Mercado de Entretenimento, Saúde e Práticas Corporais no século XIX: a história do artista-atleta Bargossi e de sua família no Rio de Janeiro – Parte 1

24/08/2014

por Fabio Peres[i]

No dia 2 de agosto de 1885, parte dos habitantes da cidade do Rio de Janeiro parecia fervilhar de euforia.  De acordo com os jornais, as tão esperadas corridas inaugurais do Derby Club finalmente ocorreriam naquele domingo de céu azul, quase de verão[ii].

O público, ansioso pela festa prevista para às 11h, começou a chegar ao evento a partir das 9h30 da manhã. Trens especiais (partindo da estação Central) e bondes (das Companhias Vila Isabel, São Cristóvão e Guarani) traziam pessoas que se aglomeravam nas arquibancadas ao passo que a excitação crescia. Era até mesmo difícil andar sem esbarrar em alguém.

Entre os espectadores, sem dúvida, estavam as elites econômicas, políticas e culturais da capital. As representantes do high-life e as estrelas do demi-monde fluminense compareceram em peso. A família imperial também. Assim como pessoas de outras classes, em especial, dos estratos médios. Todas elas contribuíram para a grande concorrência de público: falava-se em milhares e milhares de pessoas, um verdadeiro “formigueiro humano” que se distribuiu nos diferentes setores das arquibancadas (de acordo com o preço do bilhete e status social) ou no espaço entre as arquibancadas e a raia. O Diário do Brasil (04/08/1885) chega mesmo a afirmar que o público presente ultrapassou 12.000 pessoas, o que não era pouco para uma cidade que anos mais tarde, em 1890, possuía cerca de 522 mil habitantes[iii].

O clima de grande animação e alegria, contudo, não era apenas para ver as corridas de cavalo.  O entusiasmo, segundo os jornais, possuía também uma outra explicação: a exibição do andarilho italiano Bargossi e de sua esposa que se apresentariam nos intervalos dos páreos. De fato, Achilles e Josephine – vestidos a caráter, ela trajando saiote curto de tule coberto com cetim cor de rosa – percorreram cerca de 3.000 metros em poucos minutos[iv]; o tempo sendo marcado por um cronômetro elétrico. No mesmo dia, um pouco mais cedo e não muito distante dali, o casal também havia comparecido a outro evento, as corridas a pé do Club Atlhetico Fluminense. Os Bargossi, porém, não demonstraram nessa ocasião suas célebres habilidades. Somente assistiram as provas como previam os anúncios do clube.

 

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Figura 1: Anúncio do Derby Club com divulgação da apresentação do “célebre andarilho Bargossi” (Diário do Brazil, 01/08/1885, p.4).

 

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Figura 2: Destaque da presença de Bargossi e sua esposa no anúncio do Club Athletico Fluminense (Diário de Notícias, 01/08/1885, p.3).

 

As expectativas em torno dessas duas breves aparições públicas na cidade foram em muito impulsionadas pela imprensa. Nos dias que antecederam aos eventos, vários periódicos dedicaram artigos sobre os feitos extraordinários do incansável Sr. Bargossi: distâncias sobre-humanas atingidas e adversários (incluindo cavalos) facilmente vencidos. O mundo todo, afinal, conhecia o “afamado” andarilho. Portugal, Grécia, Espanha, França, Itália, entre muitos outros países como Turquia, Rússia e Inglaterra, supostamente teriam presenciado suas façanhas. A alcunha de “homem locomotiva”, tantas vezes utilizada para descrevê-lo, se ajustava perfeitamente, como nenhuma outra, àquele momento. Fazia referência à uma das inovações do século XIX que mais excitaram a imaginação popular pelo seu poder e velocidade[v]. Ajudava, assim, a compor a narrativa epopeica do herói-atleta.

 

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Figura 3: Gravura de Bargossi publicada no Diário de Notícias (16/08/1885, p. 1). Detalhe à representação da vestimenta.

 

O próprio imperador, aliás, teria reconhecido sua notoriedade, ao recebê-lo pessoalmente em São Cristóvão, dizendo que o “conhecia de tradição” e que contava em vê-lo no Derby[vi]. Além disso, diversas crônicas foram dedicadas ao Bargossi. Artur Azevedo, sob o pseudônimo “Eloi, o herói”, por exemplo, escreveu mais de uma vez sobre o andarilho em sua seção “De Palanque”, no Diário de Notícias[vii], [viii]. Em uma delas, logo após a chegada dos Bargossi à cidade, um dos futuros fundadores da Academia Brasileira de Letras dizia que:

Apresentaram-me ontem o andarilho dos andarilhos, o grande Bargossi, o homem locomotiva, o Bargossi-express. Ontem mesmo chegou de Lisboa, muito pesaroso por ter estado tantos dias a bordo do Biela. Se houvesse terra firme entre o novo e o velho mundo, o famoso andarilho teria economizado o dinheiro da passagem. Infelizmente, apesar de todos os prodígios de que Bargossi é capaz, não tem o extraordinário condão daquele ‘Ulisses, que, ardendo em brasas, / Sobre o mar das Trapizondas, / Andava por sobre as ondas / Como vós por vossas casas.’ (Diário de Notícias, 31/07/1885, p.1)

 

Em seguida, o corpo do andarilho passa a ganhar espaço no texto de Artur Azevedo (algumas vezes associando-o à saúde. Devemos lembrar, como apontamos em outro post, que a relação entre exercícios corporais e saúde não era óbvia em grande parte do século XIX e sua emergência e consolidação foram lentas e graduais, adquirindo especificidades em terras nacionais[ix]). A crônica – em vários momentos em tom zombeteiro e com ironia afiada – segue fazendo referências à fama, à fortuna e à saúde de Bargossi, bem como aos seus atributos corporais. E no caminho aproveita para utilizar as virtudes do andarilho para criticar problemas da sociedade imperial:

É um magnífico tipo da forte raça humana, alegre, vivo, inteligente, sadio. Gesticula como um ator de província e fala pelas tripas de Judas… Tem andado pedibus calcante por toda a Europa, e não será para admirar que um dia faça deveras o mesmo que o Vasques tantas vezes tem feito por troça: a viagem à volta do mundo a pé. Finalmente, um Judeu Errante… de 36 anos. […] Um homem que tanto corre deve ser, realmente, objeto de admiração num país que tão lentamente caminha. As pernas de Bargossi têm músculos de ferro. Numa exposição de gâmbias ele ganharia aqui, naturalmente, o primeiro prêmio. Enquanto tivermos bonds para todos os sítios, cruzando-se em todos os sentidos e exigindo um magro tostão para transportar a gente de um ponto a outro da cidade, não teremos pernas; – o bond encarrega-se de lhes afrouxar os músculos, quando não se incumbe de operação mais sumária: parti-las ao meio com as suas rodas malditas. As do Bargossi, sim! aquilo é que são pernas! E tem nelas tanta presunção o diabo do homem, que está sempre a mostrá-las e a pedir que lhas apalpem. Parece que tem o rei na barrigadas pernas. Dizem-me que com o auxílio delas Bargossi tem feito uma fortuna rápidaa correr. Aí está um homem que não tem o direito de perguntar: – Pernas, para que vos quero? Entretanto, apesar de rico, Bargossi é extraordinariamente modesto no seu modo de vida […]” (op. cit., grifos nossos).

 

Nos dias e meses que se seguiram, os Bargossi fizeram mais duas exibições no Rio de Janeiro (uma sem o glamour e a popularidade das anteriores) e tantas outras no estado de São Paulo e em países da América Latina. A família estava inserida em um de circuito internacional de exibições corporais – que há muito já era típica dos circos e dos teatros, inclusive nacionais –, mas que naquele final de século se dava cada vez mais em “novos” espaços de entretenimento.

Na verdade, muitas histórias marcaram a trajetória do “homem locomotiva”. Nem todas sobre as virtudes de Bargossi. Por exemplo, continuou a figurar nas crônicas de Azevedo (que chegou a colocar em xeque não só o sucesso do andarilho na capital, mas também a suposta relação entre exercícios corporais e saúde de suas exibições). No teatro de revista O Bilontra, que Azevedo escreveu com Moreira Sampaio, Bargossi e sua mulher foram representados de forma cômica. Por outro lado, foi objeto de poesias (como a de Olavo Bilac) e de contos (como os de Quirino Chaves). Além disso, o andarilho frequentou elegantes bailes no Rio de Janeiro. Participou de disputas acirradas (como a realizada com um escravo, que pelo inesperado desempenho obteve a liberdade e recebeu o sobrenome “Bargossi”). Em muitos casos, inclusive, seu nome foi usado como locução adjetiva. E mesmo após sua trágica morte no final de 1885, ao tentar atingir mais uma façanha, o andarilho despertou interesse científico sobre as suas qualidades e técnicas corporais.

Por certo, não foi por acaso que o chamaram de atleta e artista (não sem protestos de certos setores da classe artística da capital). Mas todas essas histórias ficarão para o próximo post.

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[i] Esse post é fruto das conversas e pesquisas realizadas no âmbito do projeto “O corpo da nação: educando o físico, disciplinando o espírito, forjando o país: as práticas corporais institucionalizadas na sociedade da Corte (1831-1889)”, que conta com o apoio da FAPERJ e do CNPq e é coordenado por Victor Andrade de Melo.

[ii] Ver, por exemplo, Gazeta da Tarde (03/08/1885, p.2), Diário de Notícias (03/08/1885, p.1), Diário do Brazil (04/08/1885, p.1-2).

[iii] Maiores informações ver REPLÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL. Synopse do recenseamento de 31 de dezembro de 1890. Rio de Janeiro: Oficina da Estatística, 1898.

[iv] Os jornais apresentam relatos diferentes para a exibição. Por exemplo, o Diário de Notícias (03/08/1885, p.1) diz que o espetáculo dos Bargossi foi composto por dois momentos. Primeiro, o Sr. Bargossi, em um dos intervalos, percorreu 2.900 metros em 12 minutos e meio. Em outro intervalo correu a mesma distância junto com a sua esposa, sendo que ele completou a distância em 9 minutos e 30 segundos e ela em 13 minutos. A Gazeta da Tarde (03/08/1885, p.2), por sua vez, relata apenas a apresentação conjunta do casal, sendo que a distância informada pelo jornal foi de 3.200 metros, percorrida em 16 minutos, mas que a Sra. Bargossi teve dois minutos de vantagem. Já o Diário do Brazil (04/08/1885, p.1-2) informa distância e tempos diferentes dos outros jornais. E Artur Azevedo, em uma de suas crônicas, afirma que “O Bargossi, num dos intervalos dos páreos, andou meia légua em menos de um quarto de hora” (Diário de Notícias, 04/08/1885, p.1).

[v] Sobre o papel das ferrovias e, por conseguinte, das locomotivas no século XIX ver por exemplo HOBSBAWM, E. A era das revoluções, 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.

[vi] Diário de Notícias (02/08/1885, p.1)

[vii] Para uma reflexão sobre o esporte na obra de Artur Azevedo ver KNIJNIK, J.; MELO, V. A. Sport in Artur Azevedo’s Revues: A Reflection of Developments in Late 19th Century Rio de Janeiro Society. Aethlon: the journal of sport literature, v. XXVII:1, p. 103-119, Fall 2009 / Winter 2010.

[viii] Para maiores informações sobre a obra de Artur Azevedo na seção “De Palanque” ver SILVA, Esequiel gomes da. “De palanque”: as crônicas de Artur Azevedo no diário de notícias (1885/1886). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. Disponível em: <http://www.culturaacademica.com.br/_img/arquivos/de_palanque.pdf >.  Acesso em: 14/08/2014.

[ix] Maiores informações ver MELO, V. A., PERES, F. F. A gymnastica no tempo do Império. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2014 e MELO, V. A., PERES, F. F. O corpo da nação: posicionamentos governamentais sobre a educação física no Brasil monárquico. História, ciências, saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, 2014, no prelo.


Futebol e Mulheres no País da Copa 2014

11/08/2014

por Silvana Vilodre Goellner

Enquanto escrevo esse post acompanho, pela internet, um jogo da Copa do Mundo de Futebol Feminino Sub-20 que está acontecendo no Canadá com participação da seleção brasileira. Dizer que quase não encontramos notícias sobre essa competição e que as mulheres são sub-respresentadas na modalidade não é novidade, portanto, não vou me ater a essa constatação. Quero, na contramão dos discursos oficiais de órgãos representativos do futebol no Brasil, reafirmar o quanto as mulheres fazem parte da história em que pese a proibição oficial de sua prática entre as décadas de 1940 e 1980, a ausência de um calendário organizado e a quase inexistência de equipes  de mulheres em “times de camisa”.

Nossa seleção conquistou resultados impressionantes diante do cenário de descaso e quase abandono na qual vive. Vejamos: a) conquistou 4 das 5 edições do Torneio Internacional de Futebol Feminino que reúne 4 seleções; b) a Copa Libertadores da América de Futebol Feminino acontece desde 2009 e todas as edições foram realizadas no Brasil; c) das 6 edições do Campeonato Sul-americano de Futebol Feminino conquistamos 5 delas; d) nos Jogos Militares que aconteceram em 2011 no Rio de Janeiro nossas atletas ganharam a medalha de ouro; e) Nos  Jogos Pan-americanos foram 2 medalhas de ouro (Santo Domingo 2003, Rio de Janeiro 2007) e 1 de Prata (Guadalajara 2011); f) fomos medalhistas de prata em duas edições dos  Jogos Olímpicos (Atenas 2004, Pequim 2008); g) na Copa do Mundo de Futebol Feminino China, 2007, ficamos em segundo lugar e na Copa do Mundo de Futebol Feminino dos Estados Unidos, realizada em 1999, ficamos com a terceira colocação.

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Seleção convocada para a Copa do Mundo da China (1991). Foto: Acervo pessoal da jogadora Michel Jackson

Seleção convocada para a Copa do Mundo da China (1991). Foto: Acervo pessoal da jogadora Michel Jackson

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Campeonato Sul-Americano de Futebol (Uberlândia, 1995). Foto: Acervo pessoal da jogadora Michel Jackson (camisa 9)

Campeonato Sul-Americano de Futebol (Uberlândia, 1995). Foto: Acervo pessoal da jogadora Michel Jackson (camisa 9)

 

Seleção que participou dos Jogos Olímpicos de Atlanta  (1996). Foto: Acervo pessoal da jogadora Michel Jackson (camisa 9)

Seleção que participou dos Jogos Olímpicos de Atlanta (1996). Foto: Acervo pessoal da jogadora Michel Jackson (camisa 9)

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É pouco? Eu digo: é muito diante das condições com as quais as jogadoras se deparam cotidianamente visto que o silêncio que paira sobre suas trajetórias, carreiras e conquistas tem promovido sua marginalização assim como a anulação simbólica de suas realizações.

Visibilizar a presença das mulheres no universo cultural do futebol, creio eu, é tarefa necessária a quem gosta deste esporte que, como bem sabemos, é  discursivamente incorporado à identidade nacional     . Em tempo: Em 2015 tem a Copa do Mundo de Futebol Feminino no Canadá. Enfim, não precisaremos esperar mais quatro anos para torcer pela taça!!!!

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À MODA BANGU: ESTIGMAS, FUTEBOL E LAZER

04/08/2014

Por Nei Jorge dos Santos Junior

Quem nunca ouviu a expressão à moda Bangu? Certamente, grande parte da sociedade carioca já ouviu ou reproduziu tal expressão. Na verdade, a locução adverbial de modo (à moda Bangu), cotidianamente presente na linguagem popular, e, em particular, relacionada ao futebol, expressa de certa forma a configuração do bairro arrabaldino: sem compromisso, amador ou de qualquer jeito. Isto é, “vamos fazer isso como se faz em Bangu”.
De fato, a constituição do bairro sempre apresentou peculiaridades. A região teve como primeiro proprietário o negociante português Manoel de Barcelos Domingos, que fundou, em 1673, a fazenda Bangu, tornando-a essencialmente produtiva. A região era basicamente rural, formada por fazendas que se dedicavam à produção de açúcar, aguardente e produtos que se destinavam à exportação pelo porto de Guaratiba, bem como ao mercado interno. Com a Proclamação da República, um novo fator veio alterar a condição exclusiva da agricultura da região: a construção de uma fábrica de tecidos.
Fundada em 1889, a Companhia de Progresso Industrial do Brasil teve um papel fundamental no desenvolvimento do bairro, já que levava o progresso e a modernização a um espaço ainda caracterizado pelo modo de vida das fazendas, transformando-o, rapidamente, de rural a urbano fabril.
Concomitante ao crescimento do bairro, a oferta de lazer foi sendo diversificada e logo clubes esportivos e dançantes foram caindo no gosto dos moradores. As principais bandas da região eram compostas por trabalhadores da fábrica, fazendo-se presentes em todos os eventos e bailes organizados na região . Suas festas foram, por muito tempo, “motivo de orgulho” para a população local, atraindo gente de todas as cores, crenças e idades, como expusera, em seu caderno de memórias, o Sr. Murillo Guimarães, um antigo frequentador dos clubes do bairro .
Além do mais, os clubes que organizavam tais eventos evidenciavam a existência de contextos diferenciados, sobretudo, na composição social de seus associados. Como definiu, por exemplo, o primeiro artigo dos estatutos do Clube Flor da União, uma das principais agremiações de Bangu: “o qual pode pertencer todas as pêssoas desde que sejão(sic) dignas e honestas sem distinção de nacionalidade, religiões, côr, ect. ect.” .
A partir desse exemplo, acreditamos que, ao explicitar em seus estatutos a intenção de representar um quadro mais geral, sem qualquer tipo de distinção, o clube apresentava um meio de afirmação das relações étnicas e sociais existentes no bairro. Talvez não seja exagero vermos no próprio uso do nome “união” um símbolo que revelava não somente as características da localidade – na qual ex-escravos e seus descendentes se misturavam a brancos pobres e imigrantes de várias nacionalidades –, como também o sentimento de pertença que despertava em seus associados, apontando a centralidade que esses elementos de sociabilidade e lazer assumiam na vida dos habitantes da região. Outro exemplo que compõe essa relação está presente na composição da sua equipe de futebol, Bangu Athletic Club, que teve Francisco Carregal em suas fileiras: filho de pai branco, português, e mãe negra, brasileira. Ou seja, um mulato.

bangu_Rmalho_agosto_05_1905Logo, a presença de Carregal geraria protestos entre os adversários. Em 18 de maio de 1907, pressionada por clubes da zona Sul da cidade, a Liga Metropolitana proibiu a presença de atletas negros nos times:

“Comunico-vos que a diretoria da Liga, em sessão de hoje, resolveu por unanimidade de votos que não serão registrados como amadores nesta Liga as pessoas de cor. Para os fins convenientes ficou deliberado que a todos os clubes filiados se oficiasse nesse sentido a fim de que cientes dessa resolução de acordo com ela possam proceder” .

Discordando de tal posição, o Bangu se desligou da entidade. Dessa forma, percebe-se que a política adotada pelos grêmios da região demonstra a composição variada que os caracterizavam. Suas ações produziam um estilo de vida singular, traduzindo o momento em que um grupo projetava simbolicamente sua representação do mundo. Além disso, eles constituíam no espaço a noção de pertencimento entre sujeito e bairro, compartilhando experiências e extratos da vida coletiva. Tal diversidade resultou em uma vida cultural dinâmica e multifacetada, marcada por um bairro que ainda tecia novas redes de sociabilidade, isto é, à moda Bangu.