Por Alvaro Cabo
Fugindo um pouco dos assuntos que constantemente apresento neste blog acadêmico, notoriamente posts sobre partidas de futebol e questões relativas às Copas do Mundo resolvi escrever sobre perspectivas de pesquisa para um esporte coletivo que é disputado em Jogos Olímpicos desde 1900 em Paris, e que além de não ser muito conhecido do grande público também não é devidamente estudado pelos pesquisadores da temática esportiva, sendo talvez a única exceção que tenho conhecimento o professor Sílvio Telles da área de Educação Física da UFRJ.
Meu interesse pelo objeto tem origem no fato de ter praticado o esporte durante minha adolescência, ter debatido dois filmes sobre a modalidade no Laboratório do Sport, e por entender que pode se constituir em mais uma abertura para diversificar os estudos acadêmicos.
Trata-se de uma modalidade que tem pouca popularidade em nosso país, mas que acabou adquirindo certa visibilidade durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro devido à inédita campanha atingindo as quartas de final vencendo inclusive na primeira fase a campeã Sérvia, e ao seu caráter globalizado com a presença de muitos jogadores estrangeiros, como o próprio goleiro sérvio na foto abaixo Slobodan Soro além do técnico croata Ratko Rudic.
Nesse sentido na semana passada apresentei no Fórum de Pesquisa do II Seminário Internacional LEME sobre Jogos Olímpicos, Mídia e Cultura uma breve exposição que sinaliza perspectivas possíveis de pesquisa para um esporte olímpico que tem escassos trabalhos tanto no meio acadêmico quanto entre jornalistas memorialistas afim de contribuir para a diversificação de trabalhos de História do Esporte no país.
Isto posto, pode-se identificar alguns eixos temáticos de pesquisa que apresentarei a seguir:
- Origens – O surgimento no país na passagem do século XIX para o XX das primeiras equipes. Disputas no Rio de Janeiro na Baía de Guanabara, São Paulo, Rio Grande do sul.
- Participação de equipes brasileiras em Jogos Olímpicos e Pan-americanos -Destaque para a geração de ouro dos anos sessenta que disputou três edições seguidas dos Jogos (1960-1964-1968) além de ter sido campeão pan-americano em São Paulo em 1963 e a recente participação no Rio de Janeiro: Pan 2007 e Olimpíadas 2016.
- Gênero. O Pólo Aquático enquanto espaço de masculinidades. É importante destacar a dissertação de Sílvio Telles, “A identidade do jogador de pólo aquático e o mito da masculinidade” (2002). A origem da modalidade feminina e suas peculiaridades pode ser outro tema interessante.
- Nacional: países como Hungria, Croácia, Sérvia, Itália e Espanha e outra nações onde o Water Polo é um esporte muito popular e principalmente na Europa oriental podem ter relação com construções identitárias.
- Local: rivalidades clubísticas, eixo Rio/SP.
- Mitos e atletas: Alguns exemplos.
– Aladar Szabó – um húngaro tornou-se o maior mito do esporte no país , Teria fugido dos conflitos ocorridos na Hungria em 1956 para a Itália após problemas pessoais e um convite do então presidente da C.B.D (Confederação Brasileira de Desportos) e ex-atleta de water polo, João Havelange, teria vindo para ser treinador no Rio de Janeiro. Entretanto, devido a sua capacidade técnica e força física atuou como jogador pelo Fluminense e Botafogo, tornando-se a maior referência do esporte no final dos anos 50 e década de 60, considerado o período áureo do pólo aquático brasileiro, sobretudo pelo título pan-americano conquistado em São Paulo em 1963. Diversas façanhas, algumas talvez mitológicas, são contadas até hoje para os jovens atletas pelos saudosistas das gerações passadas como o fato dele quebrar as balizas com seus potentes chutes, arremessar bolas da piscina do Botafogo Futebol Clube para o Clube de Regatas Guanabara que são separados por uma larga via do Aterro do Flamengo defronte a Baía de Guanabara, além dos relatos das homéricas brigas e sua incrível valentia de Szábor. Silvio Telles escreveu um bom artigo sobre o ex-atleta para o XVI Conbrace “ALADAR SZABO E O POLO AQUÁTICO BRASILEIRO: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO ESPORTE”.
– João Havelange – O ex-presidente da FIFA foi nadador e atleta da modalidade tendo disputado os Jogos de Helsinque em 1952.
– Felipe Perrone – Atleta brasileiro que após ter se naturalizado espanhol e disputado duas edições dos Jogos, teve a permissão da FINA para voltar a participar da seleção brasileira. Foi um dos destaques da seleção brasileira para a Rio 2016.
7- O Pólo Aquático e a mídia: Momentos. Jornais, revistas, televisão, sites especializados. A presença da modalidade em eventuais reportagens na mass-media, sobretudo durante a cobertura dos principais megaeventos esportivos, e em sites especializados.
8 – Cinema e Water Polo: Filmes que tem o esporte como tema ou pano de fundo. Alguns Exemplos:
– Sangue nas águas, película muito interessante que tem a semifinal das Olimpíadas de 1956 disputada entre a Hungria e a União Soviética como referência, jogo que é conhecido como o mais violento das Olimpíadas Escrevi uma resenha para a Revista Recorde/UFRJ em 2011 https://revistas.ufrj.br/index.php/Recorde/article/viewFile/729/672
– Fredom´s Fury. Documentário dirigido por Quentin Tarantino que aborda a trajetória de ex-jogadores húngaros que disputaram a semifinal de 1956 e depois se exilaram nos Estados Unidos.
Palombella Rossa – Dirigido pelo cineasta italiano Nani Moretti que foi atleta da modalidade e era militante comunista. Moretti atua também em um dos seus primeiros filmes que traz reflexões filosóficas sobre a decadência do Partido Comunista na Itália em meio a uma partida de Pólo Aquático.
– A Onda – Versão alemã mais recente de clássico filme onde um professor de ensino médio na Alemanha coordena uma experiência autoritária com os seus alunos e ao mesmo tempo dirige a equipe de Pólo-Aquático da escola.
9 – O Pólo Aquático e as Forças Armadas – A modalidade sempre foi muito praticada dentro das Forças Armadas e estava presente nos Jogos Militares desde os seus primórdios.
10 – O Pólo Aquático e a questão classista. A investigação do perfil sócio-econômico dos praticantes deve levar a uma confirmação empírica da elitização da modalidade com presença marcante de atletas das classes média e alta devido aos locais/clubes em que ele é praticado.
Assim sendo, é possível identificar diversos eixos temáticos para se pesquisar uma modalidade olímpica pouco conhecida no Brasil mas que pode incentivar novos pesquisadores a desbravarem um esporte coletivo que é muito interessante tanto no contexto das reflexões internas possíveis, quanto nas disputas esportivas internacionais.
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