A violência e o futebol: uma antiga e reveladora relação.

31/08/2009

31 de agosto de 2009

Olá amigos, estou de volta para tratar de um tema caro aos esportes. A violência. No dia 24 de agosto um jogador de futebol desferiu uma voadora em seu adversário poucos instantes  após serem expulsos (El defensor Sergio Jáuregui, de Blooming, le aplicó una patada voladora descalificadora al delantero uruguayo Leonardo Medina en el clásico ante Oriente Petrolero.) As imagens não deixam dúvidas, a covardia é notória e a atitude do atleta reprovável. Desse modo, uma vez mais a violência “assume o lugar” do espetáculo futebolístico e produz discursos de que o futebol não pode ser marcado por esta violência e que, fundamentalmente, essa violência não faz parte do futebol.

http://www.youtube.com/watch?v=S4qHKXkXumY&eurl=http%3A%2F%2Fwww.sportingnews.com%2Fblog%2Fthe_sporting_blog%2Fentry%2Fview%2F31325%2Fyour_face_is_in_the_way_of_my_foot&feature=player_embedded#t=49

Bem, dito isto, precisamos nos deter sobre a história do futebol para verificarmos se os discursos proferidos são efetivamente verdadeiros. Para tornarmos esta análise mais adequada e voltada para o “nosso” futebol, estarei pensando exclusivamente o futebol brasileiro.

Desde a chegada do futebol ao Brasil a violência já foi um tema recorrente. Jornais e revistas daquele período já traziam notas sobre a violência e, fundamentalmente, atribuíam estas condutas as classe populares. Notadamente, uma questão importante para época. Haja vista, as disputas simbólicas e reais que definiam os verdadeiros/legítimos representantes do esporte bretão. a violência, neste sentido, colaborava para a exclusão das camadas populares. vejamos:

Em 02 de julho de 1911, sobre uma partida entre o Botafogo e o América, a diretoria do primeiro publica uma carta que justifica a violência de seus jogadores diante da confusão ocorrida. Num trecho significativo a diretoria escreve que indivíduos

declinavam das características de sportmen, insultando no mais baixo escalão os nossos jogadores e respondendo às espontâneas reclamações das archibancadas, com o emprego de gestos offensivos á moral, somente próprios de indivíduos cuja classificação nos dispensamos de fazer….

…..diante de taes fatos, é bem de ver-se que, não seria possível aos jogadores do primeiro team do botafogo, por mais esforços que fizessem, manter a compostura conveniente

….A diretoria do Botafogo viu realizadas as suspeitas que tinha por denuncia várias de que o América pretendia lançar mão de todos os meios, lícito ou ilícitos próprios ou não do sportmen, para conquistar a victoria do seu primeiro team”.

Numa outra citação podemos verificar que a violência era comum e que os esforços em contê-las já estavam se tornando uma questão para as forças armadas. Ou seja, já era grae naquele período.

“ De novo emittimos estas palavras, referindo-nos ás desagradáveis occurrencias desse match em que até a força armada foi chamada para conter os ânimos dos exaltados… …Somos dos que sempre têm prestado apoio aos referees, porque mais uma vez temos apontado quão árdua e ingrata é essa tarefa”[1].

Claro que a violência empregada no vídeo nada tem haver com questões sociais ou raciais. Mas, é significativa para demonstra que o homem e suas reações (controle e descontrole) são, em algumas circunstância, quando tratamos do esporte em larga escala, imprevisíveis, imponderáveis e, fundamentalmente, inconsequentes.

Enfim, a violência física, bem como a simbólica, sempre esteve presente no futebol. Em momentos diferentes representaram questões sociais, raciais e pessoais e, em alguns casos, houve a conexão de dois ou mais destes itens numa mesma circunstância.  Vale ressaltar também que sempre existiu tentativas de conter a violência, fosse gerada por quaisquer motivação ela sempre foi criticada. devemos lembrar que estamos tratando de Brasil, pois na Inglaterra do século XIX a violência produzia uma outra leitura.

Neste sentido, compreendo que infelizmente continuaremos assistindo vídeos como esses enquanto existir o esporte. Ainda que devam ser combatidos, o descontrole e a violência fazem parte do espetáculo. Mais ou menos graves dependerá muito mais do agente do que do esporte. Para tornarmos essas situações ainda mais pontuais, devemos compreender  o fenômeno esportivo de forma mais ampla e articulada.

Grande abraço para todos,

Ricardo Bull – Historiador

ricardobull2005@hotmail.com


[1] Jornal do Brasil, 12 de setembro de 1912.


Greve de surfistas

24/08/2009

Fonte da imagem: http://josiasdesouza.folha. blog.uol.com.br/images/Greve.jpg

Por Rafael Fortes

“Os sindicatos fazem greve/Porque  ninguém é consultado”, cantam os Titãs em “Desordem” (Sérgio Britto/Marcelo Fromer/Charles Gavin). A música – minha favorita na longa discografia da banda – apareceu no disco Jesus não tem dentes no país dos banguelas, de 1987.

Uma das características marcantes dos anos 1980 no Brasil – sobretudo quando se olha para os dias atuais – é a capacidade de mobilização dos trabalhadores. Tal fenômeno estava articulado a um longo e difícil processo de reorganização de instâncias coletivas da sociedade brasileira, que avançou a partir dos últimos anos da década de 1970. Durante os governos de um general (João Figueiredo), e de um civil (José Sarney, cuja carreira política se desenvolveu no seio da ditadura e da Aliança Renovadora Nacional – Arena – e cujo nome tem estado em voga na mídia nos últimos meses), trabalhadores, moradores e sem-teto, gays, mulheres, negros, jovens, católicos, povos indígenas, agricultores com e sem terra, estudantes, seringueiros, praticantes de religiões perseguidas, vítimas de discriminação e muitos mais se (re)organizaram em partidos, associações, sindicatos, movimentos, grupos, ligas, comunidades, clubes, centrais, agrupamentos, uniões. O próprio ato de reunir-se continha um significado político. Tratava-se, em boa parte dos casos, não apenas da defesa de interesses de grupo ou corporativos, mas de reivindicar direitos.

No caso das entidades representativas dos trabalhadores, a greve constituía o instrumento mais radical e, ao mesmo tempo, mais poderoso de luta por aumento salarial, por direitos e por melhores condições de trabalho e de vida. E as greves aconteciam com frequência que, ao se observar o presente, parece impressionante. Os defensores de uma certa ordem vigente – entre os quais encontram-se os meios de comunicação corporativos -, encaravam tais manifestações como desordem – a ótima letra da música citada trava justamente esta discussão. Você, leitor, deve estar se perguntando: mas o que isso tem a ver com esporte?

Em março de 1988, Fluir publicou um artigo intitulado “Primeira greve no surf brasileiro”. Começava assim:

Os surfistas profissionais brasileiros, durante a realização da primeira etapa do 2º Circuito Brasileiro de Surf, cruzaram os braços e se declararam em greve, pleiteando uma maior premiação. Essa situação tomou a manchete dos maiores jornais do país e a pauta dos noticiários esportivos de rádios e TVs.

Como em qualquer categoria houve negociação, concessões de parte a parte e um acordo celebrado.

O longo texto prossegue com informações sobre premiação, contratos, reivindicações dos atletas e argumentos das várias partes envolvidas. A complicada disputa envolvia surfistas, empresas patrocinadoras das etapas, Rede Globo (que comprara a exclusividade de cobertura do circuito) e organizadores. Nos cinco parágrafos da “conclusão”, chama os envolvidos ao “bom senso”. A revista diferencia as empresas que investem no surfe (citando como exemplo as que se dispuseram a patrocinar etapas do primeiro circuito, realizado em 1987) dos “novos oportunistas” – estes, sim, deveriam sofrer cobranças.

A adoção de uma postura classista pelos atletas reunidos no Rio de Janeiro para a etapa inaugural do Circuito Brasileiro 1988 não ocorre no vácuo, mas em meio a dois processos mais amplos. Primeiro, o de comercialização e profissionalização do surfe no país. A realização do segundo circuito, os acordos comerciais fechados em torno do mesmo e o possível crescimento das cifras formam o quadro em que os atletas decidiram reivindicar aumento na premiação. Neste caso, Fluir intercede colocando panos quentes no conflito entre atletas e empresas do ramo (a visão da publicação a respeito do papel desempenhado pelas empresas é assunto para outro artigo).

Segundo, o processo de mobilização da sociedade brasileira, ao qual me referi no início do texto.

Como a história também é feita de acontecimentos fortuitos, cabe acrescentar uma curiosidade: segundo Fluir, um dos fatores que contribuíram para a tomada de consciência e a mobilização da “categoria” por melhores premiações foi a falta de ondas por vários dias consecutivos.

*  *  *

Duas observações para encerrar:

Um dos grandes baratos de estudar história do esporte é justamente relacioná-lo com o contexto e o tempo social em que se insere e se desenvolve. É nesta perspectiva – compartilhada por todos que fazem parte do Sport – que busco desenvolver meu trabalho.

A relação entre música e surfe dá pano para manga. Seja nos anos 1980, antes ou depois; no Brasil e em outros cantos deste vasto mundo. Voltarei ao assunto posteriormente.

*  *  *

Para saber mais:

Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. Publicado pelo CPDOC/FGV, possui diversos verbetes disponíveis para consulta na internet – mediante cadastro -, entre eles “José Sarney” e “ARENA”.

NEVES, Lucília de Almeida (1989). Democracia, República e cidadania hoje. Análise e Conjuntura, Belo Horizonte, v. 4, n. 2-3, maio/dez., p. 339-347.

REIS FILHO, Daniel Aarão (2002). Ditadura militar, esquerdas e sociedade. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Coleção Descobrindo o Brasil)


Cine Clube – dia 25 de Agosto

19/08/2009

Olá…

Queridos amigos,

Hoje venho ao Blog para convidar todos a participarem do Cine Clube deste mês. Dia 25, próxima terça, temos um encontro marcado.  Será no IFCS,  na sala 320 F, às 18:30.

O filme  apresentado será o  El Portero do diretor Gonzalo Suárez e o debatedor deste mês será este que vos escreve,  Ricardo Bull.

El portero - ( 2000)

El portero - ( 2000)

O Goleiro (El portero, Espanha, 88 min) – Uma bela película sobre o futebol, sobre guerra civil e, fundamentalmente, sobre como podemos avançar nos debates, acerca dos dois temas, quando utilizamos o cinema.

Então,  aguardo vocês.

Grande abraço,

Ricardo Bull


Golfe e identidade nacional

17/08/2009

Por Victor Andrade de Melo

O título parecerá estranho ao leitor que imaginar que se trata de uma reflexão sobre o Brasil, país no qual justificadamente, mas exageradamente, muitas vezes se considera o futebol como o único responsável por estabelecer uma relação entre o esporte e as construções discursivas sobre a identidade nacional.

Há, na verdade, um pequeno e fascinante país, um arquipélago praticamente perdido no Oceano Atlântico, a meio do caminho entre a América, a África e a Europa, no qual o golfe ocupou, e em certa medida ainda ocupa, lugar de grande importância na construção da idéia de nacionalidade, algo que somente pode se manifestar na íntegra tardiamente, pois a independência só chegou em 1975: Cabo Verde.

Aproveitando que no momento me encontro em Lisboa, trabalhando em um projeto sobre tal país e sobre a experiência esportiva/desportiva na lusofonia, dedico a “terra da morabeza” o post dessa semana.

 *****

A princípio, em seu formato moderno, uma “invenção inglesa”, com a expansão do comércio e dos contatos internacionais, no decorrer do século XIX, a prática esportiva desembarcou em outros países. Nesse processo, as influências não foram lineares e lidaram com as peculiaridades históricas e culturais locais.

O crescimento do uso de navios a vapor tornava necessários entrepostos para abastecimento de carvão. Como Cabo Verde ocupava uma posição geográfica estratégica, no caminho de várias importantes rotas, e dadas as características da baía de Mindelo (Ilha de São Vicente), por lá são instalados diversos depósitos, notadamente de capital inglês. Com isso, houve um surto de desenvolvimento e uma significativa alteração da paisagem da cidade.

Foi nesse contexto que os esportes, entre os quais o golfe, chegaram ao país no fim do século XIX. Essas experiências iniciais, ainda espontâneas, melhor se sistematizaram na década de 1920, quando foram criados alguns clubes (o The Western Athletic Club, o St. Vicent Sport’s Club, o St. Vicent Golf Club e o St. Vicent Lawn Tennis Club) que se fundiram, em 1933, dando origem ao St. Vicent Golf Cape Verde Island and Lawn Tennis Club.

Com o golfe se deu um processo semelhante ao que ocorrera com o cricket. Se a princípio era uma atividade restrita aos estrangeiros (britânicos e em menor grau portugueses funcionários do governo colonial), logo a população local se aproximou, se apropriou e deu um sentido bastante inusitado ao esporte, tão curioso que destacou a Ilha de São Vicente no cenário mundial.

Entre outras peculiaridades, o campo mais tradicional, ao invés de ser um relvado gramado (um “green”), é um “black” (ou um “brown”), já que as terras vulcânicas dificultam o cultivo de grama. Além disso, ao contrário de outros países, construiu-se uma representação de que é uma prática popular. Logo foi compreendido como uma forma de demonstrar a elevada cultura local.

No fim da década de 1930, aproveitando que os ingleses do St. Vicent mudaram de sede, para se afastarem ainda mais dos nativos e dos portugueses que frequentavam o clube, de forma a manter o sentido de exclusividade, os ligados ao governo colonial fundaram uma nova agremiação, o Clube de Golfe de São Vicente (1940), impedindo qualquer participação dos locais, que, descontentes com a decisão, fundaram o Lord Golf e construíram com grande esforço um campo próprio. Nesse momento já havia competições entre os sócios do Clube Sportivo Mindelense e do Grêmio Recreativo Castilho, além de jogos espontâneos.

Não tardou para que os caboverdianos fossem convidados a integrar o Golfe de São Vicente, já que os portugueses não davam conta de manter o clube; com isso deixa de existir o Lord. Em 1969, fundem-se essa agremiação e o St. Vicent, dando origem ao Club Anglo-Português de Golfe, que foi uma das sedes da difusão do pensamento nacionalista caboverdiano nos momentos pré-independência, palco de reuniões políticas e cerimônias que buscavam demonstrar o elevado grau da cultura local. Com a independência (1975), houve nova mudança de denominação: Clube de Golfe de São Vicente.

Essa antiga ligação com esse esporte hoje se vê reforçada pelo desenvolvimento do turismo, uma das alternativas econômicas que têm sido pensadas para Cabo Verde. Grandes empreendimentos que se instalam no país têm como principal mote o golfe.

Isso tem causado grandes mudanças nas representações e muitos conflitos, algo que dramatiza o próprio momento histórico do país. Como fazer parte do cenário internacional com um quadro nacional desfavorável? Como ajustar os interesses comerciais com os ganhos para o conjunto da população? Como ajustar tradição e inovação? Como repensar a identidade caboverdiana nesse novo cenário?

Esse é assunto para outro post. Para concluir, vale lembrar a posição de Eric Wagner (1990), que a exemplo de Paul Darby (2002), ao se perguntar se a difusão do esporte na África não pode ser explicada pela ideia de imposição estrangeira, investe, contudo, no argumento contrário; pode-se observar um processo de africanização da prática:

“Eu acho que nós pensamos demasiadamente em dependência cultural no esporte quando na verdade é o próprio povo que geralmente determina o que quer e não quer, e é o povo que modifica e adapta as importações culturais, o esporte, para atender suas próprias necessidades e valores” (p.402).

 Parece ser mais produtivo considerar não que o esporte substituiu e/ou destruiu as manifestações típicas de cada país, mas sim que ocupou espaço paralelo e foi ressignificado desde o diálogo com as peculiaridades locais, sem negar, todavia, que também em certa medida alcançou-se algo da intencionalidade estabelecida pela matriz europeia, inclusive porque os eventos e agências internacionais esportivas são certamente fóruns de ressonância que interessam aos países, especialmente aos recentemente independentes, como é o caso de Cabo Verde. Darby (2002) resume bem a questão:

“É interessante considerar as capacidades das populações locais para absorver, modificar e adaptar as importações culturais, como o esporte, para atender suas próprias necessidades e valores (…) Além disso, da mesma forma os esportes também serviram como fórum de resistência contra a exploração econômica e cultural externa (…) Isto foi conseguido utilizando o jogo como um mecanismo de expressão política radical e resistência às pressões hegemônicas da Europa, em primeira instância, e posteriormente por aproveitá-lo como uma força mobilizadora na construção e promoção do sentimento de nação, tanto nos limites internos quanto na cena internacional” (p.44).

 O percurso do golfe em Cabo Verde demonstra o quanto parece apropriada essa consideração.

 Para saber mais

 BARROS, Antero. Subsídios para a história do golf em Cabo Verde. São Vicente: Clube de Golfe de São Vicente, 1981.

 BARROS, Antero. Subsídios para a história do cricket em Cabo Verde. Praia: COC/CPV, 1998.

 DARBY, Paul. Africa, football and FIFA: politics, colonialism and resistance. Londres: Frank Cass & Co, 2002.

 WAGNER,  Eric. Sport in Asia and Africa: a comparative handbook. Londres: Greenwood Press, 1990.


Futebol e a imagem da nação

10/08/2009

Os elos entre esporte, política e nacionalismo não são novidade para quem procura olhar para o esporte como um pouco mais do que alguns momentos de diversão no final de semana. Muitos foram os políticos que procuraram se utilizar do esporte em busca de legitimação de seu governo, ou mesmo por uma maior identificação com o povo. Nosso atual presidente é um grande exemplo, com suas diversas metáforas futebolísticas, seus encontros com atletas de êxito internacional, ou mesmo explorando sua ligação com o Corinthians, que há poucos meses desviou sua rota de retorno para comemorar a conquista da Copa do Brasil junto ao chefe de nosso Executivo, como mostra a figura abaixo.

Presidente Lula ergue a taça da Copa do Brasil cercado pelos representantes do corinthians: Mano Menezes (Técnico), Jorge Henrique, Dentinho, Cristian, William, André Sanchez (presidente do clube) e Ronaldo). Fonte: Terra.com.br.

Presidente Lula ergue a taça da Copa do Brasil cercado pelos representantes do corinthians: Mano Menezes (Técnico), Jorge Henrique, Dentinho, Cristian, William, André Sanchez (presidente do clube) e Ronaldo. Fonte: Terra.com.br.

Dentro do quadro dos esportes, o futebol ganha relevância por sua popularidade internacional. Como apontou Bill Shankly – o lendário treinador inglês do Liverpool: “algumas pessoas acham que o futebol é uma questão de vida ou morte. Eu posso assegurá-las que ele é muito mais do que isso” [1].

Nessa “coluna” que assino, irei procurar debater as formas com que o futebol teria sido utilizado como meio de identificação nacional ao longo do século XX. Como o esporte mais popular do planeta teria servido de propaganda política não apenas a favor, mas também contra, regimes políticos, governos autoritários e movimentos sociais? E Através deste espaço pretendo trazer à tona alguns exemplos destas relações, tendo mais em vista levantar novas inquietações do que respondê-las.

Neste sentido, decidi por iniciar nossos encontros por uma análise comparativa entre as Nações Unidas e a FIFA (Fédération Internationale de Football Association). Ao se comentar a importância política do esporte pelo mundo, é comum vermos apontado o fato de que a FIFA (Federatión Internationale de Football Association) possui mais países membros do que a ONU (Organização das Nações Unidas).. Pode-se constatar que enquanto a ONU possui 192 membros, a FIFA conta com 208 afiliados. O mesmo acontece com o COI (Comitê Olímpico Internacional), ligado a 205 Comitês Olímpicos Nacionais [2].

Este simples olhar nos mostra algo de importante sobre a importância política do futebol. Dezesseis associações filiadas à FIFA não são parte integrante das Nações Unidas. Muitas podem ser as razões dessa diferença, como será visto a seguir. Mas esta simples comparação é por si suficiente para demonstrar que neste período em que tanto se fala sobre globalização, o futebol parece ser um dos maiores legitimadores de reconhecimento internacional de uma nação. Um olhar mais aprofundado sobre o tema pode trazer maiores esclarecimentos sobre a questão.

Em primeiro lugar, em uma listagem mais superficial dos membros associados à FIFA que não se encontram na ONU, saltam aos olhos a presença de países como Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales. Nas Nações Unidas, os mesmos possuem uma única representação, o Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda do Norte, enquanto possuem representações distintas no que se refere a seu futebol [3]. Reconhecidos internacionalmente como inventores do esporte, tanto os ingleses como seus vizinhos ocupam posição de destaque dentro da estrutura organizacional do futebol internacional, através da International Board [4]. Tal posição de destaque não condiz com a relevância internacional de seleções como País de Gales e Irlanda do Norte. Mesmo tendo participado de apenas uma Copa do Mundo, no caso dos galeses, ou de três, como a Irlanda do Norte. Mesmo sem uma grande participação internacional, a identificação destas seleções com suas nações é evidente. Pode-se citar neste sentido o fato de grandes jogadores que nunca disputaram uma Copa do Mundo, mas se mantiveram fiéis as suas seleções, como o irlandês George Best e o galês Ryan Giggs. Apesar de não terem tido uma oportunidade de brilhar nas maiores competições esportivas internacionais, estes nunca clamaram pela formação de uma seleção do Reino Unido. Seleção esta que já chegou a ser cogitada, para que estes países pudessem contar com uma representação no futebol olímpico. Isso porque o Comitê Olímpico Internacional (COI) não reconhece a Inglaterra, o País de Gales, a Escócia e a Irlanda do Norte como nações independentes, elas são representadas pela mesma entidade olímpica a Associação Olímpica Britânica (British Olympic Association). No entanto, a idéia da formação de uma seleção britânica unificada foi taxativamente recusada. Sua última participação em uma Olimpíada foi em 1956, nos jogos de Melbourne.

O caso da seleção Israelense também é interessante. Membro da ONU desde 1949, um ano após sua criação, Israel já contava com um representante na FIFA em 1929, tendo a criação de sua federação de futebol em 12928, 20 anos antes da criação de seu Estado. No mesmo ano foi fundada também a federação de futebol da Palestina, tendo esta se filiado à FIFA apenas em 1998. A seleção palestina se junta à lista de federações de futebol reconhecidas pela FIFA que não possuem representação junto às Nações Unidas. Fora os países britânicos citados acima, nenhuma destas seleções possui posição de destaque no cenário internacional do futebol, sendo a equipe de Hong Kong a de melhor colocação no ranking da FIFA, atualmente na 134ª posição.

Dentro deste grupo vale também destacar a presença de Taiwan – ou República da China –, que apesar de ter ocupado a cadeira da China na ONU até 1971[5], hoje busca ser reconhecida na organização como República da China e tem sua entrada vetada por pressão da República Popular da China, que detém poder de veto no Conselho de Segurança. Taiwan se tornou membro da FIFA ainda em 1954, quando era reconhecida oficialmente pela comunidade internacional como China, tendo permanecido na entidade desde então. De forma similar, as atuais Regiões Administrativas Autônomas chinesas de Hong Kong e Macau figuram entre as federações Chinesas filiadas à FIFA. No entanto, no momento de suas filiações à entidade, em 1954 e 1978 respectivamente, estas ainda eram ligadas à Inglaterra e Portugal, respectivamente.

Assim como Hong Kong e Macau no momento de sua filiação à FIFA, diversas colônias, protetorados, dependências e outras nações não independentes são filiadas à entidade reguladora do futebol. Este é o caso de Porto Rico, Estado livre associado aos Estados Unidos, membro da CONCACAF (Confederation of North, Central American and Caribbean Association Football), assim como as seleções de Anguila, Bermuda e Antilhas Holandesas, entre outras. Outras confederações ligadas à FIFA também possuem membros deste grupo, como Oceania Football Confederation (OFC), que conta com os representantes das Ilhas Cook, de Samoa Americana, ou da Nova Caledônia, por exemplo. Até mesmo a tradicional confederação européia – a UEFA – possui em seu rol de países membros as Ilhas Faroe, território autônomo da Dinamarca localizado no Atlântico Norte.

Pode-se observar assim que há mais envolvido em uma filiação internacional à FIFA do que apenas o direito de participar de uma competição internacional de futebol. O mero reconhecimento internacional de soberania de seu Estado pode não ser suficiente. Fora o caso já abordado do Reino Unido, sete Estados com cadeira na Assembléia Geral das Nações Unidas não possuem representação na entidade maior do futebol mundial. Tanto as Ilhas Marshall como Kiribati, Micronésia, Nauru, Palau e Tuvalu, possuem associações nacionais de futebol, são Estados soberanos – uniram-se à ONU entre 1991 e 2000 –, e não são reconhecidos como países membros da FIFA. Destaca-se entre estes a seleção de Tuvalu, que disputou a competição de futebol dos Jogos do Pacífico Sul 2007, em Samoa. Mesmo sendo derrotada na primeira rodada contra Fiji por 16 a 0, a equipe não filiada à FIFA perdeu de apenas 1 a 0 para a campeã Nova Caledônia e empatou em 1 a 1 com a seleção do Tahiti, 161ª colocada no ranking da FIFA[6]. Além das seis nações acima citadas, deve-se enfatizar o caso do Principado de Mônaco. O microestado europeu, apesar de não ser reconhecido pela FIFA, possui cadeira na ONU e um time de ponta inscrito na liga francesa de futebol – o Association Sportive Monaco Football Club, ou apenas Mônaco. Contando com jogadores da várias nacionalidades, o Monaco chegou a disputar a final do campeonato europeu de clubes, a Liga dos Campeões da UEFA, em 2004.

A busca de reconhecimento internacional e de legitimação nacionalista através do esporte, e principalmente do futebol, é recorrente e não se restringe apenas ao caso de nações emergentes. Algumas regiões, soberanas ou não, ainda buscam reconhecimento oficial pela FIFA. Para estas seleções, foi criada em dezembro de 2003 a Nouvelle Fédération-Board (NF-Board). Entre os membros desta nova organização, possuem destaque as seleções do Tibet, Chechênia, Groenlândia, Ilhas de Páscoa e Mônaco (a seleção do principado, não o clube). Em 2006 a NF-Board organizou a primeira Copa do Mundo VIVA, realizada na Occitânia, região do Languedoc no sul da França. A Copa teve como campeã a seleção da Lapônia, com Mônaco em segundo e Occitânia em terceiro. A competição contou, na prática, com apenas três selecionados. A quarta equipe seria a seleção de Camarões do Sul, que por não conseguirem visto de entrada na França, perderam todos os jogos por WO. A competição acabou esvaziada por uma querela interna entre a NF-Board e a federação de Chipre do Norte, que fez com que esta segunda organizasse, em paralelo à Copa VIVA, outra competição com países membros da NF-Board, chamada Copa ELF (do francês, Igualdade, Liberdade e Fraternidade). A maioria dos integrantes da NF-Board acabaram por participar deste torneio, uma vez que a federação anfitriã cobriria todas as despesas dos participantes. O torneio contou com oito seleções, entre as quais a do Quirguistão, de Zanzibar, a do Tibete e a da Groenlândia. A equipe de Chipre do Norte venceu a seleção da Criméia na final por 3 a 1 e se sagrou a campeã. A equipe do Tibete perdeu os três jogos disputados, sofrendo 14 gols e não fazendo nenhum.

A NF-Board organizou mais uma edição da Copa do Mundo VIVA este ano. Depois da edição de 2008, organizada na Lapônia, a competição foi realizada novamente em junho deste ano, na região da Padânia, no norte da Itália. A seleção local se sagrou bicampeã do torneio (venceu também a edição de 2008), que contou também com a participação das equipes da Occitânia, do Curdistão e da Lapônia, entre outros.

Cartaz da Copa do Mundo VIVA 2009. Fonte: http://www.vivaworldcup.info/

Cartaz da Copa do Mundo VIVA 2009. Fonte: http://www.vivaworldcup.info/

Outro caso que vale mencionar é o da seleção do País Basco. O escrete nacional basco nasceu em plena guerra civil espanhola, em 1937. José Antonio Aguirre, líder político e ex-jogador do Athlético de Bilbao, decidiu formar uma equipe de futebol representando o País Basco para angariar fundos para a guerra. A seleção teve sua estréia no dia 25 de abril de 1937, no estádio parisiense Parc des Princes – um dia antes do bombardeio de Guernica. Lá teve início uma jornada de jogos, divulgando a guerra e o nacionalismo basco. A seleção basca jogou, no período de 1937 a 1939, 30 partidas, tendo enfrentado equipes de nome como Olimpique de Marselha e Spartak de Moscou, além de ter enfrentado seleções da Polônia, Noruega e Dinamarca. Em 1938 a equipe foi atuar em solo Mexicano, onde disputou o campeonato nacional e foi campeã. A seleção permaneceu no México até o final da guerra civil espanhola, em 1939, se dispersando em seguida.  A seleção basca foi reunida novamente apenas em 1979, já com o final do governo franquista. Desde então vem lutando por seu reconhecimento em instituições esportivas internacionais, como a Fédération Internationale de Football Association (FIFA) e o Comitê Olímpico Internacional (COI).

Mesmo sem a legitimidade de membro da FIFA, enfrentou seleções como Irlanda (1979), Paraguai (1995), Uruguai (1998) e Gana (2001). A seleção basca tentou, sem sucesso, participar da Eurocopa de 2000, uma vez que o parlamento havia afirmado a legalidade de todas as seleções esportivas bascas. Como protesto, a organização juvenil Gazte Abertzaleak comprou o endereço eletrônico “www.eurocopa2000.org” e postou uma mensagem de protesto a não participação de sua seleção na competição européia, que continua no ar até hoje. No final, a força política da FIFA e da federação espanhola falaram mais alto, e os jogadores bascos participaram da Eurocopa vestindo os uniformes das seleções da Espanha e da França.

No final do ano passado, no dia 27 de dezembro, uma multidão tomou as ruas de Bilbao para protestar em favor da participação da seleção basca em torneios profissionais (assim como a seleção da Catalunha, que também luta por reconhecimento da FIFA, a seleção basca só pode participar de amistosos). Os manifestantes carregavam bandeiras do País Basco e faixas com os dizeres “País Basco, uma nação, uma seleção, uma federação”.

Vemos assim que o futebol exerce um importante meio de identificação coletiva e de legitimação nacional. Daí advém grande parte de sua relevância política. E assim como o futebol, diversas outras modalidades ocupam posições de destaque em diferentes locais e períodos. A imagem do esporte se confunde com a imagem da própria pátria, em uma enfática confirmação da máxima de Nelson Rodrigues, a seleção é a pátria de chuteiras. Mas de que forma se dá esse processo de identificação da nação moderna e do esporte? Como são estruturadas as representações de senso comum sobre o pertencimento a uma comunidade ou sobre a identidade nacional através do esporte? E de que forma se buscou a utilização do capital simbólico envolvido com o esporte nos diferentes regimes instaurados durante os últimos séculos? Esses serão alguns dos temas abordados nessa coluna.

Um grande abraço e até a próxima.

(Críticas, dúvidas, comentários ou sugestões: mande um email para msdrumond@yahoo.com.br)

Notas:

[1] Em entrevista concedida ao Sunday Times, em 4 de outubro de 1981.

[2] De acordo com seus respectivos sítios eletrônicos: http://www.un.org/en/members/index.shtml, http://www.fifa.com/aboutfifa/federation/associations.html e http://www.olympic.org/uk/organisation/noc/index_uk.asp?id_assoc=8. Acesso em: 06 ago. 2009.

[3] O artigo 10, item 5 do estatuto da FIFA declara que “cada uma das quatro Associações Britânicas é reconhecida como um membro em separado da FIFA” (tradução minha). Disponível em www.fifa.com/mm/document/affederation/federation/fifa%5fstatutes%5f0719%5fen%5f14479.pdf, acessado em 7 ago. 2009.

[4] A International Football Association Board é o órgão internacional regulador das regras do futebol. Apesar de contar atualmente com Inglaterra, Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte e mais quatro representantes da FIFA, somando oito membros no total, são necessários os votos de seis membros para que qualquer mudança ocorra nas regras do esporte. Desta forma, a FIFA não pode efetuar qualquer decisão sem a aprovação de duas das federações britânicas, assim como essas necessitam do apoio da FIFA.

[5] A Assembléia Geral da ONU passou a reconhecer a República Popular da China como representante oficial da nação com a Resolução 2758, de 25 de outubro de 1971.

[6] Conforme página da Internet oficial dos XIII Jogos do Pacífico Sul (XIIIth South Pacific Games). Disponível em: http://www.samoa2007.ws/, acesso em: 07 ago. 2009.

Bibliografia sugerida:

AGOSTINO, Gilberto. Vencer ou morrer: futebol, geopolítica e identidade nacional.  Rio de Janeiro: FAPERJ / Mauad, 2002.

ANDERSON, Benedict.  Comunidades Imaginadas: reflexões sobre a origem e expansão do nacionalismo. Lisboa: Edições 70, 2005.

ARCHETTI, Eduardo P.  El potrero, la pista y el ring: las pátrias del deporte argentino. Buenos Aires: Fondo de Cultura Econômica, 2001.

RIORDAN, Jim; KRUGER, Arnd. 1999. The international politics of sport in the 20th century. Oxon, Taylor & Francis.

TOMLINSON, Alan, YOUNG, Christopher. National identity and global sports events: culture, politics and spectacle in the Olympics and the football world cup. New York: SUNY, 2006.


A grande final “rioplatense” – 1930, o esporte bretão estava no Rio da Prata

03/08/2009

 

Estádio Centenário, 30 de julho de 1930. 79 anos atrás era realizada a primeira final de uma Copa do Mundo de futebol. Dificuldades para realização de um torneio imaginado desde 1904, ano da fundação da FIFA, levaram o pequenino, próspero e brilhante, no âmbito futebolístico, Uruguai, a se tornar a sede da primeira competição global do outrora chamado esporte bretão.

Campeão olímpico em 1924 na França (Colombes) e 1928 (Amsterdam), coube a antiga Província Cisplatina, devido principalmente a um “soldado branco”, o diplomata Enrique Buero, ao dirigente da entidade Jules Rimet e ao presidente da República Oriental do Uruguai, o descendente de imigrantes franceses Dr. Campetesgui a organização do primeiro torneio mundial de Futebol. 

Quatro delegações européias: Bélgica, França graças aos esforços de Rimet, Romênia com a ajuda do Rei Carol e Iugoslávia, algoz da seleção brasileira na primeira fase, enfrentaram aproximadamente 15 dias na travessia do Atlântico para prestigiarem o evento.

Porém a final foi sul-americana, mas que tudo “rioplatense”. Repetindo as disputadas partidas que decidiram as Olimpíadas de Amsterdam, vencida pelo Uruguai após dois jogos. Primeira partida 1×1 no tempo regulamentar e nas duas prorrogações e numa final desempate, 13/06/1928, 2×1 para os uruguaios. Novamente, os grandes rivais do estuário da Prata enfrentavam-se. Primeira final de uma Copa do Mundo de futebol, realizada no Centenário, estádio e data da organização constitucional do país, Uruguai e Argentina encontram-se após goleadas indiscutíveis nas semi-finais. Despacharam respectivamente Iugoslávia e Estados Unidos por 6×1, confirmando a supremacia sul-americana.

Milhares de argentinos cruzaram o Prata, e a partida começou com a saída do artilheiro da Copa o argentino Guilermo Stábile.  Rivalidade, raça e paixão em campo, aos doze minutos,o jogador do Bella Vista Pablo Dorado faz o primeiro gol em uma final de Copas do Mundo. Festa nas Tribunas Colombes e Amsterdam do Estádio Centenário e em todo pequeno grande Uruguai.

Entretanto, a poderosa argentina vira a partida ainda no primeiro tempo. Com gols de Peucelle e do artilheiro Stábile aos 36 minutos . Termina a primeira etapa.                 

 

            12 minutos do segundo tempo “El Vaso Cea” empata a partida. A pressão uruguaia continua intensa, a decantada raça “charrua” entra em campo, os olímpicos comandados por José Leandro Andrade, a maravilha negra e José Nasazzi “El Capitán” de 1924, 1928  e 1930 pressionam a seleção argentina e a torcida “celeste” vibra.

            Virada espetacular aos 23 minutos com chutaço do jogador do Racing Santos Iriarte. Apesar da vantagem, a partida continua tensa, disputada e a Argentina ameaça, mas aos 44 minutos o atacante Héctor “Manco” Castro, que aos treze anos havia perdido a mão direita em um acidente de trabalho fez o gol decisivo. Festa na Província Cisplatina Oriental Celeste Charrua do Uruguai. E o Jornal El Pais de 31 de julho de 1930, pg 9 descreveu o gol assim:

                        “ Peucelle realiza un avance que termina con un centro desviado. Ballestero tira la pelota desde su área recibiéndola en mitad del campo Cea que la pasa a a Iriate. Este elude a Evaristo y hace unos driblings a Della Torre, que le permiten zafarse de él haciendo un centro que llegó a la derecha. Alli Suaréz alejó apenas la pelota pudiendo Dorado tomaria para repetir un centro alto que después de pasar sobe Della Torre Castro cabeceó enchando la pelota a la red”.     

            A referida reportagem termina da seguinte forma: “ Después de este goal, convetido a los 44 minutos del tiempo reglamentario en el segundo half time, exceptuados los que el referée creyó del acaso adicionar, no le fué, posible a los cronistas que tomarán esta version taquigráfica del match, controlar el juego hasta, que el referée lo dió por terminado, tantas fueron las dificuldades  provenientes del entusiasmo público,”

            Festa na 18 de Julio, principal avenida de Montevidéu: Parilla, vinho, chivito e a sensação de ter o melhor futebol do mundo, além de ganhar do maior rival, a Argentina. A confraternização é total. A hierarquia cai, os abraços são fortes, a emoção transcende o esporte alegra a Nação. 

 

LA EMOCION FINAL – EL PAIS 31/07/1930 – PG 10.

Mientras asciende al mastil de honor la bandera de la pátria

“ La pitada  del arbitro señalo que daba finiquitada la tiánica lucha entre los dos colosos.

            Y con ella, rubricados por el éxito, los merecimientos del Uruguay de este Uruguay pequeñito en extension territorial, pero grande, imensamente grande, por sus valores morales, por la pujanza soberba de su raza de sangre bravia, como buena sangre charrúa.”   

 alegria pátria uruguia

FICHA TÉCNICA: 30/07/1930 – MONTEVIDÉU – URUGUAI 4 X 2 ARGENTINA

JUIZ: LANGELLUS (BÉLGICA)

URUGUAI: BALLESTERO, NASAZZI, MASCHERONI, JOSÉ LEANDRO ANDRADE, L. FERNÁNDEZ, GESTIDO, DOADO, HÉCTOR SCARONE, HÁCTOR CASTRO, CEA, IRIARTE.

ARGENTINA: BOTASSO, DELLA, TORRE, PATERNESTER, J. EVARISTO, MONTI, SUÁREZ, PEUCELLE, VARALLO, GUILERMO  STÁBILE, FERREIRA , M. EVARISTO.

GOLS: DORADO (U) , PEUCELLE (A), STÁBILE (A), CEA (U), IRIARTE (U), CASTRO (U).

 Referências

 

BUERO, Enrique.  Negociaciones Intenacionales. Bruxelas, 1932.

CABO, Alvaro Vicente. “Copa do Mundo de 1950: Brasil X Uruguai – uma análise comparada do discurso da imprensa”. In MELO, Victor Andrade (org). Historia Comparada do Esporte. Rio de Janeiro: Shape, 2007.

CARRIL, Juan Antonio Capelan. Nueve decadas de gloria. Montevidéu: Associacion Uruguaya de Futbol, 1990.

JORNAL El Pais – Julho de 1930.

MARTINEZ MORENO, Carlos. “El mundial del 30” in 100 años de Fútbol. Montevideo: Editores Reunidos, 1970.

RIMET, Jules. FÚTBOL. La Copa del Mundo. Barcelona: Editorial Juventud, 1955.

  TOMLINSON Alan, YOUNG Cristopher org. National identity and global sports events: culture, politics, and Spetacle in the Olympics and the football world cup. New York: SUNY, 2006.

                                                                       

Alvaro Vicente do Cabo