O Roubo da Taça (BRA, 2016, Caíto Ortiz)

IMAGEM - O Roubo da Taça (Caito Ortiz, 2016)

                         

Giulite Coutinho  – Quem será que fez isso? Nós não temos inimigo.

Secretária           – Presidente, tem a Argentina, a Alemanha, Paulo Rossi…

 

Diante de uma enorme ressaca eleitoral, achei por bem encarar uma comédia que há tempos estava me aguardando, na minha interminável lista de filmes que, de alguma maneira, abordam o futebol. A bem da verdade, O Roubo da Taça (Brasil, Caíto Ortiz, 2016) não estava bem cotado no meu ranking de expectativas. Achava, por puro pré-conceito, que dessa fita não sairia nada de interessante. Me enganei. O filme é bem construído, bem filmado, divertido e conta com algumas performances impressionantes. Principalmente de Paulo Tiefenthaler, que toma conta da trama como o vendedor de seguros que tem a ideia de assaltar a CBF. Mas comecemos pelo início.

O Roubo da taça é uma ficção que fala de um evento real e inusitado. A subtração da Taça Jules Rimet, em dezembro de 1983. Acredito que quase todos saibam do que se trata. De qualquer modo, esse troféu foi conquistado pelo Brasil por ter sido o primeiro país a sagrar-se tricampeão mundial. Desde a Copa inaugural, de 1930, o trato era esse. Enquanto ninguém conseguia a façanha, a Jules Rimet excursionava mundo afora, permanecendo quatro anos sob poder da nação campeã do momento. Aliás, a película tem duas ou três entradas informativas, que vão situando esses e outros dados sobre a trajetória da seleção canarinho. Tudo sob a voz em off de Taís Araujo. A atriz é parte narradora e também personagem, interpretando a sedutora Dolores, mulher de Peralta (Paulo Tiefentaler). O personagem de Borracha, um ex-policial e comparsa de Peralta, é vivido por Danilo Grangheia. O ótimo ator Milhen Cortaz (aquele do “Pica das galáxias”, na já antológica passagem de Tropa de Elite 2) interpreta o policial Cortez.

Pois bem, o enredo é baseado no episódio concreto do roubo da taça. Uma comédia de erros que realmente parece feita para o cinema. O maior troféu de nosso futebol ficava na sala da presidência da CBF, na época ocupada por Giulite Coutinho (vivido por Stepan Nercessian). Permanecia atrás de um vidro a prova de balas. Até aí beleza. A entidade tinha até um cofre forte. Não obstante, deixavam a original exposta e a cópia segura, trancada. Foi motivo de piada.

A guarda do prédio, por sua vez, ficava a cargo de um único vigia, que foi facilmente dominado. Mas e o vidro a prova de balas? Não ofereceu resistência (sacanagem, ninguém atirou nele) ao desmantelamento do entorno com instrumentos corriqueiros. E a taça se foi.

Narrativamente, o filme apresenta dois eixos básicos. Um deles sobre os dilemas de Peralta, com seu pouco apreço ao trabalho, vício na jogatina e conflitos com sua fogosa esposa. O outro, secundário, usa o descaso a toda prova com nossa relíquia futebolística para sugerir traços da personalidade nacional. Se não tomamos conta nem daquilo que mais nos diverte, orgulha e nos destaca mundialmente, que dirá do resto… Como exclama o Giulite Coutinho do filme:

– Puta que pariu! Como é que a gente ganhou três Copas?!

Em uma introdução ao clima da época, a voz em off de Taís Araujo explica:

Em 82 a crise tava braba. A esperança que a gente tinha era o futebol, de novo. Falcão, Sócrates, Zico, aquele bonitão do Éder… O time dos sonhos de todo brasileiro, até hoje. Bom, depois todo mundo sabe o que aconteceu (…). Aí voltamos pro buraco. General, inflação, desemprego.

Este último trecho dá até um desânimo. Porque a saudade daquele futebol realmente continua; a inflação tá até quietinha, mas o resto parece reprise. Das piores…

Em duas outras sequências temos lances relativos à difícil negociação da muamba. Afinal, como se desfazer de um item tão ilustre, cujas fotos e notícias estavam em todas as mídias da época? O único que aceitou fazer a arriscada transação foi um comerciante/atravessador argentino. Outra piada feita. E, mais incrível, verdadeira. Na chamada vida real o receptador era mesmo portenho! Acabou preso, como os demais. Novamente a voz de Tais Araujo (ilustrada com sequências de jogos do Brasil com nossos hermanos) é quem comenta:

Tantos anos de luta, de sangue, de cotovelada, de dedo no olho. Mais de cem anos de Brasil e Argentina e a gente ia vender o nosso maior patrimônio sabe pra quem? Que beleza, hem?

Sem mais no momento, uma boa semana e que sobrevivamos ao segundo turno. Abraços!

 

Referências:

BAZARELLO, Pablo. Crítica. O Roubo da Taça. Disponível em:  https://cinepop.com.br/critica-o-roubo-da-taca-126675. Consultado em 08 de outubro de 2018.

BONSANTI, Bruno. O Roubo da Jules Rimet: uma história inacreditavelmente real que virou uma boa comédia. Disponível em: https://trivela.com.br/o-roubo-da-jules-rimet-uma-historia-inacreditavelmente-real-que-virou-uma-boa-comedia/. Consultado em 08 de outubro de 2018.

FERNANDEZ, Alexandre Agabiti. Crítica – ‘O Roubo da Taça’ revela vida inteligente no humor nacional. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/09/1811161-o-roubo-da-taca-revela-vida-inteligente-no-humor-nacional.shtml. Consultado em 08 de outubro de 2018.

Matéria. Trinta anos depois, relembre roubo da Taça Jules Rimet no Brasil. Disponível em: https://www.terra.com.br/esportes/futebol/copa-2014/trinta-anos-depois-relembre-roubo-da-taca-jules-rimet-no-brasil,2014adac27d03410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html. Consultado em 08 de outubro de 2018.

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