Brasil X México na Copa do Mundo: o Início de um Encontro

André Alexandre Guimarães Couto

Olá, leitor (a):

Dia feliz para todos(as) os(as) brasileiros(as). Hoje a tarde, a seleção brasileira de futebol venceu o México por 2 x 0 pelas oitavas de final da Copa do Mundo da Rússia. Com gols de Neymar e Roberto Firmino, o Brasil avança para as quartas de final e jogará contra a Bélgica.

Brasil tem um histórico de bons encontros (pelo menos, para nós) com o México e o primeiro deles foi em 1950, justamente na primeira Copa do Mundo sediada por nós.

Neste jogo, em 24 de junho, os brasileiros estreavam na competição e emplacaram 4 x 0 no México com gols de Ademir (2), Jair e Baltazar. O Maracanã, construído para a Copa de 1950 tornava-se o palco não apenas de um projeto modernizante e desenvolvimentista de país, mas um lócus de esperança para a conquista de um título importante no esporte.

A cobertura da Copa do Mundo nos Jornal dos Sports dividia espaços importantes nas páginas do jornal com uma gama de propagandas de equipamentos tecnológicos como vitrolas, máquinas de escrever, máquinas de calcular, de fotografar, bombas d´água, cronógrafos, relógios, bicicletas e rádios de última geração. Uma enxurrada de produtos ditos modernos para uma sociedade que passara a valorizar o consumo de itens simbólicos de um novo momento do país.

O periódico carioca Jornal dos Sports celebrava por meio dos textos dos seus cronistas e jornalistas e enaltecia o início da caminhada do selecionado brasileiro rumo ao título inédito. Todavia, como era de costume, não havia uma confiança excessiva entre os mesmos. Álvaro do Nascimento (conhecido como “Zé de São Januário”) escrevia que: “(…) por incrível que pareça, nunca temi os adversários que chegam do exterior. O meu receio consiste nos adversários cá de dentro. Os ‘quinta colunas’ que por aí andam a dar palpites, metidos a técnicos, verdadeiros espíritos de porco, que jamais se satisfazem com o que Deus lhe deu. Esses, sim, meus amigos!… Esses são capazes de tudo para que subsistam suas opiniões insensatas como as dos asnos. (…) (NASCIMENTO, Álvaro. Jornal dos Sports. 25/07/1950. p. 14). Nascimento aproveitava a crônica sobre o jogo para avisar que deveríamos ter cuidado com o próximo adversário, a Suíça, mas criticava os derrotistas de plantão por não confiar na seleção brasileira.

Antonio Olinto, que escrevia sobre teatro e cinema no mesmo jornal, usa desta cena (conceito proposto por Maingueneau) para ilustrar a bela atuação de Ademir: “(…) Jair sente que pode demonstrar as filigranas de sua técnica se sua técnica, os meandros de sua arte inimitável. Olha para cima, vê um monstro de cimento, repleto de cabeças, de olhos que contemplam suas avançadas, de bocas que exigem seu pé para uma penalidade. Então, respira fundo e sente-se como o ator que vai interpretar o ‘Hamlet” diante da mais culta das plateias. (…)” (OLINTO, Antonio. Jornal dos Sports. 25/07/1950. p.11)

Finalmente, outro grande cronista do jornal, José Lins do Rego apontava a cidade do Rio de Janeiro como a grande protagonista no início do torneio da FIFA: “A cidade mudou de cara com a ‘Copa do Mundo’. Por toda a parte se vê uma mudança de fisionomia. As bandeiras desfraldadas, e por toda parte a ansiedade pelo acontecimento. O Rio de Janeiro se entregou de corpo e alma aos visitantes que aqui chegaram, para ver de perto uma autêntica maravilha da natureza. O Rio não esconde um pedaço de mar, um recanto de floresta, uma nesga do céu. A cidade se preparou com suas melhores festas, aí está bonita como nunca”. (REGO, José Lins do. Jornal dos Sports. 25/07/1950. p.11).

Enfim, a estreia do Brasil era retratada pelo Jornal dos Sports como uma oportunidade de: 1) Manter o caleidoscópio discursivo e estilístico dos cronistas deste jornal; 2) Mobilizar a defesa da cidade do Rio de Janeiro como palco central do campo esportivo brasileiro; 3) Compreender que era necessário vencer o excesso de confiança sobre o desempenho da seleção brasileiro na mesma medida que a mesma deveria ser apoiada de forma inconteste, inclusive nos elogios aos jogadores que se destacavam a cada partida daquele torneio; 4) Ampliar o campo publicitário da empresa por meio da oferta de produtos e serviços. 5) Articular a cobertura esportiva impressa com outros veículos de comunicação como o rádio.

Bem, o resultado daquela campanha todos nós sabemos. Porém, ao olharmos para a Copa de 1950, precisamos descortinar o evento como um todo, em todos os seus meandros e possibilidades, para além de uma preocupação exclusiva com a final contra o Uruguai.

Curiosidade: Em 1950, assim como em 2018, o Brasil ganhou do México, empatou com a Suíça e ganhamos da Iugoslávia (Em 2018, foi o caso da Sérvia). Repetiremos 1950 chegando na final? A saber…

Curiosidade 2: Além do primeiro e último encontro com o México em Copas do Mundo, o Brasil jogou em 1954 (5 x 0), 1962 (2 x 0), 2014 (0 x 0). Ou seja, nunca perdeu e nem sequer levou um gol.

 

 

 

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