, O Combate acreditava que o reforço no atletismo contribuiria para que o jogo bretão voltasse a ter brilho, com as partidas em um nível técnico melhor e jogadores fisicamente mais dispostos e emocionalmente mais estáveis. Para o jornal:

Inegavelmente o Esporte que mais dedicação está a merecer no momento dos amadores é o atletismo. O futebol, e não é traindo a nossa profissão que tal dizemos: o futebol, como está sendo praticado entre nós, onde há mais violência do que técnica, está recebendo dos seus amadores um afastamento notável.

Esta é uma das causas da queda do Esporte entre nós.

O atletismo, porém, praticado como deve ser, dirigido por hábeis e conhecedores. Há de trazer aos moços o que esperam ele do jogo da bola.

Nele não se verificarão os tatás (sic) desastres, uns a propósito e outros casuais, que todos os dias se estão verificando em nosso ground.

Dê-lhe, pois a Diretoria da LBDT o impulso que ele merece: faça-se do atletismo o que sonho Aroldo Maia, e hoje almejam muitos diretores de clubes baianos*11.

A história do atletismo em Salvador, ao menos nas três primeiras décadas do século XX, é marcada por um tipo de estruturação que só encontra sentido se nos atermos a história dos clubes de elites de Salvador e das ligas esportivas. Considerada como uma das práticas em que se nota mais a presença de um discurso eugênico e pedagógico, as elites vão assumir de algum modo, uma centralidade no desenvolvimento das práticas atléticas. Vale lembrar que foi nas agremiações abastadas (composta por médicos, estudantes, profissionais e outros intelectuais) que a relação entre esporte e eugenia encontrou uma maior capilaridade, expressa na tentativa de formar um homem mais saudável e apto as atividades, contando para isso com a prática do atletismo como um elemento de formação corporal e moral.

Mesmo tendo tido o atletismo experiências na Bahia já faz mais que século, ainda não encontramos na cidade esta modalidade espalhada, seja como rendimento, seja como lazer, seja como conhecimento e daí ficam as perguntas das razões para tal.

** Este texto é um trecho do livro: ROCHA JUNIOR, Coriolano P. e SANTOS, Henrique Sena dos. Primórdios do esporte no Brasil: Salvador. Manaus: Reggo, 2016.

*1 Semana Sportiva, Salvador, 21 de janeiro de 1922, p. 9.

 *2 Semana Sportiva, Salvador, 28 de janeiro de 1922, p. 11.

*3 Semana Sportiva, Salvador, 11 de setembro de 1921, p. 6.

 *4 Semana Sportiva, Salvador, 18 de setembro de 1921, p. 13.

*5 Semana Sportiva, Salvador, 26 de novembro de 1921, p. 8.

*6 Semana Sportiva, Salvador, 22 de setembro de 1923, p. 14.

 *7 O Combate, Salvador, 06 de agosto de 1927, p. 5.

 *8 O Combate, Salvador, 07 de setembro de 1927, p. 8.

 *9 O Combate, Salvador, 14 de julho de 1927, p. 5.

*10 O Combate, Salvador, 14 de julho de 1927, p. 5.

*11 O Combate, Salvador, 14 de julho de 1927, p. 5.


O tênis na Bahia e o Clube Bahiano de Tênis

14/03/2022

Coriolano P. da Rocha Junior

A cidade do Salvador viveu experiências com tênis em tempos anteriores, mas foi em 1916 que se viu o Clube Baiano de Tênis. Da mesma forma que outros clubes da elite soteropolitana, este também teve um início modesto, com sua primeira sede não indo além de uma barraca de lona, num terreno na Ladeira da Graça, de propriedade privada, cedido por um período de três anos. Foi nesse local que se iniciaram as construções das quadras de tênis, fato que gerou empolgação nos jovens da cidade e que provocou a adesão de novas pessoas associadas em a agremiação1. Assim, a qualificação da sede passou a ser uma exigência, provocando ações de suas direções, com movimentações financeiras que viabilizassem esse desejo.

Nas memórias de alguns sócios do Baiano de Tênis, publicadas na Semana Sportiva, fica evidente que o principal ideal que norteava a fundação do clube era a necessidade de retomar, na cidade, o cultivo de uma atividade considerara elitizada:

O Baiano de Tênis foi sempre, é e há de ser essencialmente um clube de Tênis. Fundado para incrementar entre nós a prática do tênis, o nosso clube tinha, pois, como fim especial, cuidar de tão lindo esporte.

No Clube Germania notava-se, então, regular frequência, aos domingos. Era esse todo o movimento do tênis na Bahia que já tivera dias áureos. O primeiro serviço do Baiano de Tênis foi, pois, dar vida nova ao tênis, porquanto, da sua formação até os nossos dias, o seu desenvolvimento tem sido crescente2.

O interesse de reativar o tênis na cidade se associava ao ideal de estabelecer ou firmar uma prática de distinção social, pois, neste momento, o futebol já se mostrava popular, alastrado pela cidade. O tênis, como esporte, era muito caro, muito por conta das despesas com a importação de equipamentos como raquetes e bolas. Por essas coisas, o esporte foi tido como uma prática em que apenas abastados participariam, longe dos populares.

Em seu esforço por estabelecer o tênis como uma prática nobre na cidade se mostra também no desejo de ter um espaço bem estruturado, com a construção de várias quadras, inclusive de materiais diferenciados:

Quando teve de ser construído o primeiro court do Baiano, o nosso consócio engenheiro Edgar Luz que dirigia as obras, quis romper com a praxe até então aqui em voga, das quadras de cimento. E, com grande competência, fez o nosso court de uma liga de barro, tal como ora se usa em todos os países tropicais. Os resultados foram magníficos e logo foi a segunda quadra e, em seguida, a terceira, até que, agora, conta o nosso grêmio tem 4 courts, todos eles excelentes, mesmo na estação chuvosa, quando muito pouco tempo depois de um grande aguaceiro, eles por serem inteiramente permeáveis, tornam-se perfeitamente praticáveis. Nessas quadras o tênis tem se desenvolvido assombrosamente3.

A partir da fundação do Clube, o tênis experimentou um certo desenvolvimento em Salvador. De acordo com os registros de Mário Gama (1923, p. 320):

Com a fundação, em 1916, do Clube Baiano de Tênis, nas suas quatro “quadras” o jogo tomou incremento admirável e ali se formaram e aperfeiçoaram muitos jogadores, sob os ensinamentos – é justo registrar – do grande tennismen F. Mc. Even, que, como diretor, dedicava-se extremamente, no preparo e afinamento dos seus consócios. O Bahiano de Tênis conta, dentre as suas melhores páginas, a visita do grande campeão dos Estados Unidos, Sr. Johnston, que jogou várias vezes em seus courts. Mantendo torneios anuais de duplas e simples, são campeões das quadras do alvi-negro F. Sá Macedo de Aguiar (duplas) e Mário Pereira (simples). Com a recente visita do Fluminense, A Bahia pôde mostrar bem que, em tênis, o seu adiantamento é patente, pois que, os representantes tricolores, Srs. Heberto Filgueiras e G. Prechel foram batidos, em simples, pelos nossos conterrâneos Mario Pereira e Macedo de Aguiar, que se houveram brilhantemente. Nos courts do Bahiano e Tênis está em disputa um torneio amistoso de duplas tendo-se feito representar os Clubes, Francês da Bahia, Rio Vermelho, Vitória, Associação Atlética e Baiano de Tênis.

Como um dos principais sócios do Baiano de Tênis, Mário Gama4 não raramente fez questão de circunstanciar o desenvolvimento do esporte no clube marcado pelo um intercâmbio com tenistas de outros estados e países. É possível interpretar como um indício que o desenvolvimento do tênis no alvinegro não ocorreu de forma meramente espontânea. Pelo contrário, houve um constante esforço de estruturação, inclusive no tocante ao aprimoramento das técnicas e estilos de jogo. Além disso, percebe-se um esforço em apresentar os tenistas locais como não inferiores aos de outras localidades. Com o crescimento do número de interessados, o Clube criou campeonatos internos entre os sócios. Os jogos de duplas e simples eram elogiados pela imprensa local, que fazia referência sobre o tênis nas dependências do Bahiano, como esta abaixo:

Dentro em pouco, nós muito confiamos, o tênis gozará na Bahia da brilhante situação em que se acham o futebol, o turfe e o remo. O Baiano de Tênis que é o pioneiro querido desse esporte, vem se empenhando vivamente por que assim aconteça. Ainda há pouco terminou o campeonato de doublés5, com o maior sucesso, e o de singlescomeçou domingo, despertando o mesmo interesse e revestido da mesma animação. O elemento de que mais depende a vitória do tênis, é o feminino, a tomar parte em suas provas elegantes e distintas, ou cercando os courts, enchendo o ambiente da suavidade, do seu perfume, do encanto da sua graça. Este já aderiu francamente e domingo lá estava, em numerosa representação7.

Se vê na matéria o cuidado em não apenas noticias o torneio, mas sim, estimular a sequência e propagação da modalidade na cidade, em outros clubes, buscando também a presença feminina como jogadoras e torcedoras. Em várias ocasiões, a Semana Sportiva manifesta o desejo de ver outros clubes praticando o tênis ou mesmo a realização de um campeonato interclubes:

Não há esporte tão elegante, tão distinto como o tênis não há. Infelizmente na Bahia, não o cultivam assiduamente como seria de desejar. Aqui há somente um clube que se dedica à sua prática, devendo-lhe o nome que honrosamente mantém. É o Clube Baiano de Tênis, o grêmio aristocrático da Avenida da Graça, em cujo courts se realizam, regularmente, campeonatos de singles e doublés. Porque o não imitam os outros clubes? Porque se não organizam turmas femininas? A vida do alvinegro na prática do esporte do tênis como em todos os outros está repleta de fases brilhantíssimas. Os seus courts são uma escola modelar, onde se formaram Mario Pereira, Macedo de Aguiar, Octávio Machado e outros muitos. Temos fé em que o trabalho desse grêmio pela identificação do tênis e nosso meio há de vingar8.

No texto transparece a preocupação de não apenas fortalecer o campo esportivo soteropolitano, mas sim, dotá-lo de uma magnificência e civilidade. Tal ponto fica transparente em artigo publicado pelo semanário, que busca caracterizar o valor social e cultural do tênis:

A Semana Sportiva registra, sempre, com o maior prazer as vitórias do esporte baiano. Semanário que inscreve no seu programa de vida a propaganda de todos os esportes, o futebol como a regata, e o turfe, e os esportes atléticos em geral, não saberia, ainda agora, esconder a sua impressão de franco júbilo para o êxito com que vem sendo praticado na Bahia, o tênis. Esporte de superior elegância e requintada distinção, esporte por excelência aristocrático, nenhum se lhe compara nesse ponto. Os jogos de tênis são de fato, uma das melhores e mais recomendáveis diversões da sociedade. Daí, a alegria com que noticiamos, aqui o seu pleno triunfo na Bahia. Prova disso, e prova iniludível, incontestável é a do sucesso do campeonato interno do Baiano de Tênis, há poucos dias terminado. As duplas de reconhecido valor, demonstrado em encontros anteriores, juntaram-se, para a disputa desse torneio interessantíssimo, duplas novas, que agora se iniciam no esporte elegante, e atestaram todas magníficas disposições de se tornarem tem breve tempo, à altura dos seus valorosos contendores. Quer isto dizer que o tênis, mais do que um simples ensaio, e, já uma esplêndida realidade. Não só pelo interesse com que no Baiano, e já agora na Associação Atlética, vem sendo praticado, mas, também, e principalmente, pelo entusiasmo dos torcedores, que, em verdadeira multidão acorrem aos courts, estimulando os jogadores com seus aplausos ruidosos.

Pois bem: o Baiano, que todo o ano realiza campeonatos internos com real sucesso, não registrara ainda tão grande concorrência de duplas como as que se inscreveram no torneio deste ano, agora findo, com a vitória da double Mario Pereira – Jayme Villas Boas. A Semana Sportiva sente, portanto, vivo prazer em registrar o fato auspicioso. Que os tenistas do Baiano da Associação Atlética do Rio Vermelho, do Clube Francês, que concorreram ao torneio de 1923, não esmoreçam, e se esforçarem sempre mais pela prática do tênis na Bahia. E que a Liga Baiana reconhecendo a necessidade de que não morra o esporte belíssimo, cada vez mais se afirme triunfante saiba, como é do seu dever prestigiar em toda linha o Bahiano de Tênis, a quem se deve mais este notável serviço aos esportes na Bahia9.

Se vê o desejo de exaltar o valor do esporte, em função do perfil social dos seus praticantes: sujeitos endinheirados e abastados, numa tentativa de estabelecer certa hierarquia entre as práticas esportivas.

O noticiário local buscava publicar publicar textos técnicos, no afã de auxiliar que lia a se iniciar na prática, com dicas, exemplos de jogadas, movimentações em quadra e indicações sobre o comportamento do jogador, como nesta matéria do A Semana Sportiva:

A primeira e mais importante condição que deve saber um jogador para disputar uma partida é a maneira de perdê-la. O jogador que se preza de sua dignidade deve saber perder de forma tal, que ninguém perceba o pesar que lhe pode perturbar o espírito. Nada é tão pouco digno do verdadeiro sportman como o de manifestar com um mau humor o sentimento da sua derrota. O sportman deve perder com o sorriso nos lábios, assim como deve proceder com modéstia, com generosidade e sem pretender molestar o seu adversário, quando ganhar; O objeto que tem em vista todo jogador ao disputar uma partida é, inegavelmente, ganhá-la, mas deve fazê-lo de modo nobre, digno e esportivo. Uma vitória conseguida de outra forma se converte em verdadeira derrota. No tênis, o jogo é tudo, e em uma partida, uma derrota honrosa tem mais valor esportivo que uma vitória conseguida pouco nobremente. O tênis é um esporte que se deve praticar pelo que ele é, e não pelos benefícios que dele possam sobrevir ao jogador. O tênis deve jogar-se com quem se põe em contato, e pelo prazer que seu jogo pode proporcionar ao público, que o honra presenciando-o. Muitos jogadores de tênis supõem que nada devem ao público e que, pelo contrário, este é quem devem ficar-lhes agradecido. Há outro fator que também contribui para um bom jogo de tênis. É o espírito competitivo que consiste no desejo de demonstrar a si mesmo de que é capaz de enfrentar lealmente o seu adversário10 .

Se via a preocupação de incutir a ideia de que a prática do tênis envolve um comportamento disciplinado, educado e civilizado, buscando um sentido aristocrático para o tênis, que contava, inclusive, com um cuidado com a atuação de quem atuasse como árbitro da modalidade, função que também deveria abraçar a linha civilizadora do esporte. Assim, a Semana Sportiva orientava:

Uma circunstância que não deve escapar a um comitê organizador de um campeonato importante é a de escolher os juízes e os linesmen11 antes de começar a partida. Estes elementos devem já estar escolhidos antes que os jogadores entrem na quadra para o jogo. Um bom linesman serve de grande auxílio numa partida de tênis. O linesman deve emitir seu juízo no momento em que a bola toca o solo. Se a bola cai fora das linhas, deve dizer – out – imediatamente, com voz clara e decisiva. Se a bola, porém, é boa, deve então permanecer discretamente calado. O juiz deve anunciar o score12 depois de cada ponto, em voz suficientemente alta para que seja ouvido por toda a assistência. Suas decisões devem ser ditas com voz suficientemente alta para que seja ouvida pelos jogadores13.

Nessa mesma linha, ganha destaque o reconhecimento da importância da prática da modalidade pelo gênero feminino. Para os jornais, em especial para a Semana Sportiva, o envolvimento das mulheres no tênis não se tratava apenas de uma questão de embelezamento dos courts, mas sim de contributo para a saúde das jovens:

O Tênis é um dos esportes mais queridos do belo sexo, que o pratica mesmo sem o menor prejuízo para a sua organização. Fala-se com insistência que dentro em pouco ele ocupará papel saliente em nossa vida esportiva. Tomara que assim seja14.

Em outra passagem o semanário é mais claro:

As formosas e promissoras jovens brasileiras, devem, pois, ao nosso modo de ver, lutar, com a mais absoluta das precisões, para que, dentro em breve, rivalizem, em simpatias, com o cultivamento do tênis, os demais esportes que já são comuns no Brasil. Os nossos votos e os nossos esforços não se farão recusar, cuja eficácia consiste nos atrativos que o jogo de tênis oferece, assim como, nos encantos que vulgarmente residem no belo sexo, tudo, portanto lhe sendo útil. Estamos certo que, futuramente as baianas fundarão um clube de tênis e a sua prioridade nesse particular servirá de exemplo as suas rivais dos outros estados do país, continuando a Bahia com a grande ventura de ser mãe, mais uma vez, das coisas auspiciosas e fecundas para a nossa raça15

Se um sentido civilizador se atribuia as atividades esportivas, as mulheres não deveriam ficar de fora desse processo. Como se acreditava à época, mulheres fortes é que fazem uma raça forte. Dito de outro modo, o chamado sexo frágil, com a prática de esportes fortaleceria o seu organismo. Contudo, não era qualquer prática que traria benefícios para as mulheres, modalidades como o boxe ou o futebol eram vistas como nocivas, que poderiam masculinizar corpo feminino e aí, o Tênis ganhava atenção especial, sendo tido como ideal a mulher.

No afã de fazer o esporte ganhar a cidade, para além do Baiano, a imprensa buscou também fazer com que a principal entidade esportiva de Salvador, a Liga Baiana de Desportos Terrestres (LBDT) abraçasse a modalidade e isso se deu, quando a Liga criou um campeonato de tênis envolvendo os clubes filiados à instituição. No dia posterior ao encerramento das inscrições, a Semana Sportiva publicou um efusivo editorial comentando o feito:

Encerraram-se ontem, na secretaria da Liga Baiana, as inscrições para o campeonato de tênis a inaugurar-se este ano. Compreende-se facilmente quanta satisfação nos vai neste registro. Ela é tão intensa como justa. Quem consultar as coleções da Semana Sportiva, há de encontrar em grande parte, na maior parte, mesmo, dos seus números os traços de um vivo empenho porque na Bahia se intensificasse a prática desse esporte. Em artigos, entrevistas, sueltos e comentários, de muito tempo vimos batendo pela vitória de ideia tão magnífica. Ninguém nos excedeu, então, no ardor desse desejo, assim tantas vezes evidenciado. Foi por isso que recebemos com o justo alvoroço de justíssima alegria as palavras a propósito proferidas pelo ilustre Sr. Presidente da Liga Baiana, em excelente entrevista – programa aos nossos confrades do “O Imparcial”. Bem que a Bahia Sportiva já estava reclamando como necessidade inadiável a brilhante realização positivada. Esporte amado e praticado tão somente por um clube, o Bahiano de Tênis, que o instituiu, único nesses últimos tempos, para a prática dos seus associados, em campeonatos internos, o tênis teve ali quem verdadeiramente o compreendesse, atingindo surpreendente perfeição. Formaram-se com assiduidade o capricho, campeões cujos valores se não estimavam devidamente, porque ainda se lhes não oferecerá ensejo de provar que o eram de verdade. Deve-se a esta fase memorável no esporte baiano o toque de rebate para a vida que agora vai ter o tênis nesta capital. Já o praticam em courts próprios e com players valorosos, a Associação Atlética, o Rio Vermelho de Tênis e o Clube Francês. Todos esses se inscreveram também para a temporada que, em breve, se inaugurará sob os melhores auspícios. Tudo está a indicar que o tênis viverá longa e brilhantemente na Bahia. Assim não lhe faltem nunca a direção de espíritos superiores e a dedicação de quantos o amam e desejam vê-lo vitorioso16.

O texto mostra que o Semana Sportivabuscou tomar para si os louros pela criação de um certame de tênis na capital baiana e ainda, reforçar a ideia de que ele era o primeiro a defender o progresso de uma cultura esportiva na cidade. Por outro lado, o semanário não deixa de compartilhar tal conquista com o Bahiano de Tênis. Por fim, ao que parece o texto deixa implícito que tanto a esforço do Bahiano de Tênis quanto da revista surtiram efeito quando se percebe o envolvimento de outros clubes com a prática do tênis, a exemplo do Rio Vermelho, Associação Atlética e o Clube Francês.

Podemos considerar que a centralidade da introdução e, sobretudo, desenvolvimento do tênis em Salvador nas primeiras décadas do século XX é reivindicada pelas elites. Do ponto de vista discursivo, buscavam apresentá-la como uma experiência única e exclusiva das camadas altas.

Dito de outro modo, representada como uma prática distintiva seriam as camadas abastadas as únicas responsáveis por desenvolver a modalidade na cidade, já que possuíam um comportamento refinado, educado e elegante exigido pelo jogo.

Notas:

1. Semana Sportiva, Salvador, 21 de julho de 1923, p. 26.

 2.Semana Sportiva, Salvador, 02 de julho de 1924, p. 58.

3. Semana Sportiva, Salvador, 02 de julho de 1924, p. 59.

4. Homem que atuou largamente no esporte baiano, como atleta, dirigente e que também deixou vários escritos sobre o assunto.
5. Significa os jogos em duplas.
6. Jogos individuais.
7. Semana Sportiva, Salvador, 25 de agosto de 1923, p. 9.

8.  Semana Sportiva, Salvador, 21 de julho de 1923, p. 8.

9.  Semana Sportiva, Salvador, 11 de agosto de 1923, p. 7.

10. Semana Sportiva, Salvador, 15 de setembro de 1923, p. 13.

 11. Equivalente a árbitros de linha.

12. O termo se refere à pontuação do jogo.

 13. Semana Sportiva, Salvador, 15 de setembro de 1923, p. 12.

 14. Semana Sportiva, Salvador, 21 de outubro de 1922, p. 13.

 15. Semana Sportiva, Salvador, 12 de maio de 1923, p. 11.

16.  Semana Sportiva, Salvador, 19 de abril de 1924, p. 3.


III Encontro Nacional de Historiadores do Esporte (2022)

22/01/2022

Trabalhos

PRAZOS PRORROGADOS

A submissão de resumos ocorre até o dia 10 de fevereiro de 2022.

Esta edição contemplará duas possibilidades de apresentação: 1) Pesquisadores (profissionais já graduados); 2) alunos de graduação.

No caso da categoria PESQUISADOR, podem submeter propostas de comunicação apenas aqueles que se enquadrarem em ao menos UMA das situações abaixo:

  • Ser filiado à Associação Nacional de História (ANPUH).
  • Ter apresentado trabalho em simpósio temático no âmbito do Simpósio Nacional e/ou Regional da ANPUH.

No caso da categoria ALUNOS DE GRADUÇÃO, não se aplicam as regras acima citadas. Neste caso, serão selecionados até 8 (oito) trabalhos para serem apresentados em formato de comunicações livres. Será avaliada a pertinência na área da História do Esporte.

Observação importante: Ressaltamos que o Encontro Nacional de Historiadores não tem vinculação com a Anpuh ou chancela da entidade. Trata-se apenas de uma exigência que tem por objetivo delinear o público-alvo que apresentará trabalhos.

A inscrição só será confirmada mediante o envio, para o e-mail encontrohistoriaesporte2022@gmail.com, até o prazo final de inscrição, da declaração atualizada de filiação à ANPUH, que pode ser retirada na área do associado, na página da entidade, ou do certificado de apresentação de comunicação em simpósio temático de encontro da ANPUH em nível nacional ou regional.

Trabalhos submetidos por autores que não se enquadrem em qualquer das situações exigidas não serão avaliados/aceitos. Caso exista dúvida, a comissão organizadora solicitará informações ao/aos autores.

ATENÇÃO: Cada autor ou coautor poderá inscrever apenas um trabalho.

A submissão pode ser feita em arquivo com extensão .doc ou .docx.  Cada submissão deve conter:

– Título do trabalho

– Nome do autor, e-mail e vínculo institucional

– Resumo contendo entre 300 e 500 palavras

– Palavras-chave separadas por ponto e vírgula

Trabalhos em coautoria devem conter as informações completas de cada autor(a).

Os resumos aceitos serão reunidos em um caderno a ser publicado no site do evento.

É imprescindível o uso do template, que pode ser encontrado em:

https://docs.google.com/document/d/1Waitb1nZEiowdk3JBJ6jjVa8bxamE7Jw/edit

PROTOCOLO PRESENCIAL
Exigência do cumprimento de todos os protocolos sanitários em vigor e uso de máscara em todas as dependências da Universidade.
COMPROVAÇÃO DE VACINAÇÃO COMPLETA
VAGAS LIMITADAS
Em cumprimento aos protocolos de retomada das atividades presenciais, a quantidade de pessoas nos espaços é limitada.

Dúvidas ou informações pelo e-mail: encontrohistoriaesporte2022@gnail.com

Comissão Organizadora


III Encontro Nacional de Historiadores do Esporte

07/01/2022

Contando com o controle da crise sanitária e o retorno seguro das atividades presenciais, o III Encontro Nacional de Historiadores do Esporte acontecerá em Salvador/BA entre os dias 03 e 05 de agosto de 2022, na Faculdade de Educação (FACED), da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Nesta edição, o ENHE é organizado pelo Grupo CORPO.

O Encontro Nacional de Historiadores do Esporte foi criado com o objetivo de reunir, em anos pares, os pesquisadores que frequentam bienalmente, nos anos ímpares, o Simpósio Temático História do Esporte e das Práticas Corporais, no âmbito do Simpósio Nacional de História. A iniciativa tem duas motivações. Primeiro, uma avaliação positiva das atividades do ST História do Esporte/ANPUH, que vem se reunindo a cada dois anos desde 2003. Tais encontros têm sido cada vez mais interessantes e ricos; avaliamos que a qualidade média dos trabalhos também tem crescido. Em segundo lugar, atender a demanda de uma nova possibilidade de encontro dos pesquisadores e discussão de suas investigações, de forma que, após o encontro realizado em anos ímpares, não esperemos dois anos para nos reunirmos novamente.

Que possamos novamente nos reunir com segurança e alegria, neste evento de significativa representação para área. Participem!

Trabalhos

A submissão de resumos ocorre entre 09 de novembro de 2021 e 23 de janeiro de 2022.

Esta edição contemplará duas possibilidades de apresentação: 1) Pesquisadores (profissionais já graduados); 2) alunos de graduação.

No caso da categoria PESQUISADOR, podem submeter propostas de comunicação apenas aqueles que se enquadrarem em ao menos UMA das situações abaixo:

  • Ser filiado à Associação Nacional de História (Anpuh).
  • Ter apresentado trabalho em simpósio temático no âmbito do Simpósio Nacional e/ou Regional da Anpuh.

No caso da categoria ALUNOS DE GRADUÇÃO, não se aplicam as regras acima citadas. Neste caso, serão selecionados até 8 (oito) trabalhos para serem apresentados em formato de comunicações livres. Será avaliada a pertinência na área da História do Esporte.

Observação importante: Ressaltamos que o Encontro Nacional de Historiadores não tem vinculação com a Anpuh ou chancela da entidade. Trata-se apenas de uma exigência que tem por objetivo delinear o público-alvo que apresentará trabalhos.

A inscrição só será confirmada mediante o envio, para o e-mail encontrohistoriaesporte2022@gmail.com, até o prazo final de inscrição, da declaração atualizada de filiação à ANPUH, que pode ser retirada na área do associado, na página da entidade, ou do certificado de apresentação de comunicação em simpósio temático de encontro da ANPUH em nível nacional ou regional.

Trabalhos submetidos por autores que não se enquadrem em qualquer das situações exigidas não serão avaliados/aceitos. Caso exista dúvida, a comissão organizadora solicitará informações ao/aos autores.

ATENÇÃO: Cada autor ou coautor poderá inscrever apenas um trabalho.

A submissão pode ser feita em arquivo com extensão .doc ou .docx.  Cada submissão deve conter:

– Título do trabalho

– Nome do autor, e-mail e vínculo institucional

– Resumo contendo entre 300 e 500 palavras

– Palavras-chave separadas por ponto e vírgula

Trabalhos em coautoria devem conter as informações completas de cada autor(a).

Os resumos aceitos serão reunidos em um caderno a ser publicado no site do evento.

Dúvidas ou informações pelo e-mail: encontrohistoriaesporte2022@gmail.com

É imprescindível o uso do template, que pode ser encontrado em:

https://docs.google.com/document/d/1Waitb1nZEiowdk3JBJ6jjVa8bxamE7Jw/edit

PROTOCOLO PRESENCIAL
Exigência do cumprimento de todos os protocolos sanitários em vigor e uso de máscara em todas as dependências da Universidade.
COMPROVAÇÃO DE VACINAÇÃO COMPLETA
VAGAS LIMITADAS
Em cumprimento aos protocolos de retomada das atividades presenciais, a quantidade de pessoas nos espaços é limitada.

Comissão Organizadora


APENAS UMA REFLEXÃO

28/06/2021

Coriolano P. da Rocha Junior

Neste post de hoje vou pedir licença a quem fizer a leitura, para escrever fora de meu tema básico. Hoje, considerei mais justo trazer algumas reflexões sobre este nosso tempo.

Vivemos dias em que as ações regulares cotidianas foram absolutamente modificadas por um novo, por um agente externo que chegou e fez, ou deveria fazer, pessoas, cidades e instituições alterarem seus modos, atitudes e comportamentos.

Este novo, que na verdade, mesmo diferente, acaba repetindo situações já vividas, nos trouxe uma inovadora e necessária medida do estar em sociedade, onde o sujeito diretamente tem de agir, em função de si e do outro, tudo isso, em função de possíveis formas de bem estar, ou ao menos assim deveria ser.

Esta nova realidade nos leva a pensar nas formas de ação do poder público e da pessoa. O ente público é aquele que deveria ter em conta o bem estar coletivo, pensar formas de criar redes protetivas para as pessoas e instituições e mais, ser o agente catalisador das boas falas e condutas. A pessoa, caberia se organizar e agir dentro de procedimentos, que para além de si, levem em conta o outro, assim, toda e qualquer atitude individual deve ser pensada dentro do coletivo. Desse jeito, com estas posturas saberíamos viver esta cena e a ultrapassar, na tentativa de nos fazermos melhores, de termos uma nova sociedade e novas formas de vida individual e coletiva.

Neste cenário, a educação aparece como essencial, pois, é ela que poderia e já deveria ter agido na formação desse sujeito que é capaz de entender isto que nos aparece como um novo modo de viver.

Falo aqui de uma educação que se pense para além da seriação tradicional, que vá mais distante do que a transmissão de saberes estandartizados, muito embora estes sejam absolutamente necessários, uma educação que possa pensar uma vida em sociedade que se faz coletiva e que valoriza o indivíduo naquilo que ele tem de melhor, capacidade de se relacionar, onde a empatia e o bem querer sejam o normal cotidiano.

De forma diferente daquilo que possamos pensar como o ajustado, as cenas diárias de nossa sociedade tem nos mostrado outras realidades, que nos fazem pensar e repensar sobre tudo que foi feito e vivido até agora, mais diretamente na educação.

Num tempo onde o poder público deveria assumir o protagonismo das boas ações de controle, segurança e apoio social, com exceções nas esferas estaduais e municipais, temos visto o governo central agir de forma temerária, num claro desrespeito a toda forma de vida e a coisa pública. Se o governo fala e age de maneira calamitosa, incitando a barbárie, gerando medo, insegurança, mal estar e mesmo caos, por seu lado, o sujeito também tem se mostrado atabalhoado e, claro, reconhecemos que estes, felizmente, não são uma maioria, mas mesmo não a sendo, sua forma de ser e estar no mundo causa perplexidade, pois, demonstra absoluto desprezo ao outro, a vida comum, só havendo espaço para o prazer imediato, para aquilo que toca a si.

Mas, de novo, nos perguntamos e a educação com isso? Se estas ações e comportamentos existem, como a educação tem agido então? Esta pergunta fica para reflexão e é nela que vamos nos ater.

Nestes tempos temos assistido um Brasil sem “ar”, asfixiado. Esta ausência de oxigênio começou quando vimos a democracia ser estrangulada e o país respirar cada vez um ar menos puro, mais poluído de ódio, de mentiras, de acentuada desigualdade, de machismo, de misoginia, de fundamentalismo religioso, de conluio de poderes, ou de arremedo destes e assim, a nação foi se esvaindo.

As mãos da tirania, do imperativo do mal se prenderam ao pescoço da nação e aos poucos foi cada vez mais apertando, sufocando. Estas mãos foram muitas e ganharam força com o ódio de classes, se avolumaram com os preconceitos e ficaram potentes com a mentira operada em função de um mal, mal este que prevê a destruição, que ganha peso na intenção de operar a desigualdade estrutural e para isso é preciso esvaziar de ar os pulmões de quem pode ou poderia gritar.

O silenciamento se opera com os likes, com o cinismo da fala distorcida, com a destruição de desejos e sonhos e a afirmação da crença na incapacidade construtiva de uma terra que ousou, algum dia, ser uma nação entre iguais.

Não basta destruir aquilo que um dia se ousou montar, mas sim, é preciso impedir as bases de uma nova construção e isto se faz destruindo a moral de um povo, sua estima, seu poder de crer e para isto servem as investidas diárias no aparato que atua como força educativa da nação.

Mais que destruir, é necessário impedir que se construa e para tal, a Educação, a Ciência, Educadoras, Educadores e Cientistas precisam ser desmontados de seus apoios, afinal, suas bases se dão junto a quem pode e deve ser operado como força para o mal, um mal que busca, exatamente, aniquilar as forças de um bem que deve trabalhar por algo maior, cidadania.

Para tal, valores precisaram ser invertidos. Saíram livros e leitura e entraram armas e tiros, saíram empatia e solidariedade, entraram individualismo e ganância, saíram cultura da paz e fraternidade, entraram ódio e intolerância, saiu o Estado e entrou o mercado, sustentado por este mesmo Estado, que agora deve só a ele servir.

Tudo isto não foi acaso, não foi erro, mas sim uma construção, projeto e vem se dando desde que as mãos da força machista, cretina, mentirosa e vil dos arremedos de poderes constituídos, apertaram o pescoço da democracia.

Numa época onde as exigências sanitárias que foram postas na sociedade passaram a demandar ações imediatas que dessem respostas efetivas e elas vieram e continuam a vir e da ciência. A ciência e seus personagens cientistas, das mais diferentes áreas rapidamente envidaram os maiores esforços para buscar soluções as diversas crises vividas e criadas. No entanto, temos visto, por mais incrível que possa parecer, uma onda de negação a própria ciência e suas capacidades de resposta e aí, esse negacionismo faz com que pensemos: como se deu a educação científica? Bem, somos obrigados a crer que ela falhou. A educação foi incapaz de trabalhar com a formação de pessoas que saibam lidar e reconhecer os saberes científicos como essenciais e nessa incapacidade, negar, duvidar, olvidar acaba sendo a fuga dos que não sabem e não querem saber e a resposta que nos vem: a educação falhou!

Outra situação que esta crise social gerou foi a acentuação das desigualdades e capacidades de acesso aos bens sociais e materiais mínimos a uma segura sobrevivência e aí, de novo, se viu o descaso e a culpabilização destes que não tem acesso por suas condições, sem falar na necessidade de acúmulo, em detrimento de quem não tem. Tudo isto mostra a ausência de empatia, de um olhar para o outro, como alguém que assim como você próprio, tem valor. O individualismo, o egoísmo, o desprezo ao outro se mostram nas atitudes irresponsáveis do ponto de vista da segurança sanitária, pois, mais vale aquilo que me toca de imediato, do que qualquer coisa que se refira ao outro. E aí, de novo: e a educação? Se ela não foi capaz de construir valores éticos, afetivos e de significação social, que aconteceu: ela falhou, mais uma vez!

Se temos visto um negacionismo científico, uma ausência de amor ao outro, por outro lado, tem sido cada vez mais aguda uma virulência social, onde agressões verbais ou físicas e posturas raivosas contra quem é diferente de você acabam se tornando respostas possíveis, para quem não consegue articular uma capacidade de se relacionar e aí, as chamadas minorias acabam se tornando um alvo direto destas aberrações e aqui, chamamos de minorias, todo aquele grupo social ou pessoa que foge de uma pretensa normatividade, que é incapaz de dar respostas não violentas aos problemas sociais, fazendo de uma falsa força, sua resposta. E a educação, bem, de novo falhou! E de novo falhou por não se fazer capaz de criar uma formação que consiga reconhecer a diferença como algo essencial a vida humana.

Nisso tudo, por isso tudo, nos sentimos na obrigação de repensar aquilo que se deu até agora e da mesma forma, repensar nossa ação maior, a educação.

Uma educação que não foi capaz de atuar numa formação científica, onde saberes e sua construção devem ser vistos como essenciais a vida humana. Uma educação que não pode gerar valores, princípios e o bem maior, amor. Uma educação que não soube afirmar a diferença como essencial e comum. Bem de tudo isso, se deve dizer, não houve educação, ou melhor, sim, houve, mas numa direção contrária aquilo que possamos imaginar como valorável.

E nisso, onde nós professores nos colocamos, onde me coloco. Se educadores somos, se educador sou e a educação falhou, falhamos nós, falhei eu. Este reconhecimento e este sentimento por ele gerado pode nos incapacitar, nos paralisar ou ao contrário, pode nos mobilizar e fazer acreditar que há que se mudar e isto deve ser o sentimento que nos mobiliza, que me mobiliza. Reconhecer limites, identificar erros e acreditar que pode ser diferente e melhor é tarefa essencial do ser docente isto, nos mobiliza. Sigamos, seguirei, buscando ser melhor.


Simpósio Nacional de História

27/05/2021

Programação Simpósio de História do Esporte e das Práticas Corporais (69)

31º. Simpósio Nacional de História – ANPUH 2021

Simpósio 69: História do Esporte e das Práticas Corporais

Coordenação:

Prof. Dr. Coriolano Pereira da Rocha Junior (UFBA)

Prof. Dr. André Alexandre Guimarães Couto (CEFET/RJ)

Orientações gerais:

  • As mesas estão compostas por aproximaçáo temática.
  • As sessões acontecerão entre 14h e 16h e entre 16h e 18h.
  • Cada fala terá 15min e 1h de debate por sessão.
  • A última sessão fica guardada para avaliação e organização do simpósio para 2023.

Programação

20/07 – SESSÃO 1: 14h/16h

Sistema de Informações do Arquivo Nacional: potencialidades da pesquisa sobre o esporte e a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985)

Rafael Fortes Soares, João Manuel Casquinha Malaia Santos

Recorde: Revista de História do Esporte – um panorama de suas publicações (2008-2020)

Leonardo do Couto Gomes

Sociologia e História do Esporte: novos diálogos possíveis?

Euclides de Freitas Couto

Mídia Impressa e Esporte: Notas Históricas

Caio Cesar Serpa Madeira

20/07- SESSÃO 2: 16h/18h

Esporte, propaganda política e consenso social nas comemorações do Sesquicentenário da Independência do Brasil (1972): síntese e desdobramento de uma pesquisa

Bruno Duarte Rei

Sugestões metodológicas para o estudo de processos civilizadores a partir das práticas de lazer: uma análise psicogenética em Monte Alegre – PR

Ana Flávia Braun Vieira

Entre tangos e batuques: as danças nos clubes sociais da cidade do Salvador entre os anos de 1912 e 1935

Viviane Rocha Viana

21/07- SESSÃO 1: 14h/16h

O jogo das ressignificações: uma outra história do futebol em Porto Alegre (1903-1909)

Gérson Wasen Fraga

Masculinidades varzeanas: virilidade e idade na organização do futebol amador em Belo Horizonte (anos 1950 a 1980)

Raphael Rajão Ribeiro

O futebol e suas relações com o narcotráfico na Colômbia: uma análise introdutória

Eduardo de Souza Gomes

Qual a cor do seu grito? Copa das Confederações, Jornada de Junho de 2013 e os movimentos sociais na cidade de Fortaleza

Thiago Oliveira Braga

21/07- SESSÃO 2: 16h/18h

Urbanização, trabalho e futebol na cidade de Santos (1892 – 1920)

André Luiz Rodrigues Carreira

Filmes de esporte (futebol) como um gênero cinematográfico: uma proposta de pesquisa

Luiz Carlos Ribeiro de Sant’ana

O futuro das torcidas: das charangas à guinada antifascista na Ultras Resistência Coral

Caio Lucas Morais Pinheiro

Da fidalguia à commodity: uma história econômica do futebol mundial evidenciada no surgimento do “padrão-FIFA” (fins do século XX e início do XXI)

Raul de Paiva Oliveira Castro

22/07- SESSÃO 1: 14h/16h

O Polo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos de 1920

João Paulo Maciel de Azevedo

Polo Master – Um espaço “aquático” de memória, sociabilidade e lazer

Alvaro Vicente Graça Truppel Pereira do Cabo

Pugilistas italianos e identidade nacional no jornal imigrante Il Pasquino Coloniale (décadas de 1920 e 1930)

Igor Cavalcante Doi

A Formação do Jiu-Jitsu Brasileiro em Salvador e no Rio de Janeiro: um estudo histórico comparado

Luan Alves Machado

22/07- SESSÃO 2: 16h/18h

As Práticas Corporais no Cotidiano de uma Escola Americana no Sertão: ritos e rituais

Rúbia Mara de Sousa Lapa Cunha

Ofício dos Mestres e Pandemia na percepção dos Capoeiras: narrativas e estratégias na Roda

Zuleika Stefânia Sabino Roque

GINÁSTICA EM ACADEMIA: a práxis em Salvador entre 1975 a 1988

Amanda Azevedo Flores

A natação em Juazeiro da Bahia: registros históricos nas décadas de 1970 – 1990

Joelzio dos Santos Oliveira / Christiane Garcia Macedo

23/07- SESSÃO 1: 14h/16h

Alcyr Ferraro: materializador da formação em educação física na Bahia

Roberto Gondim Pires

Jogos Escolares na Bahia entre as décadas 1950 e 1980: Um olhar sobre a História

Natanael Vaz Sampaio Junior

História da formação de professores de Educação Física da Bahia na década de 1970

Maria Elisa Gomes Lemos

Os primórdios da formação de professores de educação física no Pará (1930-1940)

Carmen Lilia da Cunha Faro

23/07- SESSÃO 2: 16h/18h – AVALIAÇÃO FINAL E DEFINIÇÃO DA COORDENAÇÃO 2021/2023


Chamada 31 Simpósio Nacional de História

01/04/2021

Olá todas e todos
Com alegria informamos que neste ano, mais uma vez, teremos no 31º Encontro Nacional de História, o Simpósio de História do Esporte e das Práticas Corporais (Simpósio 69). Este Simpósio existe continuamente desde 2003 e se caracterizou como um espaço de encontro de pesquisadoras(es) e interessadas(os) no tema, um momento de divulgar, debater e estabelecer redes neste campo de pesquisa, contando sempre com a presença em massa de grandes produções, num ambiente agradável a todas as pessoas. Neste ano, por conta das condições sanitárias vividas, o evento será todo on-line e acontecerá entre 19 e 23 de julho. O simpósio acontecerá nos dias 20, 21, 22 e 23, sempre entre 14h e 18h.

Coordenadores
Coriolano P. da Rocha Junior (UFBA)
André Alexandre Guimarães Couto (CEFET/RJ)

Para o envio de trabalhos ao Simpósio, as condições são estas:

– Exige-se titulação mínima de Graduação.

– Cada inscrito poderá apresentar apenas 1 trabalho em apenas 1 Simpósio Temático.

– O inscrito deverá escolher 5 Simpósios Temáticos, na ordem de sua preferência. Caso não seja aceito no primeiro, a comunicação será submetida à avaliação da opção seguinte e assim por diante.

– Além do resumo expandido (mínimo de 2200 caracteres e máximo de 2.800 com espaço), é importante, mas não obrigatório, enviar o texto completo no ato de inscrição. Isso auxiliará a avaliação do(s) coordenador(es).

– Uma versão revisada do texto completo poderá ser enviada entre os dias 26 de julho a 09 de agosto de 2021.

– Na inscrição, não utilize caixa alta no texto do resumo, apenas na autoria.

– Os apresentadores de trabalho associados da ANPUH deverão estar em dia com a anuidade de 2021.

– O valor da inscrição em ST para associado é de R$60,00.

– O valor da inscrição em ST para não-associado é de R$270,00.

– O valor da inscrição em ST para não-associado professor/a de ensino fundamental e médio é de R$180,00.(necessário comprovante de atuação como professor/a de ensino fundamental e médio)

– O valor da inscrição em ST para não-associado aluno/a de pós-graduação é de R$180,00. (necessário comprovante de atuação como aluno/a de pós-graduação)

– No caso de serem 2 autores (coautoria), cada um deve fazer a inscrição individualmente no sistema. O procedimento é necessário para o sistema gerar duas formas independentes de acesso à Área do Inscrito no site.

– Um Código do Trabalho será gerado ao primeiro autor que realizar a inscrição. Para que isso ocorra, no campo Tipo de Submissão, este primeiro autor deve escolher a opção Coautoria – primeira inscrição do trabalho – e seguir normalmente com sua inscrição. Ao final do processo, um Código do Trabalho será gerado. O segundo autor basta escolher a opção Coautoria – trabalho já inscrito – e informar o Código do Trabalho gerado ao primeiro.

Informações para a elaboração dos resumos:

Título do resumo em CAIXA ALTA e em negrito; fonte Times New Roman, tamanho 12; com nome do autor alinhado à direita e as seguintes informações abaixo: titulação, instituição e e-mail do autor.

Texto do resumo: fonte Times New Roman, tamanho 12, espaçamento simples; máximo de 15 linhas e 3 palavras-chave.


Instruções para a submissão dos trabalhos completos (não obrigatório):

– Os arquivos devem ser em formato .doc (“documento de Word”) e enviados exclusivamente por meio da Área de Inscrito, aqui no site do SNH.

– É possível enviar uma primeira versão do trabalho completo no ato de inscrição e uma versão definitiva para publicação nos anais entre os dias 26 de julho a 09 de agosto de 2021.

Instruções sobre a forma do texto completo:

1. Formato: A4;

2. Fonte: Times New Roman;

3. Tamanho: 12;

4. Espaçamento: 1,5;

5. Número máximo de 15 laudas e mínimo de 10 laudas, incluindo as referências;

6. Margens: superior e inferior 2,5; esquerda e direita 3,0;

7. Alinhamento: justificado;

8. Título em maiúsculo, centralizado e em negrito;

9. Nome do(s) autor(es) alinhado à direita depois de uma linha de espaço do título;

10. Vinculação institucional, logo abaixo do(s) nome(s) do(s) autor(es), também alinhado à direita;

11. Endereço eletrônico logo abaixo da vinculação institucional;

12. Citações com até 3 (três) linhas deverão vir no corpo do texto, sem itálico, com chamada autor-data entre parênteses. As citações com mais de 3 (três) linhas devem vir fora do corpo do texto, tamanho 10, com recuo de 4 cm;

13. Caso o trabalho contenha imagens, estas deverão estar em 300 dpi no formato TIF ou JPEG e colocadas no próprio texto.

14. As indicações bibliográficas no corpo do texto, colocadas entre parênteses, deverão se resumir ao último sobrenome do autor, à data de publicação da obra e à página, quando necessário (BURKE, 2005, p. 20). Se o nome do autor estiver citado no corpo do texto, indicam-se, entre parênteses, apenas a data e a página. Notas de rodapé, apenas em caráter de explicação;

15. As referências bibliográficas finais devem seguir as recomendações da ABNT.


Os esportes em Salvador e seus espaços

08/02/2021

Coriolano P. da Rocha Junior

 Cada modalidade requer, a partir de seu ordenamento legal, um conjunto de exigências em relação ao espaço e suas características, que são constituídas em função das especificidades da prática de cada esporte. Isto também deve ser pensado em associação aos usos pensados para a atividade esportiva em si e ao que se quer do local das ações, em associação as dinâmicas mais gerais de políticas urbanas, ou seja, pensar o espaço esportivo implica também pensar a cidade.

Pensar a prática esportiva implica ter de levar em conta a questão dos espaços para a vivência destas atividades, seus usos, sua localização na cidade, seus modos de construção. Enfim, ao analisar o esporte e sua história, somos levados a também tentar entender a questão de seus locais específicos de vivência.

 A Bahia e mais especificamente Salvador viu a experiência esportiva se instalar a partir de fins do século XIX, quando a cidade assistiu aos primórdios das vivências com os esportes acontecerem. A partir do início do século XX estas ações ganharam mais robustez e se alargaram, com a cidade vendo mais modalidades ocuparem a cena urbana.

Neste sentido, a partir dessa dinamização da prática dos esportes na cidade, podemos pensar que também se viu espaços específicos surgirem, para facilitar as vivências das pessoas interessadas, todavia, tal fato não se deu, ao menos, de forma estruturada, com ações públicas e associadas ao que se pensava para a capital baiana em seu ordenamento urbano.

 Já vimos também que em Salvador as iniciais experiências esportivas acontecerem e ganharam volume num tempo em que a cidade vivia, mais uma vez, seu desejo de buscar ares modernos, de operar reformas urbanas, em seus espaços públicos e também em seus costumes, onde os olhares se voltavam, como modelo, para países e cidades que já haviam orquestrado essas reformas e tinham nestas, pensado os esportes e aí, há de se imaginar que Salvador poderia fazer do mesmo jeito, mas não, a cidade não se pensou esportivamente, mesmo que estes já estivessem se dando na cena urbana da cidade.

 Quando olhamos para os primórdios esportivos da cidade encontramos essas realidades, que eram: a ausência de espaços públicos próprios a cada modalidade; a construção de espaços esportivos privados e o uso efetivos de locais da cidade, adaptados, para as vivências e isto, falando aqui das cenas com o críquete, o turfe, o remo, o futebol, a patinação, o tênis, o atletismo e o ciclismo. Cada uma destas modalidades experimentou uma relação diversa com os espaços de prática e seus usos na cidade.

 Ao longo de sua instituição, em Salvador, cada uma destas modalidades viveu situações diferentes em relação ao espaços e seus usos, indo dos comuns da cidade, adaptados, ao uso de locais privados para suas vivências. Também em relação aos locais de prática e a relação com a cidade e sua população houve diferença, onde nuns casos era aceito e até bem visto, noutros, era caso de polícia, sempre em função de quem estivesse ocupando a cena pública, se sua elite ou a seu estrato mais pobre.

Ao olharmos cada modalidade em específico, vamos encontrar as seguintes situações.

O críquete sempre foi jogado em praças da cidade, locais já existentes, de uso público, sem que houvesse uma condição específica para a modalidade. Rocha Junior e Santos (2015) nos mostram que os jogos ocorriam majoritariamente no Campo Grande, mas também com notícias de jogos na Fonte do Boi[1], na Quinta da Barra, no Campo da Pólvora[2] e no Largo da Madragoa[3].

O turfe conviveu com dois locais, ambos construídos de forma especial para sua prática e privados. A cidade viu a existência de dois hipódromos, que foram: o da Boa Viagem e o do Rio Vermelho.

Em Rocha Junior e Santos (2015) encontramos dados que falam da abertura de hipódromos na cidade. O primeiro foi o da Baia Viagem. Sobre este, o jornal A Locomotiva[4] dava notícias da abertura de um palco específico para a prática na cidade, na data de 30 de dezembro de 1888: “a inauguração do Hipódromo S. Salvador, que teve lugar no dia 30 passado, foi um verdadeiro acontecimento notável para os anais desta grande capital” e “terminamos dando os nossos parabéns ao público e ao empresário do Hipódromo”.

Adiante, Salvador viu surgir um outro espaço para o turfe, sendo este também privado, desta vez instalado no bairro do Rio Vermelho. O jornal Diário do Povo[5] apresentava assim a ideia da criação desse espaço: “No próximo domingo realizar-se-á a inauguração deste prado situado no aprazível arrabalde do Rio Vermelho” e “Leiam os nossos leitores os programas de corridas e não faltem a inauguração do Derby Clube”.

Sobre estes espaços, vale dizer que se localizavam distantes um do outro e que viveram, ao longo dos tempos, dificuldades de manutenção, por problemas de ordem financeira. Estes hipódromos chegaram a funcionar conjuntamente e também se alternaram como locais próprios do turfe. Nos dois casos, vale dizer, que na época de seu funcionamento, as duas localidades eram distantes da parte central da cidade e contaram com dificuldades de transporte.

Outra modalidade que alcançou sucesso e mesmo assim não viu um espaço próprio ser pensado para sua existência foi o remo, muito embora, seu local de disputa pudesse ser considerado apropriado ao esporte, foi sim, uma adaptação de um cenário natural da cidade.

De seu início até hoje, o remo foi e segue acontecendo na Enseada dos Tainheiros. Este local era, quando do início das atividades com o remo, um espaço de veraneio da cidade, também distante da região central, tendo as regatas usado um pedaço de mar, belo, aprazível, de águas calmas, que potencializavam o esporte, porém, nunca contou com uma efetiva intervenção, pública ou privada, de forma a qualificar como local ideal de prática do remo e também para a plateia.

Atividades como patinação e ciclismo nunca puderam contar com algo parecido com espaços específicos, tendo então seus praticantes de usar apenas as ruas e praças da cidade, qualquer que fosse a intenção da vivência, mesmo que dependesse de equipamentos, caros, notadamente na fase inicial do século XX. Locais como o Politeama, o Passeio Público e o bairro do Comércio eram relatados como os preferidos para estas atividades esportivas.

O tênis foi uma atividade esportiva que em Salvador se notabilizou por ser exercida somente em espaços fechados, inclusive residências e notadamente em clubes, sendo um criado com esse perfil. A modalidade, desde seu início se notabilizou como um esporte das elites econômicas e assim, foi vivida como um experiência de distinção.

Em algumas residências de famílias nobres da cidade foram construídas quadras, para que seus membros e convidadas e convidados pudessem viver o esporte. Além disso, no Rio Vermelho, junto a área onde existiu o Hipódromo se teve o esporte. Com mais notoriedade vimos exitir o Clube Baiano de Tênis, que se notabilizou como um espaço específico, mas privado, para o jogo do tênis, mais uma vez caracterizando que na cidade, os esportes aconteceram, mas sem que pudessem contar com a construção de espaços diretos.

Semelhante ao tênis foi a condição do atletismo, atividade que aconteceu de forma tímida em espaços públicos e que viu a construção de um clube próprio para sua prática, privado, que foi o Yankee Foot-ball Club, que inclusive chegou a criar uma pista. Vale dizer que o atletismo, além de tudo, teve sua prática associada a conceitos de saúde, sendo tratado como uma modalidade essencial ao desenvolvimento corporal de quem o executasse.

Por fim, falamos do futebol, uma modalidade que por suas características permite o uso de espaços variados. A prática em Salvador aconteceu em várias praças e ruas, seja isto de forma organizada ou livre, pode mesmo se dizer que a cidade foi “ocupada” pela experiência futebolística. Quando falamos da esfera competitiva, basicamente três espaços foram os usados, que foram: Campo da Pólvora, que na verdade era uma praça aberta da cidade; o Campo do Rio Vermelho, montado onde já existia o Hipódromo, privado e adaptado especificamente para o futebol e por fim, o Campo da Graça, também privado e que foi pensado especificamente para atender a modalidade e suas competições.

Com tudo isto, podemos analisar que o esporte em Salvador se constituiu sem a existência de espaços específicos, públicos, para qualquer modalidade, tendo sempre se aproveitado de lugares públicos ou naturais, adaptados as modalidades ou então, espaços privados foram construídos. Tal cena na cidade perdurou e mesmo perdura, sem que ainda hoje existam muitos espaços públicos espalhados pela cidade, se notabilizando aqueles que são para uso exclusivo da esfera competitiva, sem acesso popular.

Esta condição, no tempo, muito contribuiu para com que o esporte não alargasse suas vivências na cidade, mesmo estas tendo se iniciado em tempos já longínquos, já que poucos investimentos, ao longo dos anos foram executados, de forma a permitir o acesso da população, as práticas, em espaços próprios, sem depender do elemento competitivo ou de clubes ou outras ações privadas.


[1] Localizada no bairro do Rio Vermelho. Diário da Bahia, Salvador, 25 de janeiro de 1902, p. 1.

[2] Diário de Notícias, Salvador, 24 de março de 1903, p. 3 e 12 de setembro de 1903, p. 3.

[3] Diário da Bahia, Salvador, 11 de janeiro de 1902, p. 1. Localizado na Cidade Baixa, na área do bairro da Ribeira.

[4] A Locomotiva, Salvador, 15 de janeiro de 1889, p. 41.

[5] Diário do Povo, Salvador, 21 de maio de 1889, p. 1.

Referência:

ROCHA JUNIOR, Coriolano P. e SANTOS, Henrique Sena dos. Primórdios do esporte no Brasil: Salvador. Manaus: Reggo, 2016.